terça-feira, 23 de junho de 2020

O ATAQUE DOS GAFANHOTOS

A imagem pode conter: planta, grama, flor, atividades ao ar livre, natureza e água

Guido Lang

A memória comunitária mantém viva os acontecimentos ligados ao ataque de gafanhotos que, em forma de nuvens, atacaram o Sul do Brasil. A voracidade do inseto de imediato salientava-se e os vegetais acabavam devorados num ritmo assustador. O avanço do ortóptero constituía-se numa realidade comum até a década de 40 do século XX e, aos olhos da atualidade, descrevia uma cena inimaginável. Teutônia não se viu privada de insetos saltadores que, como consequência, descreviam um quadro de devastação e fome. Animais e homens, após a partida, deparavam-se com a "terra arrasada". 
A colônia de Teutônia, nos anos de 1906 e 1948, viveu uma tragédia incomum que ligou-se ao ataque do gafanhoto-de-praga (Schistocerca paranaensis). A agricultura e pastoreio viu-se devastada, quando os potreiros acabavam digeridos pela praga. O avanço dos insetos descrevia uma cena ímpar, quando o céu escurecia e o sol desaparecia em função da quantidade de invasores. O zunido, em meio à invasão, parecia ensurdecedor, quando afluíam nuvens da praga. Os seres vivos maiores, nestes instantes, procuravam refugiar-se nos seus esconderijos porque temiam as pernas ásperas (responsáveis por sensações repugnantes na pele). Os caminhantes descuidosos, apanhados de surpresa numa nuvem de gafanhotos, necessitaram deslocar-se de ré com vistas de não serem atingidos e feridos na sua visão. 
O gafanhoto constituía-se, nas suas características, num inseto de antenas curtas, mantinha órgãos auditivos situados lateralmente na base do abdômen, possuía tarsos triarticulados, revelava-se ovapositor curto... O tamanho, no período adulto, podia medir até 6,5 centímetros de comprimento. A coloração apresentava-se num castanho-avermelhado. O par de pernas posterior apresentava-se muito forte, longo e provido de farpas. Os indivíduos adultos chegavam a voar e deslocavam-se em grandes grupos. As nuvens, numa situação catastrófica, chegavam a depredar plantações inteiras. O número de espécies são variáveis e continuam a habitar diversos climas e continentes. O gafanhoto-de-praga, no Brasil Meridional, era o mais comum quando, com alguma frequência, atacava a região. 
Os comentários populares, através de conversas informais, mantém viva as histórias das catástrofes que abateram-se nas zonas agrícolas. A fome do inseto parecia insaciável, porque desde o amanhecer até o anoitecer, viviam comendo. Parava unicamente na medida da ausência da alimentação. As folhagens, de um modo especial, pareciam "uma sobremesa predileta", na qual comiam até os talos. O solo, após o ataque, revelava-se uma terra destruída no qual carecia-se de qualquer verde. A cena apresentava-se como o de um desastre ecológico, no qual sobrou muitíssimo pouco para contar a história. A voracidade era tamanha, que até chegavam a digerir as cascas das árvores das espécies cítricas (bergamoteiras e limoeiros). Os animais, principalmente cavalos e gado, ficavam sem opção de alimentação, pois consumiu-se as gramíneas. Algum cereal armazenado ou feno estocado poderia, neste dias dramáticos, revelar-se salvação contra a completa ausência de víveres. 
A colonada, dentro das acentuadas limitações, procurava oferecer algum combate, que surtia escassos efeitos. As alternativas principais constituíam-se nas queimadas de vegetais que reduziam a quantidade de indivíduos e a fumaça que espantava centenas de milhares de invasores. O volume de insetos porém, parecia infindável, no qual fazia pouca diferença a eliminação de uma boa parte deles. O emprego de lança-chamas e construção de fossas-armadilhas (para os insetos jovens) eram outras tentativas de combate. A guerra parecia sempre perdida, quando nem adiantava com lona de pano, proteger quaisquer culturas. O bicharedo entrava em qualquer buraquinho. Entrava e comia a totalidade das plantas. As chuvas, de maneria geral, inibiam o avanço da praga quando os desastres se acentuavam. A colocação de ovos tornava-se uma realidade quando, em alguns dias, advinha a proliferação da espécie. 
Os ventos levavam e traziam a praga para os diversos rincões, quando então os morros sumiam da vista panorâmica. Os órgãos públicos, através da municipalidade estrelense, procuravam auxiliar no combate que, até o advento da pulverização química, parecia desperdício de recursos e tempo. Alguns esporádicos agricultores, corajosos na iniciativa, procuravam fabricar venenos caseiros à base de folhas de cinamomo. Combatiam os insetos com panos amarrados em ripas, que batiam rente ao solo. A maioria da colonada unicamente tivera o desgosto de apreciar o flagelo, que acentuava as preocupações com a subsistência familiar. As opções viáveis após o desastre, consistiam em replantar algumas culturais anuais, no qual o feijão e o milho assumiam o cerne das preocupações. 
As invasões de gafanhotos extinguiram-se com as pulverizações áreas, que minaram a área de proliferação acentuada no deserto da Patagônia/Argentina. Encerrou-se, desta forma, um capítulo desastroso que tamanhos prejuízos causou durante décadas no meio rural. 
As jovens gerações não conseguem fazer a mínima ideia daqueles desastres, que eram um terror no meio colonial. Os relatos, no entanto, continuam vivos na memória comunitária, quando os moradores viram-se repentinamente com a destruição e miséria. Os gafanhotos foram uma problemática num determinado contexto sócio-econômico, quando "os ventos da inovação científico-tecnológica" ceifaram aqueles dias tenebrosos. A sociedade, na atualidade, possui outros dilemas que nalgum dia a semelhança dos insetos serão mera história. Estes, entre outros muitos, relacionam-se a massiva produção de lixo, poluição acentuada do arroio Boa Vista, diminuição da fertilidade dos solos... Precisa-se encontrar alternativas às problemáticas que, como outra praga, custam a chegar em determinados momentos e situações. 

* Fonte: Jornal O Informativo de Teutônia, página 04, seção "Histórias Coloniais - Parte 42", de 14 de fevereiro de 1996. Autor: Guido Lang

* Postagem: Júlio César Lang

* PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998).

OS PRIMEIROS MOTOCICLOS



Guido Lang

Os motociclos (motos) foram importados nos primórdios dos anos sessenta pelas colônias teutonienses. A marca Jawa, originária da Tchecoslováquia (atuais República Tcheca e Eslováquia), era a grande novidade tecnológica nas estradas de chão batido, que iam conhecendo uma revolução nos transportes.
A introdução de automóveis, caminhões e motociclos foi suplantando o tradicional transporte equino, que tinha cumprido sua função histórica. Unicamente os colonos mais afortunados podiam dar-se o luxo e o privilégio de adquirir os primeiros veículos automotores, que eram vistos como símbolos de modernização e progresso. Os esporádicos proprietários eram muitíssimo admirados e invejados em função do status econômico, porque poucos davam-se o direito de investir uma pequena fortuna pessoal na compra de uma motocicleta.
Os primeiros acidentes também tomaram forma “nestes cavalos sobre rodas”, que corriam e exigiam equilíbrio. As habilidades na direção necessitavam de prática, no que os potreiros eram os ambientes propícios para exercitar os exames preliminares de direção. 
Os motociclistas, cedo ou tarde, envolviam-se em acidentes, pois não faltavam areia, barro, buracos ou pedregulhos “para levar uns bons tombos”.
A indumentária de proteção era desconhecida para os motoristas. Capacete, luvas, roupas de couro, foram ignorados até pelas normas elementares de trânsito. Unicamente a baixa velocidade evitou maiores tragédias que pudessem ter roubado vidas humanas. A precariedade das estradas impedia o desenvolvimento de maiores velocidades, que, no máximo, chegavam aos 60 km horários. O transporte de caroneiros e mercadorias, em função do peso, eram também empecilhos para corridas mais velozes.
Um motociclista, num belo dia, resolveu passear com sua amada esposa. O passeio foi até a vila próxima, pois o casal almejava apresentar o veículo recém adquirido. Os amigos, conhecidos e vizinhos admiravam e falavam sobre os recém motorizados. O piloto, com o maior orgulho e sem muita habilidade na direção, passeou pelo vilarejo e sua senhora “estufava o peito e empinava o nariz”. A caroneira, “num imenso grau”, nem se segurou e, numa distração, voou do motociclo e sentou-se em meio a estrada da vila. O esposo passou por um buraco e o assento escapou do traseiro da mulher. Os pedestres encheram-se de comentários e gargalhadas porque “o querer mostrar-se é uma virtude dos imbecis”.
A humildade e a simplicidade precisam ser cultivadas em todos os nossos atos diários.

* Fonte: Disponível no livro "OS COLONIZADORES DA COLÔNIA TEUTÔNIA: COLETÂNEA DE TEXTOS", de Guido Lang.

* Postagem: Júlio César Lang.

* PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998).

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quarta-feira, 10 de junho de 2020

PRÉDIO DA LOJA MAÇÔNICA "LUZ DE TEUTÔNIA" EM GLÜCK-AUF (BAIRRO CANABARRO - TEUTÔNIA/RS)


O prédio localizava-se ao lado do cemitério evangélico. A maçonaria está difundida em todas as grandes cidades do Brasil, dos Estados Unidos e principalmente da Europa. No Bairro Boa Vista (Teutônia/RS), também havia uma sede maçônica, chamada de “Rosa de Teutônia” (distinta da loja de Canabarro, denominada de "Luz de Teutônia"). Ano da foto: 1912. Segundo fontes locais, os prédios posteriormente foram desmontados e suas pedras aproveitadas em outras construções nos bairros.

* Fonte: Disponível no livro "OS COLONIZADORES DA COLÔNIA TEUTÔNIA: COLETÂNEA DE TEXTOS", de Guido Lang.

* Crédito da imagem: Guido Lang.

* Postagem: Júlio César Lang.

* PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998).

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terça-feira, 9 de junho de 2020

EVOLUÇÃO DAS LINHAS DE LEITE


Guido Lang

As localidades, a partir da década de trinta, conheceram um serviço rural, que passou a redimensionar a atividade produtiva e a vida social de inúmeras comunidades interioranas. O trabalho de escoamento de leite tomou impulso ao implantar-se contínuas melhorias de locomoção e transporte. O volume da produção, em substituição ao outrora mercado da nata, exigiu inovações que fizeram-se ao longo das décadas. Uma casta de novos ricos aflorou com a produção leiteira, enquanto a massa produtora de leite não acumulou maiores divisas financeiras; os interioranos, como de praxe, conseguiram poucos recursos advindos de uma penosa labuta.
As primeiras linhas de leite, curiosamente, começaram mediante o transporte equino. Algumas latas eram amarradas na sela dos animais. Os recipientes eram enchidos num ponto comum e em seguida, de carroça, eram escoados em direção aos laticínios. A vantagem desse transporte era relacionado ao fácil acesso, pois quaisquer becos de chão batido eram alcançáveis. Os caminhos da roça eram percorridos com a finalidade de escoar algumas dezenas de litros. Os transportadores, desrespeitando as intempéries e costumeiramente acompanhados de alguma cachorrada, tratavam de fazer o penoso serviço. Não acumulavam, porém maiores dividendos com a labuta. Faziam, no entanto, boas amizades e relações sociais no contexto da colonada.
Os carroceiros de leite foram a segunda etapa do processo produtivo. Com um conjunto de quatro a seis animais (burros ou bois) iam juntando o produto na picada. Um maior número de produtores exigiu uma ampliação dos volumes carregados, assim o transporte equino tornava-se antieconômico. Algum leiteiro, tendo de dez a vinte latas na carroça, tratava de apanhar e juntar o produto, e “o negócio da comercialização d’água” podia correr solto. A exclusão social tomava-se uma realidade devido a descoberta de falcatruas. O carregador, em média, levava meio dia para percorrer o percurso de meia dúzia de quilômetros, que estendiam-se da sua casa até a “nataria”. Este, igualmente, não acumulou nada de expressivo com o serviço que mal e mal deu para o sustento familiar: alguma criação e plantação complementava as exigências de sobrevivência. 
O caminhão leiteiro se tornou a terceira empreitada, no qual podia-se carregar alguns milhares de litros e percorrer diversas dezenas de quilômetros. Os leiteiros começaram a ostentar uma expressão econômica e social destacada, ganharam dinheiro, fama e influência. Estes tornaram-se o elo entre produtores e empresas, pois, além de levar o leite, tratavam de trazer mercadorias. O transporte de rações e produtos diversos passava pelo veículo automotor, abrindo assim uma espécie de transportadora rural. Os dividendos financeiros, desta forma, que afluíam de diversos meios, puderam oferecer um bom nível de vida: uma residência confortável, um bom carro, renovação periódica do caminhão, compra de novas linhas de leite eram possibilidades.
O leiteiro e sua família eram figuras chaves nas festas familiares de confirmação e casamento. Ele, costumeiramente, era um dos primeiros convidados, pois atendia aos diversos moradores da comuna. O seu caminhão de leite, em costumeiras oportunidades, parecia mais uma linha de ônibus, do que um escoador da produção colonial. As caronas de produtores, diante da ausência de linhas de ônibus ou o desejo de não custear as passagens, eram corriqueiras e a cabine era muitíssimo disputada. Algumas senhoras, esposas de produtores, até adquiriram fama, porque, com extrema frequência, utilizavam-se do serviço; algumas tinham a preferência de sentar próximo ao motorista-proprietário, e os boatos de casos amorosos tomavam vulto.
Os caminhões-tanque são a recente inovação, pois primam pela eficiência e higiene do carregamento. Eles são frutos das inovações mercadológicas, porque o mercado busca a racionalização de custos diante dos desafios da concorrência e da integração econômica. Estes precisam escrever sua epopeia do escoamento de leite, pois, à semelhanças do transporte equino, carreteiro de bois e caminhão de leite, inscreveram sua saga no contexto colonial. As linhas de leite, portanto, tiveram expressiva importância, pois foram fatores de uma redimensão das atividades produtivas da lavoura minifundiária de subsistência, como também razão de inúmeras reminiscências de acontecimentos rurais.

* Fonte: Disponível no livro "OS COLONIZADORES DA COLÔNIA TEUTÔNIA: COLETÂNEA DE TEXTOS", de Guido Lang.

* Crédito da imagem: Rudolfo Geib, morador da Boa Vista Fundos/Teutônia/RS, transportando a produção de leite até a Boa Vista, na fábrica de manteiga "Dahmer & Cia", onde o produto era desnatado. Anos de 1940 (Gentileza - Rudolfo Geib).

* Postagem: Júlio César Lang.

* PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998).

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segunda-feira, 8 de junho de 2020

A INTRODUÇÃO DA REDE ELÉTRICA


Guido Lang

A localidade de Boa Vista Fundos (Teutônia/RS), em 1965-1966, conheceu a introdução de uma nova rede elétrica. Os moradores sem energia e com interesse em integrar a nova linha auxiliaram na construção do melhoramento. Um mutirão, à base do trato verbal e serviço prestado por dias trabalhados, tomou possível o barateamento da rede comunitária, que veio revolucionar a vivência comunitária. Os colonos associados, mesmo assim, necessitaram desembolsar uma boa soma monetária, que possibilitou custear a melhoria. A instalação da luz elétrica, em diversas residências, veio a sepultar progressivamente velhos hábitos, além disso os moradores passaram a ter uma vida noturna mais intensa. A revolução, de imediato, veio abolir as tradicionais lamparinas de querosene que, há décadas, iluminavam as moradias. A fuligem, em decorrência dessa iluminação, era uma marca comum nas paredes das residências, reforçada a ação do fogão a lenha. Eventuais incêndios, em função de acidentes com os artefatos, acabaram diminuídos no meio rural, pois a iluminação elétrica diminuía estes riscos.
Os moradores das colônias, antes do advento da luz elétrica, tinham poucos hábitos noturnos. O lema era de aproveitar ao máximo as horas ensolaradas. O ciclo da vida parecia caminhar paralelo à sucessão dos dias e das noites, sendo que os espaços diurnos eram destinados à labuta e os noturnos, ao repouso. As famílias, de maneira geral, iam “dormir com as galinhas”, pois não se tinham pretensões de labutar à noite. Os horários, como 20 a 22 horas, eram os momentos de recolhimento, porque um bom e tranquilo sono era compreendido como altamente saudável. A labuta, com os primeiros raios solares, era retomada. Havia o lema de “quem cedo madruga, Deus ajuda”.
As pessoas, sobretudo os casais, aproveitavam o alvorecer e o cair do dia para os diálogos, que tratavam dos acontecimentos comunitários e do planejamento rural. Os filhos, a partir da cama, podiam inteirar-se das conversas que se sucediam ao redor da rodada matinal do chimarrão. Somente os rebentos maiores entravam na roda das conversas e do chimarrão, enquanto os menores, no caso de madrugar, recebiam um colo e podiam servir-se posteriormente. As famílias, dessa forma, encontravam um maior horário de diálogo, que era sublime para a boa convivência familiar. Os divórcios e separações no meio rural eram casos raríssimos que, na eventualidade, originavam um “estrondo comunitário”. Os casais, neste modelo de vida, detinham maior espaço de convivência e curtição, e parecia haver uma maior integração afetiva. O contato com a natureza e a vida livre parecia acirrar os desejos dos instintos, o que podia resultar numa profícua prole.
As dificuldades maiores decorriam unicamente do inverno, quando as noites eram excessivamente longas. Diversas pessoas “cansavam da cama”, quando a escuridão prolongava o repouso. O ambiente escuro e frio inibia o madrugar, por isso a solução era ter paciência com a situação. Os dias chuvosos eram também uma problemática, pois a criançada ousava correr na umidade. As mães, às vezes, ficavam atordoadas com as bagunças, quando agitavam-se tremendamente as moradias. A alternativa consistia em levar a filharada até os galpões, onde podiam brincar no espaço das ferramentas, no estábulo, no paiol... Os pais cuidavam dos reparos, que se relacionavam a ferramentas, instalação, roupas, assim como construção de caixa de abelhas, confecção de cabos e vassouras, cuidados com animais...
A introdução da luz elétrica trouxe progressivas mudanças de hábitos e valores de vida, quando a convivência familiar passou a estender-se noite a dentro. Os princípios do consumismo e do materialismo passaram a concentrar as atenções e, lentamente, diversos aparelhos elétricos acabaram sendo adquiridos. Uma vontade acirrada de comprar aparelhagem tecnológica tomou corpo, portanto passou-se também a ter dificuldades de caixa. Os dividendos gerados eram canalizados para o custeio mensal da taxa de iluminação, o que gerou uma dependência financeira. Os excedentes monetários, progressivamente, foram canalizados ao consumo familiar, deixando-se de empregar no sistema de melhoramentos da produção agrícola. Os moradores passaram a absorver princípios consumistas, e a “filosofia de pão-duro” passou a perder expressão. A agitação, a correria e o tempo ganharam importância, quando, nas novas gerações, assimilaram inúmeros modelos e valores citadinos. A energia possibilitou o acesso ao mundo e com ela suplantou-se parte da pacata vida rural.

* Fonte: Disponível no livro "OS COLONIZADORES DA COLÔNIA TEUTÔNIA: COLETÂNEA DE TEXTOS", de Guido Lang.

* Crédito da imagem: Conceicao Aparecida Trentin (https://br.pinterest.com/pin/352828952034898853/)

* Postagem: Júlio César Lang.

* PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998).

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terça-feira, 2 de junho de 2020

TRANSPORTE À ESTRELA/RS


Guido Lang

Jacob Veeck com seu “caminhão ônibus”. Fazia linha uma vez por semana (quintas-feiras) à Estrela. O trajeto era Languiru, Canabarro, Posses, São Jacó, Estrela/RS. Não havia rodoviária e a parada era no Hotel Sipmann em Estrela/RS. O veículo tinha 21 cavalos de força e um eixo de força com 10 cavalos, carregava 13 passageiros e levava 4 dias para chegar a Panambi/RS. As estradas eram precárias; viajava muito pelos campos com diversos atoleiros. O pessoal é Willibaldo Veeck (guri), Jacó Veeck (motorista), Paulina Veeck, Alma Veeck e Otto Dickel. Sem informações quanto ao ano em que a foto foi tirada.

*Texto extraído dos livros “COLÔNIA TEUTÔNIA: HISTÓRIA E CRÔNICA (1858-1908)" e "OS COLONIZADORES DA COLÔNIA TEUTÔNIA", de GUIDO LANG.

* PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998).

* Postagem: Júlio César Lang.

* Crédito da imagem: Gentileza - Raimundo Bayer da Boa Vista Fundos/Teutônia/RS.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

AS FASES DA COLONIZAÇÃO DE TEUTÔNIA/RS


Guido Lang

O processo de ocupação ocorreu em três etapas: o primeiro período ocorreu entre os anos de 1862 a 1868, quando foram colonizadas as picadas situadas ao sul da Colônia Teutônia, isto é, as terras situadas à margem esquerda do Arroio Boa Vista. Constituía-se na área mais plana, formada pelas picadas Hermann, Glück-auf, Nove Colônias, Posses, Catarina e Boa Vista. Colonizou-se, neste período, somente as picadas de Hermann, Glück-auf e Boa Vista. Destacaram-se neste empreendimento de colonização os colonos teuto-brasileiros ou imigrantes alemães que, inicialmente, tentaram estabelecer-se na área da antiga Colônia Alemã de São Leopoldo. Estes foram atraídos pela propaganda da fertilidade das terras (solo massapê — muito valorizado antes do advento dos adubos químicos), assim como pela informação da boa administração da colônia e na tentativa de fazer uma colonização, principalmente, com evangélicos luteranos (que sentiam-se perseguidos com os acontecimentos dos Mucker e o espírito da Contra-Reforma com a chegada dos jesuítas). Estes colonos iniciaram propriamente a colonização, ao contrário do que querem fazer algumas bibliografias tradicionais. Verificou-se nesta ocupação, uma colonização mista, pois afluíram teuto-brasileiros e imigrantes das mais variadas procedências. Instalaram-se nos lotes, que tiveram uma extensão de uma a duas colônias (100.000 a 200.000 b2).
A segunda fase ultrapassou o Arroio Boa Vista, isto é, abrangeu as terras situadas a sua margem direita. Foram ocupadas as picadas Frank, Welp, Clara, Schmidt e Neuhaus (atual Teutônia Várzea) assim como Posses, Nove Colônias e parte da Catarina (lotes nº 1 a 10) da margem esquerda. A ocupação ocorreu a partir de 1868 a 1875, quando a influência dos colonos teuto-brasileiros das velhas colônias foi menor. Predominaram os colonos westfalianos, que tinham imigrado a partir de 1868. Posses foi uma exceção, pois foi forte a influência luso-brasileira e africana (tinha existido, provavelmente, um quilombo próximo à área, por isso a presença acentuada). A comercialização e ocupação destes lotes foi rápida, isto é, em menos de uma década vendeu-se toda a área. A característica dos prazos é que ficaram menores (média de 100.000 b2) e as terras começaram a ficar acidentadas (devido à presença de morros testemunhos em Clara, Schmidt, Harmonia, Teutônia e as encostas ou cuestas do Planalto Meridional). A extensão das picadas (linhas) igualmente reduziu-se e estas localizavam-se no centro da Colônia Teutônia. 
A última etapa ocorreu no espaço compreendido de 1876 a 1885, quando foram desbravadas as picadas do norte da colônia. A área engloba os terrenos acidentados das encostas do planalto, que dificultaram a agricultura (favorecem na atualidade a instalação de aviários, devido ao clima ameno). Foram colonizadas as picadas: Moltke, Köln, Berlim, Huch ou Krupp, Bismarck, Arroio Secco, Frederico Guilherme, Horst e Silveira Martins. Predominou uma colonização homogênea de colonos westfalianos, que tiveram inicialmente, sérios obstáculos em meio aos morros, para alcançar a prosperidade. O tamanho dos prazos reduziu-se ainda mais (média de 40 a 60.000 b2), assim como das picadas (de 10 a 20 lotes de terras). A área abrange atualmente, a parte norte do município de Teutônia/RS e sul de Imigrante/RS. 
Teutônia foi colonizada, portanto, num espaço de três décadas, nas quais predominaram os colonos provenientes da Westfália, seguidos dos pioneiros das velhas colônias. 

*Texto extraído do livro “COLÔNIA TEUTÔNIA (1858-1908)", de GUIDO LANG

* É PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998). 

* Postagem: Júlio César Lang

* Crédito da imagem: Moradores da Picada Schmidt/Westfália/RS jogando baralho. Aparece, terceiro jogador da direita para esquerda; Karl Heinrich Strate - Ano 1890 (Foto: Gentileza - Guido Lang).