sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A domesticação dos animais nas colônias teuto-brasileiras


Um acontecimento colonial, praticamente desconhecido pelas novas gerações, liga-se a disparada de animais e o trabalho de manejo dos bichos, que sucedia-se no interior da propriedade colonial. A disparada ocorria esporadicamente com a domesticação de bichos xucros, que eram treinados nos encargos da canga e tração física. As corridas poderiam advir de sustos ou temores, que originavam-se da cachorrada, insetos, visitas... Os animais, diante do imprevisto, poderiam correr com carretas e carroças entre pedras e peraus, quando causavam danos materiais e acidentes de percurso. Alguns bichos disparados poderiam incorrer na frequência do ato, quando, de certa forma, “viam-se estragados”.
Os condutores, muitas vezes com a família, incorriam em perigos, quando todo cuidado era pouco. Procurava-se desvencilhar os animais, cuidar dos imprevistos, conduzi-los de frente... A tradição, como na Boa Vista Fundos/Teutônia/RS - Brasil, registra acidentes fatais com carroças, quando os moradores Reinaldo Strate e Raimundo Bayer tiveram desfechos trágicos.
Cavalos e mulas, de montaria ou tração, poderiam correr, quando cavaleiros poderiam ficar presos nos estribos. Algumas charretes, condução dos mais afortunados e sofisticados colonos, poderiam conhecer velocidade diante de bicho novo na condução. A recomendação, aos filhos, era abrir caminho livre diante da corrida de animais, que porventura disparavam pelas esburacadas e estritas estradas gerais das localidades. Algum morador, conhecedor do manejo dos animais, auxiliava na tarefa de pará-los, quando, com facão ou madeira em punho, fazia-os acalmar-se. Uma voz, em forma de chamado, dizia “oh! oh! oh!”, que costumeiramente parecia compreendido pelos irracionais. Uma artimanha, aos animais violentos, era exagerar no peso da tração, no que não dava para correr muito.
O manejo mantinha-se um passatempo nas colônias, quando pais e rebentos, no ínterim da labuta da lavoura, tratavam de domesticar os bichos desde tenra idade. Alguns marchantes treinavam-os com vistas de negociá-los, pois animal domado possui um preço maior no comércio. Os animais do campo, sobretudo da raça dos zebus, eram os mais temidos, pois eram imprevisíveis e nunca totalmente domesticados. Negócios de animais era rotina colonial e acentuavam-se na época do plantio. Os bois, cavalos e mulas prestavam uma serventia ímpar nas colônias, quando arrastavam materiais, montarias levavam condutores, veículos conduziam gente e mercadoria.
O sucesso agrícola e material, em boa dose, advinha da qualidade dos bichos existentes na propriedade, quando a força animal e braçal era a energia do trabalho. O advento dos veículos automotores veio sepultar a epopeia rural, quando animais e humanos faziam uma simbiose produtiva comum nas propriedades minifundiárias.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03, edição 45
29 de outubro de 2005

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