Pesquisar a trajetória desta Comunidade Evangélica de Confissão Luterana
não é tarefa fácil (devido à escassez de fontes históricas). Os colonos não
tiveram a praxe de registrar sua história. Os livros de atas, dos primórdios da
Comunidade, acabaram extraviados no período do Estado Novo (1937-1945). Os
governantes consideravam o material escrito em língua alemã como suspeito de
propaganda nazi-fascista.
A história da Comunidade, localizada no atual município de Teutônia /RS,
inicia com a migração de membros evangélicos, em 1862, à Colônia Teutônia. Esta
foi uma colonização particular efetuada por prósperos comerciantes de Porto
Alegre. Eles tinham o objetivo da especulação imobiliária. Organizaram a
“Empresa Colonizadora Carlos Schilling, Lothar de La Rue, Jacob Rech, Guilherme
Kopp & Companhia”, que se encarregou de abrir picadas (estradas) na mata,
medir as terras em lotes, comercializar os prazos coloniais...
Abriram um total de vinte localidades (na época denominadas picadas) e
dividiram as terras em seiscentos prazos coloniais (lotes). A colônia, na
época, incluía as Picadas de Boa Vista (“Boa Sorte”) e Catarina (homenagem a
Katharina Dockhorn Lang); as terras das atuais localidades da Capivara, Boa
Vista, Boa Vista do Meio e Boa Vista Fundos. Esta área foi ocupada a partir de
1868; afluíram colonos teuto-brasileiros provenientes da região da Colônia
Alemã de São Leopoldo (de descendência, na sua maioria, de imigrantes da região
do Hunsrück/Reno).
Destacaram-se nesta ocupação, conforme o Livro Colônia Teutônia da
sociedade colonizadora, os patriarcas: Joseph Hagemann, Johannes Born, August
Wessel, Wilhelm Hachmann, Wilhelm Schonhorst, Julius Baumgarten, Franz
Staggemeier, Leonhard Fucks, Abraham Bohnenberger, Rudolph Wehmeier, Peter
Schneider, Adam Fensterseifer, Adolph Eggers, Friedrich Kussler, Jacob Lang,
Jacob Dockhorn, Peter Hatje, Heinrich Dammann, Nicolaus Nielsen, Claus Dammann,
Heinrich Hatje, Wilhelm Jung...
Os membros começaram a mobilizar-se, por volta de 1873, para constituir
uma comunidade religiosa. Gottfried Borchardt e Heinrich Sommer, em 01 de março
de 1874, adquiriram da companhia colonizadora um terreno de cinco mil braças
quadradas. Este localizado no lote número dezenove para à Comunidade Evangélica
da Boa Vista, com a finalidade de construir escola e igreja protestante. O
espaço do atual Cemitério Evangélico da Boa Vista, que servira à formação do
cemitério e, a partir de 1875, acrescia escola comunitária. O prédio foi
utilizado à ministração dos primeiros cultos e deu origem à posterior escola
comunitária (atual Escola Municipal Bento Gonçalves).
Os membros inicialmente foram atendidos pelo pastor westfaliano
Friedrich Kleingünther. Este, de 1865 a 1873, vinha de Porto Alegre (duas vezes
por ano) para atender os evangélicos luteranos da Colônia Teutônia. Outros
religiosos foram Ferdinand Häuser atendeu de 1873 a 1888; assumiu, em seguida,
o médico, professor, regente e pseudo-pastor Henrique Beckmann (1888-1911 – avô
materno de Ernesto Geisel/Presidente da República). Seguiram-se Karl Sick (1911-1914), Gustav Schreiner
(1914-1916), Ferdinand Mater (1916-1926), Jonathan Stribel (1926-1931), Hugo
Erich Wilhelm Ziebarth (1931-1965), Arno Wartschow (1965-1980), Martin
Backhouse (l981-1983), Nelson Wahlbrinck (1983-1985) e Yedo Brandenburg. Pastores substitutos foram Kasten (de fevereio a setembro de 1930), Hahn
(maio/1937) e Walter Schäffer (outubro/1958 e maior/1964).
O constante afluxo de colonos, com o avanço da colonização, tornou a
Comunidade vigorosa e com o desejo de obter a autonomia. Os colonos membros, em
decorrência, fundaram em 16 de janeiro de 1892 a Comunidade Bethânia, que, no
mesmo ano, construiu o atual templo num terreno adquirido do casal Leonard e
Carlotta Fucks. A torre foi edificada em 1938, quando também se procedeu à
inauguração do sino. A denominação de Bethânia refere-se à Vila Bethânia, perto
de Jerusalém, onde moravam Marta, Maria e Lázaro, como também lembra uma vila
do lado oriental do Jordão, onde João Batista batizara.
Comunidade inicialmente contratara os seus pastores, pois não estivera
ligada ao Sínodos Rio-grandense, isto é, constituía-se numa comunidade livre. O
pastor Ziebarth encaminhou os membros no sentido para que se filiassem ao
Sínodo. A Comunidade a partir daí passou a pertencer à Paróquia Teutônia Sul,
com sede em Canabarro. Em 1985, foi criado o segundo pastorado na Paróquia Evangélica
Teutônia Sul, quando foi construída uma casa pastoral em Languiru, este pároco
atende também a Comunidade Bethânia.
Estão ligadas a Comunidade as Ordens Auxiliadoras das Senhoras
Evangélicas da Boa Vista, Boa Vista Fundos e Capivara. A OASE de Boa Vista foi
fundada em 1946, quando também criou-se o coro. A OASE de Boa Vista Fundos foi
fundada em 1981, e, de Capivara em 1989. Os encontros das senhoras são
realizados mensalmente e em datas festivas; visa-se cultivar o canto e a
integração dos membros. A OASE de Boa Vista possui o seu Lar Evangélico,
construído em 1960, que se constitui no local das reuniões e festas. Os jovens
possuem Juventude Evangélica, fundada em 1981, na Boa Vista Fundos. Tenta-se,
pelo pastor Yedo, criar outro grupo na Capivara. Bethânia possui seu centro
comunitário, que, inaugurado em 14 de janeiro de 1990, serve como ginásio
esportivo, galpão de festas, local de bailes, ensaio dos corais e reuniões.
A Comunidade possui 175 cotas, que dá um total aproximados de 200
famílias e envolve umas 800 pessoas. A diretoria atual é Guiomar Dickel,
Silácio Brust e Egon Bayer. Há dificuldades relacionadas com os problemas
financeiros, a manutenção e administração e o êxodo rural (leva membros a
migrarem aos centros urbanos com o consequente desligamento). Os membros que se
empenham na Comunidade sentem-se gratificados. São membros fiéis e dedicados a
sua Comunidade e Igreja, pois identificam-se com a IECLB e a têm como um legado
dos seus antepassados.
(Fonte: Guido Lang, Anuário Evangélico, Ano 1992, pág.
118-119).