quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A importância dos registros pastorais


Os religiosos, padres e pastores, precisam fazer apontamentos das suas atividades pastorais. Estes registram para as comunidades, os batismos, casamentos e óbitos, que, num primeiro momento, assemelham-se a um amontoado de datas e nomes. Os estudos criteriosos, num segundo passo, revelam preciosos subsídios históricos, que são primordiais para conhecer a evolução comunitária, resgatar elementos da identidade histórico – cultural e reaver elementos da genealogia.
A população colonial não possuía o hábito de registrar sua história, que, no máximo, incorria nos perigos dos equívocos da tradição oral. Os moradores rurais mantiveram-se preocupadíssimos com as atividades agropecuárias, que lhes asseguravam e ofereciam dignidade e sobrevivência. Outras atividades produtivas, junto às criações e plantações, constituíam-se nalgum trabalho da indústria artesanal, que pudesse exprimir nalguma especialização e vocação artesanal assim como complementar os rendimentos. A prática da leitura e atividades literárias esporadicamente ganharam algum espaço, quando lia-se (almanaques, anuários e jornais) e escrevia-se alguma correspondência. Os esporádicos registros, com a passagem dos anos e gerações, acabaram extraviados e perdidos. Muitas comunidades interioranas praticamente não possuem registros da evolução histórica, porque apontamentos e atas das entidades culturais - recreativas e famílias, igualmente acabaram desaparecendo e perecendo em meio à mentalidade progressista e renovadora.
As recentes pesquisas históricas, dentro da abordagem da História das Mentalidades, ganham destaque e expressam o estudo dos grupos minoritários que, por exemplo, podem ser colonos, presidiários, prostitutas, sindicalistas, etc. Os micro-historiadores, estudiosos de assuntos aparentemente insignificantes da história, englobam-se nesta linha de pesquisa, quando ampliam e aprofundam os conhecimentos e informações de comunidades (religiosas e rurais) e grupos minoritários. Estes, juntamente com os genealogistas, recorrem à correspondência, diários, entrevistas, escrituras, registros pastorais, relatos, para encontrarem fontes e subsídios históricos, que possam elucidar e enriquecer as pesquisas. Os registros pastorais, devido à escassez de fontes primárias, ganham importância, pois as anotações de batismos, casamentos e óbitos acabam sendo estudadas minuciosamente.
Os livros de registros comunitários encontram-se geralmente nas comunidades religiosas, aos quais os genealogistas e micro-historiadores recorrem. Os estudiosos e pesquisadores passam a ler e anotar os dados que relacionam-se as datas dos ofícios, locais dos eventos, nome e paternidade dos envolvidos, testemunhas dos acontecimentos, observações diversas (como exemplo: data de imigração, números de filhos, nome da esposa, participação na vida comunitária), etc. Os dados e informações, analisados e listados, no seu conjunto, oferecem valiosos subsídios, que acabam espelhando a realidade comunitária e familiar. Os estudiosos listam as diversas anotações, que facilitam enormemente a análise e compreensão dos acontecimentos. A preciosidade dos registros amplia-se à medida que os religiosos forem criteriosos nos seus apontamentos. Estes indivíduos, veículos da palavra divina, deveriam receber algumas orientações dos estudiosos, nas quais aprofundassem a clareza e o teor dos seus registros. Apontamentos estes, no futuro ‘’tão valiosos como o ouro e a prata’’, pois complementam e postergam o auxílio pastoral prestado aos membros.
A importância dos registros pastorais, na atualidade, ganha tamanha envergadura e espaço, que passa a existir a preocupação de reuni-los em disquetes e livros. A finalidade é facilitar o acesso dos estudiosos e resguardá-los do extravio. Sínteses e resumos dos dados são elaborados em artigos, que acabam publicados em jornais e revistas, a fim de ampliar os estudos da genealogia e história regional.
Os registros comunitários - pastorais, portanto, são relíquias histórico-comunitárias, guardam e preservam as escassas informações de numerosas comunidades, famílias e grupos sociais. Estes ‘’tesouros escondidos’’ precisam receber a máxima atenção e resguardo, pois não podem ser consumidos pela ação do descuido e do tempo. Os registros precisam ser preenchidos com conhecimentos e zelo, pois amanhã, completarão as informações de documentos e jornais. O conjunto de escritos formam os subsídios históricos que guardarão os nossos momentos históricos e a vida do esquecimento e insignificância. As pesquisas bibliográficas, nestas preciosas fontes, ganham atenção e espaço à medida que as atuais gerações interrogam-se do seu passado e questionam-se do real sentido da vida. Esta trajetória terrena não pode restringir-se ao ‘’consumismo barato’’. Os valores do conhecimento e espírito demostram nossa grandeza espiritual, que supera a mera dimensão terrena e aproxima-nos, através da fé, da grandeza e sabedoria divinas.

(Fonte: Guido Lang, Anuário Evangélico, Ano 1996, pág. 137 e 139)


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