quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A História da Comunidade Evangélica Bethânia


Pesquisar a trajetória desta Comunidade Evangélica de Confissão Luterana não é tarefa fácil (devido à escassez de fontes históricas). Os colonos não tiveram a praxe de registrar sua história. Os livros de atas, dos primórdios da Comunidade, acabaram extraviados no período do Estado Novo (1937-1945). Os governantes consideravam o material escrito em língua alemã como suspeito de propaganda nazi-fascista.
A história da Comunidade, localizada no atual município de Teutônia /RS, inicia com a migração de membros evangélicos, em 1862, à Colônia Teutônia. Esta foi uma colonização particular efetuada por prósperos comerciantes de Porto Alegre. Eles tinham o objetivo da especulação imobiliária. Organizaram a “Empresa Colonizadora Carlos Schilling, Lothar de La Rue, Jacob Rech, Guilherme Kopp & Companhia”, que se encarregou de abrir picadas (estradas) na mata, medir as terras em lotes, comercializar os prazos coloniais... 
Abriram um total de vinte localidades (na época denominadas picadas) e dividiram as terras em seiscentos prazos coloniais (lotes). A colônia, na época, incluía as Picadas de Boa Vista (“Boa Sorte”) e Catarina (homenagem a Katharina Dockhorn Lang); as terras das atuais localidades da Capivara, Boa Vista, Boa Vista do Meio e Boa Vista Fundos. Esta área foi ocupada a partir de 1868; afluíram colonos teuto-brasileiros provenientes da região da Colônia Alemã de São Leopoldo (de descendência, na sua maioria, de imigrantes da região do Hunsrück/Reno).
Destacaram-se nesta ocupação, conforme o Livro Colônia Teutônia da sociedade colonizadora, os patriarcas: Joseph Hagemann, Johannes Born, August Wessel, Wilhelm Hachmann, Wilhelm Schonhorst, Julius Baumgarten, Franz Staggemeier, Leonhard Fucks, Abraham Bohnenberger, Rudolph Wehmeier, Peter Schneider, Adam Fensterseifer, Adolph Eggers, Friedrich Kussler, Jacob Lang, Jacob Dockhorn, Peter Hatje, Heinrich Dammann, Nicolaus Nielsen, Claus Dammann, Heinrich Hatje, Wilhelm Jung...
Os membros começaram a mobilizar-se, por volta de 1873, para constituir uma comunidade religiosa. Gottfried Borchardt e Heinrich Sommer, em 01 de março de 1874, adquiriram da companhia colonizadora um terreno de cinco mil braças quadradas. Este localizado no lote número dezenove para à Comunidade Evangélica da Boa Vista, com a finalidade de construir escola e igreja protestante. O espaço do atual Cemitério Evangélico da Boa Vista, que servira à formação do cemitério e, a partir de 1875, acrescia escola comunitária. O prédio foi utilizado à ministração dos primeiros cultos e deu origem à posterior escola comunitária (atual Escola Municipal Bento Gonçalves).
Os membros inicialmente foram atendidos pelo pastor westfaliano Friedrich Kleingünther. Este, de 1865 a 1873, vinha de Porto Alegre (duas vezes por ano) para atender os evangélicos luteranos da Colônia Teutônia. Outros religiosos foram Ferdinand Häuser atendeu de 1873 a 1888; assumiu, em seguida, o médico, professor, regente e pseudo-pastor Henrique Beckmann (1888-1911 – avô materno de Ernesto Geisel/Presidente da República). Seguiram-se Karl Sick (1911-1914), Gustav Schreiner (1914-1916), Ferdinand Mater (1916-1926), Jonathan Stribel (1926-1931), Hugo Erich Wilhelm Ziebarth (1931-1965), Arno Wartschow (1965-1980), Martin Backhouse (l981-1983), Nelson Wahlbrinck (1983-1985) e Yedo Brandenburg. Pastores substitutos foram Kasten (de fevereio a setembro de 1930), Hahn (maio/1937) e Walter Schäffer (outubro/1958 e maior/1964).
O constante afluxo de colonos, com o avanço da colonização, tornou a Comunidade vigorosa e com o desejo de obter a autonomia. Os colonos membros, em decorrência, fundaram em 16 de janeiro de 1892 a Comunidade Bethânia, que, no mesmo ano, construiu o atual templo num terreno adquirido do casal Leonard e Carlotta Fucks. A torre foi edificada em 1938, quando também se procedeu à inauguração do sino. A denominação de Bethânia refere-se à Vila Bethânia, perto de Jerusalém, onde moravam Marta, Maria e Lázaro, como também lembra uma vila do lado oriental do Jordão, onde João Batista batizara.
Comunidade inicialmente contratara os seus pastores, pois não estivera ligada ao Sínodos Rio-grandense, isto é, constituía-se numa comunidade livre. O pastor Ziebarth encaminhou os membros no sentido para que se filiassem ao Sínodo. A Comunidade a partir daí passou a pertencer à Paróquia Teutônia Sul, com sede em Canabarro. Em 1985, foi criado o segundo pastorado na Paróquia Evangélica Teutônia Sul, quando foi construída uma casa pastoral em Languiru, este pároco atende também a Comunidade Bethânia.
Estão ligadas a Comunidade as Ordens Auxiliadoras das Senhoras Evangélicas da Boa Vista, Boa Vista Fundos e Capivara. A OASE de Boa Vista foi fundada em 1946, quando também criou-se o coro. A OASE de Boa Vista Fundos foi fundada em 1981, e, de Capivara em 1989. Os encontros das senhoras são realizados mensalmente e em datas festivas; visa-se cultivar o canto e a integração dos membros. A OASE de Boa Vista possui o seu Lar Evangélico, construído em 1960, que se constitui no local das reuniões e festas. Os jovens possuem Juventude Evangélica, fundada em 1981, na Boa Vista Fundos. Tenta-se, pelo pastor Yedo, criar outro grupo na Capivara. Bethânia possui seu centro comunitário, que, inaugurado em 14 de janeiro de 1990, serve como ginásio esportivo, galpão de festas, local de bailes, ensaio dos corais e reuniões.
A Comunidade possui 175 cotas, que dá um total aproximados de 200 famílias e envolve umas 800 pessoas. A diretoria atual é Guiomar Dickel, Silácio Brust e Egon Bayer. Há dificuldades relacionadas com os problemas financeiros, a manutenção e administração e o êxodo rural (leva membros a migrarem aos centros urbanos com o consequente desligamento). Os membros que se empenham na Comunidade sentem-se gratificados. São membros fiéis e dedicados a sua Comunidade e Igreja, pois identificam-se com a IECLB e a têm como um legado dos seus antepassados.


(Fonte: Guido Lang, Anuário Evangélico, Ano 1992, pág. 118-119).

Nenhum comentário:

Postar um comentário