Um acontecimento colonial, praticamente desconhecido pelas novas
gerações, liga-se a disparada de animais e o trabalho de manejo dos bichos, que
sucedia-se no interior da propriedade colonial. A disparada ocorria
esporadicamente com a domesticação de bichos xucros, que eram treinados nos
encargos da canga e tração física. As corridas poderiam advir de sustos ou
temores, que originavam-se da cachorrada, insetos, visitas... Os animais,
diante do imprevisto, poderiam correr com carretas e carroças entre pedras e
peraus, quando causavam danos materiais e acidentes de percurso. Alguns bichos
disparados poderiam incorrer na frequência do ato, quando, de certa forma,
“viam-se estragados”.
Os condutores, muitas vezes com a família, incorriam em perigos, quando
todo cuidado era pouco. Procurava-se desvencilhar os animais, cuidar dos
imprevistos, conduzi-los de frente... A tradição, como na Boa Vista
Fundos/Teutônia/RS - Brasil, registra acidentes fatais com carroças, quando os
moradores Reinaldo Strate e Raimundo Bayer tiveram desfechos trágicos.
Cavalos e mulas, de montaria ou tração, poderiam correr, quando
cavaleiros poderiam ficar presos nos estribos. Algumas charretes, condução dos
mais afortunados e sofisticados colonos, poderiam conhecer velocidade diante de
bicho novo na condução. A recomendação, aos filhos, era abrir caminho livre
diante da corrida de animais, que porventura disparavam pelas esburacadas e
estritas estradas gerais das localidades. Algum morador, conhecedor do manejo
dos animais, auxiliava na tarefa de pará-los, quando, com facão ou madeira em
punho, fazia-os acalmar-se. Uma voz, em forma de chamado, dizia “oh! oh! oh!”,
que costumeiramente parecia compreendido pelos irracionais. Uma artimanha, aos
animais violentos, era exagerar no peso da tração, no que não dava para correr
muito.
O manejo mantinha-se um passatempo nas colônias, quando pais e rebentos,
no ínterim da labuta da lavoura, tratavam de domesticar os bichos desde tenra
idade. Alguns marchantes treinavam-os com vistas de negociá-los, pois animal
domado possui um preço maior no comércio. Os animais do campo, sobretudo da
raça dos zebus, eram os mais temidos, pois eram imprevisíveis e nunca
totalmente domesticados. Negócios de animais era rotina colonial e
acentuavam-se na época do plantio. Os bois, cavalos e mulas prestavam uma
serventia ímpar nas colônias, quando arrastavam materiais, montarias levavam
condutores, veículos conduziam gente e mercadoria.
O sucesso agrícola e material, em boa dose, advinha da qualidade dos
bichos existentes na propriedade, quando a força animal e braçal era a energia
do trabalho. O advento dos veículos automotores veio sepultar a epopeia rural,
quando animais e humanos faziam uma simbiose produtiva comum nas propriedades
minifundiárias.
Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03, edição 45
29 de outubro de 2005
29 de outubro de 2005
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