A pesquisa histórica na Igreja
Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) pouco se ocupou com a
contribuição dos pseudopastores (não formados/leigos). Estes tornaram-se
instrumentos da “Palavra do Senhor”, quando ocorreu a carência de religiosos de
formação teológica (nos primórdios da colonização). Gustav Adolf von
Grafen foi uma das ferramentas que teve destacada atuação nos princípios da
Colônia Particular de Teutônia (1858-1908).
Teutônia, em 1871, estava em pleno
florescimento econômico-cultural. Inúmeros pioneiros tinham se instalados
nas quatro e meia léguas quadradas de terras. Estas tinham sido divididas em
seiscentos prazos coloniais e em vinte picadas (localidades). O afluxo de
colonos e o aumento populacional exigiram uma ampliação dos serviços pastorais.
Os primeiros, de forma precária, eram atendidos pelo pastor Johann Friedrich
Wilhelm Kleingüther. Ele, geralmente em duas oportunidades anuais, vinha de
Porto Alegre para atender os fiéis luteranos do Vale do Taquari.
Teutônia, devido à colonização
homogênea por protestantes, tornara-se visita obrigatória. O povoamento tinha
sido um refúgio seguro contra a intransigência religiosa (movida pelo espírito
da Contra-Reforma ainda reinante na Igreja Católica). Kleingüther iniciou o
atendimento pastoral em 1864 e estendeu-o até 1873; repassou-o ao pastor
formado Ferdinand Häuser. O atendimento precário (em função de distâncias e
divergências), da parte dos colonos, levou a auto-nomeação dos cidadãos Gustav
Adolf von Grafen e Heinrich Beckmann. Eles, como pastores leigos, passaram
arregimentar (a partir de 1873) os adeptos luteranos.
A tradição oral e os registros escritos
de comunidades comprovam sua nobre atuação. Grafen ajudou a organizar as
comunidades das Picadas Boa Vista (Betânia), Arroio Seco e Teutônia (Paz). A
atuação paralela, junto com Heinrich Beckmann, inicialmente gerou
divergências/intrigas, que, com a passagem do tempo, foram serenadas.
Procurou-se, a partir dos Livros de
Batismos e Casamentos de Grafen e das Comunidades Betânia e Paz, pesquisar a
trajetória de Grafen. Este era filho de Theodor von Grafen e Maria Henriette
von Saldern. Nasceu em 9 de outubro de 1836 em Halle/Saale. Migrou jovem aos
Estados Unidos da América, quando, conforme Klaus Becker no artigo “A fundação
e os primeiros 30 anos de Teutônia”, tornou-se oficial estadunidense. Lutou
provavelmente na Guerra de Secessão (1860-1865) e ofereceu-se, com a imigração
ao Brasil, posteriormente como missionário e professor aos colonos
teutonienses.
Grafen, em 1888, chegou a ter 670 almas
e 110 famílias em suas comunidades. Migrou, por volta de 1870, à Colônia
Teutônia, quando, na Picada Schmidt (atual Wesfália/RS), iniciou suas
atividades de professor. Casou, em 11 de novembro de 1872, com Catarina Dickel.
O casal teve os filhos Adolf Gustav, Friedrich Wilhelm, Heinrich, Leopoldina,
Julie, Henriette, Rosamunda, Max, Adalina, Marie e Karl. Iniciou o serviço
pastoral em 12 de agosto de 1873, quando batizou seu filho Adolf Gustav;
estendeu-o até 25 de dezembro de 1907, no que concluiu com o batizado da sua
neta Amalie.
O religioso, neste espaço de tempo,
realizou um total de 148 casamentos e 2500 batizados, que ocorreram, além de
Teutônia, pelas Colônias de Brochier, Conventos, Maratá, Estrela e Novo
Paraíso. O trabalho pastoral sobressaiu-se nas Picadas Arroio Seco (Arroio da
Seca/atual Imigrante/RS), Boa Vista e Catharina (atual localidade de Boa Vista
Fundos).
Grafen iniciou os registros com a frase
em latim e alemão: “Sub Ministério Mag. Gustav von Grafen quod die 1°
Juni 1874 ingressus et, seguentes infates baptisadi sunt. Farit Deus est corum
omnium consignata olim reperiatur in libro vitae – Geburts und
Tauf-Register für die evangelischen Gemeinden do pastor Gust. von Grafen –
Colonie Teutônia, Município d’Taquary – Província d’Rio Grande d’Sul – Império
do Brazil”. A tradição oral registra o extravio ou inexistência do Livro de
Óbitos, que priva os estudiosos das genealogias de valiosos dados. Este veio a
falecer em 28 de setembro de 1908 em Teutônia.
Grafen, na atualidade, descansa numa
singela sepultura no Cemitério Evangélico da Paz (Teutônia/RS). Nenhuma
inscrição registra sua destacada atuação pastoral. Este que contribuiu para o
lançamento das bases do luteranismo na região e a fundação, junto com Heinrich
Beckmann, de diversas comunidades. Seu singelo pastorado confirma o fato de que
Deus age, através de cidadãos humildes e forma inimaginável, para difundir,
através do Espírito Santo, a mensagem da concórdia humana.
Autor: Guido Lang, Jornal Evangélico n°4, pág. 02,
dias 15.03 a 04.04.1992.
Pesquisa sobre meu antepassado, trisavo Gustav.
ResponderExcluirSua lápide sempre me chamou a atenção. Lembro de ter lido, em algum lugar, de que ela fora transferida posteriormente de cemitério, estando antes no antigo e abandonado "cemitério da guerra" na várzea do Boa Vista em Teutônia.
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