sexta-feira, 2 de outubro de 2015

As entranhas dos morros


Imagem da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil Betânia, na Boa Vista,  em Teutônia/RS.
Vista a partir do Morro da Capivara.



A pacata Boa Vista Fundos/Teutônia/RS – Brasil, incrustada entre morros e vales, parece um torrão qualquer no contexto da sua abundante vegetação. A exuberância das plantas revela a fertilidade do solo, que, num compasso de tartaruga, foi conquistada à plantação e criação. As gerações de colonizadores, de cinco a sete, extraia o fruto da terra à sua subsistência (conforme as necessidades de época e morador).
O solo, com sua efetiva ocupação, revelou sua diversidade e uma riqueza ímpar. As encostas, das elevações da Linha Capivara, Catarina e Germana (ambas localizadas em Teutônia/RS), revelaram sua excepcionalidade de saibro. Este, na sua diversidade, aflora ao longo de estradas e lavouras, quando chega-se ao subsolo. Alguma aração ou campina, a todo instante, descobrem faces deste manancial, que, de forma esporádica ao longo de décadas, viu-se extraído para aterros de caminhos e pátios. A improvisada pavimentação facilitava caminhadas e tração animal no interior das propriedades minifundiárias. As saibreiras, em cantos e recantos de estradas, viram-se instaladas, que tornaram-se fornecedoras de matéria-prima.
As municipalidades, de Estrela/RS e de Teutônia/RS, cedo descobriram os potenciais de saibro, quando partiu-se à extração mecânica. Um batalhão de máquinas, num aparente depósito ou comboio em trabalho, movimentava cargas e mais cargas, quando o produto via-se elevado aos quatro quadrantes da circunvizinhança. Inúmeros aterros, de moradias e sociedades, possuem “fragmentos da localidade”, que ostentam “centelhas do sagrado solo”. Várias saibreiras, entre outras, surgiram em propriedades, no que, como exemplo podemos citar os de Annildo Birkheuer, Annilda Strate Lang, Délio Bayer, Elmo Schäefer, Erno Petry, Raimundo Bayer, Selvino Tiggemann...
Magníficas reservas escondem-se nas encostas em meio ao mato verde, quando, nalgum futuro, acabarão ceifadas. Inúmeras áreas erodidas, no desleixo e ganância, revelam o descaso do pós-extração, quando evitou-se a tarefa de cobrir o cenário, com alguma argila ou húmus, com vistas de regenerar o lugar. A mãe natureza, numa “paciência de Jô”, vem levando décadas para reintegrar o ambiente, quando unicamente ficam esparsos sinais e reminiscências desse tesouro natural.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p.03, edição 42
05 de outubro de 2005

Crédito da imagem:
http://olhares.uol.com.br/morros-de-teutonia-foto2560152.html


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