sábado, 31 de outubro de 2015

Um clarão de luz


A memória colonial ostenta uma explicação com relação à origem do nome de Estrela. A municipalidade, de 1876-1983, foi município mãe de Teutônia e Westfália, quando era muito conhecida pelo espírito de trabalho e índices de alfabetização. Inúmeros teutonienses, com relação a naturalidade, nasceram nesta próspera comunidade, quando, no período escolar e seio familiar, escutavam o relato.
Os europeus, na sua empreitada de europeizar o continente americano e extrair riquezas, foram incursionando interior adentro. Estes, de maneira geral, valiam-se dos nativos catequizados ou civilizados com razão de orientá-los nos campos e florestas. Os rios eram os caminhos naturais, que levavam e traziam os desbravadores e caçadores (de índios e metais).
A tradição oral narra-nos que um punhado de europeus, num belo dia, lançou-se aos rios da bacia do Jacuí. Estes, por dias ou semanas, defrontaram-se com os rigores das chuvas de inverno, quando a carência de sol e excesso de umidade importunava as pacatas almas. Estes pioneiros, na subida do curso do Taquari, defrontaram-se com céu nublado, quando um barqueiro, numa altura próxima a atual localização de Estrela – margem direita, visualizou um clarão de luz. Este, no instinto de alegria e satisfação, teria gritado: “– Olha lá! Uma Estrela.” Os companheiros advieram para presenciar o fato, quando decorreu a denominação. A curiosidade persiste do feixe de luz ter sido o reflexo do espelho da água do Taquari, ou mesmo, ser um astro de luz própria.
O município, com o aluxo posterior dos imigrantes, tornou-se um orgulho de progresso e trabalho, quando tornou-se referência de colonização em terras americanas. Possui uma denominação sui generis, quando comparado aos nomes de origem indígena ou religiosa; uma luz que irá brilhar por muitos séculos para muitas gerações.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03
17 de setembro de 2005

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A domesticação dos animais nas colônias teuto-brasileiras


Um acontecimento colonial, praticamente desconhecido pelas novas gerações, liga-se a disparada de animais e o trabalho de manejo dos bichos, que sucedia-se no interior da propriedade colonial. A disparada ocorria esporadicamente com a domesticação de bichos xucros, que eram treinados nos encargos da canga e tração física. As corridas poderiam advir de sustos ou temores, que originavam-se da cachorrada, insetos, visitas... Os animais, diante do imprevisto, poderiam correr com carretas e carroças entre pedras e peraus, quando causavam danos materiais e acidentes de percurso. Alguns bichos disparados poderiam incorrer na frequência do ato, quando, de certa forma, “viam-se estragados”.
Os condutores, muitas vezes com a família, incorriam em perigos, quando todo cuidado era pouco. Procurava-se desvencilhar os animais, cuidar dos imprevistos, conduzi-los de frente... A tradição, como na Boa Vista Fundos/Teutônia/RS - Brasil, registra acidentes fatais com carroças, quando os moradores Reinaldo Strate e Raimundo Bayer tiveram desfechos trágicos.
Cavalos e mulas, de montaria ou tração, poderiam correr, quando cavaleiros poderiam ficar presos nos estribos. Algumas charretes, condução dos mais afortunados e sofisticados colonos, poderiam conhecer velocidade diante de bicho novo na condução. A recomendação, aos filhos, era abrir caminho livre diante da corrida de animais, que porventura disparavam pelas esburacadas e estritas estradas gerais das localidades. Algum morador, conhecedor do manejo dos animais, auxiliava na tarefa de pará-los, quando, com facão ou madeira em punho, fazia-os acalmar-se. Uma voz, em forma de chamado, dizia “oh! oh! oh!”, que costumeiramente parecia compreendido pelos irracionais. Uma artimanha, aos animais violentos, era exagerar no peso da tração, no que não dava para correr muito.
O manejo mantinha-se um passatempo nas colônias, quando pais e rebentos, no ínterim da labuta da lavoura, tratavam de domesticar os bichos desde tenra idade. Alguns marchantes treinavam-os com vistas de negociá-los, pois animal domado possui um preço maior no comércio. Os animais do campo, sobretudo da raça dos zebus, eram os mais temidos, pois eram imprevisíveis e nunca totalmente domesticados. Negócios de animais era rotina colonial e acentuavam-se na época do plantio. Os bois, cavalos e mulas prestavam uma serventia ímpar nas colônias, quando arrastavam materiais, montarias levavam condutores, veículos conduziam gente e mercadoria.
O sucesso agrícola e material, em boa dose, advinha da qualidade dos bichos existentes na propriedade, quando a força animal e braçal era a energia do trabalho. O advento dos veículos automotores veio sepultar a epopeia rural, quando animais e humanos faziam uma simbiose produtiva comum nas propriedades minifundiárias.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03, edição 45
29 de outubro de 2005

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O Vale das Lágrimas


Os ancestrais, com a carência de recursos médicos e “perdidos na floresta subtropical”, conheceram dias ásperos e cruéis nas colônias teutonienses (localizadas no Estado do Rio Grande do Sul). A morte, através da diversidade de acidentes e moléstias, mantinha “um flagelo e sonho dantesco” nas famílias dos pioneiros. Pouquíssimos clãs safavam-se dos infortúnios, que diariamente “rondavam a lei da sobrevivência”. Os cemitérios, sobretudo na ala juvenil, são testemunho de uma época, quando encontra-se sobrenomes de todas os clãs.
A cólera, febre amarela, gripe espanhola, peste bubônica, pneumonia, tifo, varíola, como exemplos comuns, foram temidas epidemias, que alastravam-se nos cantos e recantos das picadas (linhas). Estas, como “flagelo demoníaco”, ceifavam valiosas vidas, quando desconhecia-se a ação dos microorganismos. Os micróbios atacavam de forma mortal diante da limitada eficiência de chás e ervas ou recursos dos remédios caseiros. As famílias careciam de dinheiro para custear médicos, que eram raros e residiam longe.
Algum morador ou viajante, da cidade à colônia, poderia introduzir germes de moléstias, que, com limitadas condições higiênicas e permanente convivência com criações conheceram a fácil proliferação. As epidemias e mortes causavam “pavores comunitários” quando famílias, com algum contágio dum membro, conviviam com o aparente abandono e isolamento. Alguma patologia, em horas, difundia aos quatro quadrantes, quando os temores viram-se divulgados e instalados no meio comunitário.
As localidades, entre 1862 e 1930, tornaram-se “um vale de prantos” quando o choro, lamentações, lágrimas... sucediam-se nas propriedades coloniais. A morte era um “fantasma permanente”, quando pais enterravam o mais valioso nas suas vidas – a própria carne através dos seus filhos. Os flagelos, em diversas almas amarguradas, trouxe desânimo e desesperança, que auxilia a explicar os suicídios. Os escritores de pastores, nos registros de óbitos, parca referencia fazem aos sucedidos cotidianos dos moradores, que expressam as dores do espírito...
A medicina moderna, com campanhas de saúde pública, dedetização, introdução de antibióticos e melhorias de condições higiênicas, reverteu o quadro de flagelo, mas histórias dos ancestrais permanecem vivas dos dias derradeiros da colonização. Queira Deus! Que outros “dias tenebrosos” jamais abatam-se sobre as esbeltas colônias e o vale das lágrimas fique como registro dum passado remoto.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03, edição 43
15 de outubro de 2005

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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Registros de Casamento


Os registros, no anterior da instalação da República (1889), consistiam no manuscrito. O religioso, no ato do casamento (costumeiramente na casa dos pais de um dos noivos), efetuava as cerimônias. O documento, na elaboração, nutria validade civil e religiosa. A República, no fim do padroado, separa os poderes do Estado da ação da Igreja Católica (instituição oficial).
Procurou-se, na função da curiosidade histórica, descrever algum documento protestante. O registro religioso, na Comunidade Zion (na época picadas Franck e Schmidt/atual Westfália/RS), fora oficializado pelo professor, pastor e regente Heinrich Beckmann. O pseudo-pastor, entre 1872 a 1911, mantinha empecilhos de toda ordem na ampliação da confessionalidade (nas disseminadas famílias das linhas).
O documento registra no conteúdo:

“Registro de Casamento de Carlos Henrique Strate com Maria Lisette Schröer. Aos sete dias do mês de junho do ano de mil oitocentos e oitenta e seis (1886), nesta freguesia, me foi apresentado para ser registrado extrato de casamento do nexo seguinte: ‘Extrato do registro dos casamentos do culto Evangélico, existente na freguesia Teutônia, no município de Santo Antônio de Estrela, Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, Império do Brasil, no livro respectivo Vol.1, fls.5, n/2. No ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil oitocentos e oitenta e seis (1886), aos vinte e oito dias (28) do mês de maio, feitas as denunciações sem se descobrir impedimentos, se casarão na Teutônia, conforme os ritos e cerimônias do Culto Evangélico, Carlos Henrique Strate, evangélico, colono da idade de vinte e seis anos (26), nascido em Atter, círculo Osnabrück na Hannover da Prússia e morando na Teutônia, filho legítimo de Carlos Henrique Strate, natural de Leppa Detmold e de sua mulher Maria Elisa Staalkamp, natural do Atter, círculo de Osnabrück na Hannover da Prússia, com Maria Lisette Schröer, evangélica, da idade de vinte e três anos (23), nascida em Ladbergen na Westfália da Prússia e morando na Teutônia, filha legítima de Germano Henrique Schröer (defunto), natural de Ladbergen na Westfália da Prússia e de sua mulher Maria Christina nascida Kohnhorst, natural de Ladbergen na Westfália da Prússia e morando na Teutônia. Foram testemunhas: Henrique Schröer e Ernesto Schröer’. Extraído do próprio original a quem me reporto. Freguesia Teutônia, cinco de junho (5) de 1886. Henrique Beckmann, Pastor do Culto Evangélico”.
O documento continha estampilha de duzentos réis inutilizados na forma da lei. E para constar fins este registro que assino. “Eu, João de Deus Menna Barreto, secretário da Câmara escrevi e assino. Secretaria da Vila de Santo Antônio da Estrela, sete de junho (7) de 1886. João de Deus Menna Marreto – Secretário”.


(Fonte: Guido Lang, O informativo de Teutônia, número 74, dia 28.11.1990, pág. 02).

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terça-feira, 27 de outubro de 2015

A lacuna dos registros


As entidades, disseminadas no interior das linhas, vivem no dilema da falta dos registros anuais. Os acervos, em cadernos de atas e livros caixas, sumiram no ciclo das diretorias. A deficiência, na bibliografia, ocorre na lacuna dos registros. A ocorrência, no banal, inclui agregações esportivas, entes religiosos, sociedades de cantores... A nacionalização, na permuta do idioma (alemão ao português), tem sido apologia e evasiva. A nacionalização (1939) e Segunda Grande Guerra (1939-1945), nas medidas de coação, tem acirrado as desculpas. A charada, na essência, liga-se a honradez e nitidez. As diretorias, no fraquejo dos números (entradas e saídas), cometiam no intento do extravio e sumiço. As crônicas, no empenho de componentes das gestões, esvaneciam nas trocas das administrações. Parcas associações, na perfeição, orgulham-se das totalidades dos legados e métodos. As pessoas, nos subterfúgios, justificam-se das dúbias atuações e correções. A afeição, no dinheiro, induz nos desacordos e mutações.

Guido Lang
“Fragmentos de Sabedoria”

Crédito da imagem: http://www.agnusdeiloja.com.br/

sábado, 24 de outubro de 2015

As sociedades de cantores


Os imigrantes teutos introduziram sensatos legados. Os herdados, na contemporaneidade, integram a cultura e tradição brasileira. Cita-se, nos modelos, escolas comunitárias, festas de quermesses, entidades de bolão e tiro, prática de enfeitar o pinheirinho de Natal, ninho de Páscoa, entidades de cantores...
Os povoadores, recém-instalados nas picadas (linhas), conviveram perdidos e isolados pelo ente público. A saída, entre dificuldades, versou em descobrir meios de supervivência. Os desbravadores, na maneira particular de organização, aventaram de arquitetar entidades comunitárias (cemitério, escola e igreja). Os clubes de cantores sugiram paulatinamente em alteradas linhas. As agremiações foram maneiras de aglomerar residentes.
Os corais tiveram o objetivo de cultivar a cantoria, aliviar as agruras da conquista da selva, encorajar ânimo (diante do dilema das adversidades, doenças, intempéries...). As encenações, semanais ou quinzenais, convinham como reencontros. Os momentos eram propícios às trocas de exames das fainas e vivências. As ocorrências, no seio da circunvizinhança, eram contadas e pesquisadas.
O objetivo, no explícito dos coros, era o cultivo do canto coral. As origens, na divulgação e recreação dos povoadores, advêm da Europa Central. O objetivo, no genérico, era concorrer ao incremento do nível artístico, cultural e social das identidades, assim como fazer atendimento no serviço de assistência (em momentos fúnebres e religiosos).
Os recursos financeiros eram obtidos através dos subsídios dos membros associados, dividendos de promoções (bailados e festanças), subvenções públicas (municipais)... As despesas pagavam serviços de regência, material de canto, deslocamento de cantores (em apresentações), jantas em banquete de bailes... As apresentações ocorriam em festejos locais, festanças de sociedades coirmãs, enterros, aniversários, ofícios religiosos... A administração e coordenação verificam-se independentes (das entidades da linha). O coro, nas probabilidades, coopera nas demais associações comunitárias (na construção e manutenção de centro comunitário).
Os critérios, na filiação, costumaram ser na conduta exemplar, estar em pleno gozo das liberdades civis, carecer de apresentar débitos nas entidades, possuir idade superior aos catorze anos... O membro cantor precisa apresentar aptidão e interesse em participar no canto, assim como ser abnegado, disciplinado e pontual. O cantor (a) tem a vantagem de aprimorar seu dom musical, aprender e cantar os hinos (pátrios, populares e religiosos), assim como desenvolver aprendizagem das línguas (alemão e português), compartilhar dos eventos das diversas sociedades, expandir círculo de amigos e conhecidos, tornar-se pessoa valorizada...
Os cantores carecem de serem profissionais e desempenham um ofício na própria comunidade: encaram o canto como uma atividade de cultivo e orgulho das tradições. Os coros, no símbolo da agregação, possuem estandartes. As flâmulas acompanham a sociedade nos excepcionais encontros e episódios. A classificação incide entre coros de homens, senhoras e mistos. O canto é praticado em três a quatro vozes.
As dificuldades de sobrevivência estão relacionadas ao êxodo rural, formação de regentes, criação de novos hinos, elevada despesas e desinteresse das novas gerações em continuar na tradição. Os jovens contraíram nova mentalidade. Esta valoriza pouco os valores da cultura local. Os consumismos e passividades verificam-se repassados nos meios de comunicação de massa. O fácil consiste em escutar em vez de cultuar o canto.
A juventude é coagida a abdicar do meio rural, porque seu trabalho significa pouca valorização pelos intermediários; migram aos centros urbanos na procura de formas de sobrevivência e acabam desinteressados (em função de outras maneiras de interesses e recreação). Acrescentam-se as dificuldades de material específico de canto; predomínio dos interesses particulares (em prejuízo, na ausência do retorno monetário, do bem coletivo).
As sociedades sofrerem consequências da Segunda Grande Guerra (1939-1945). O material, em alemão, viu-se assolado no dilema da nacionalização (impressos foram confundidos como promoção política). As melodias e dialetos (em alemão) versaram em serem tolhidas.
As sociedades de cantores, no cerne das linhas, continuam a associar na vida social de inúmeras comunidades. As associações, na cultura das paragens, caminham paralelas as entidades escolares, esportivas e religiosas. A participação, nas diretorias das entidades, advém na qualidade de confiança e prestígio das habilidades intelectuais. A filiação, na instituição, significa ponto de honra à integração na identidade. O coro mantém-se ativo na preservação e valorização das raízes germânicas.  Os denodos comunitários, na atuação de membro e morador, se expressa em consideração e respeito.


(Guido Lang, Anuário Evangélico, Ano 1991, pág. 105 – 106. Texto reescrito.)


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Grafen e Beckmann - Pseudopastores na Colônia Teutônia


Teutônia, localizada a 120 km de Porto Alegre/RS, foi fundada, numa iniciativa particular, pelo comerciante atacadista Carlos Schilling. O empreendedor, em 1858, adquiriu quatro léguas quadradas de terras devolutas, quando, em 1861, constituiu a “Empresa Colonizadora Carlos Schilling, Lothar de la Rue, Jacob Rech e Guilherme Kopp e Companhia”, responsável pela colonização. A ocupação, em 1862, prosperou com a afluência de povoadores protestantes (luteranos), que vieram, sobretudo da Colônia Alemã de São Leopoldo e regiões do Hunsrück, Pomerânia e Wesfália/Prússia. Os colonos, após instalados nos lotes, buscaram conservar estradas/picadas de entrada, constituir campos-santos, edificar escolas/igrejas e formar associações de canto.
O acolhimento pastoral, em 1866, iniciou com Johann Wilhelm Kleingünther. O religioso, a partir de Porto Alegre e em duas ocasiões anuais, fazia atendimento espiritual. O professor Ernst Janfrüchte, de 1869 a 1873, substituía-o nas ausências. O mestre escola tornou-se o primeiro professor da Colônia (em Glück-auf – atual Canabarro/Teutônia/RS), quando movimentou os residentes para edificar, ao lado de Karl Arnt, a escola-igreja. Ferdinand Häuser, em 1873, sucedeu Kleingünther no serviço pastoral e Wilhelm Hasenack (1890-1911) sobreveio depois de Häuser. O afluxo constante de famílias e alta taxa de natalidade alargaram os imperativos de ministros formados, que eram “peças raras”. Os habitantes, ante as circunstâncias, apelaram aos educadores leigos Gustav Adolf von Grafen e Heinrich Beckmann. Os dois, no passar do tempo, acabaram destacados como prelados ativos.
O místico Grafen, conforme Livro de Batismos e Casamentos (1873-1907), atuou em diversas picadas. As linhas, entre outras, sobressaíram-se Boa Vista, Katharina (Catarina), Schmidt, Arroio da Seca, Berlim, Bismarck, Novo Paraíso, Estrela, Conventos (Lajeado) e Colônias de Brochier e Maratá. Este, no absoluto, realizou 148 consórcios e 2.500 batizados; os dados, em funerais, completaram no provável extraviado. A biografia registra: nasceu em 09/10/1836 em Halle/Saale, como filho de Theodor e Maria Henriette von Salden; imigrou aos Estados Unidos da América, lutou na Guerra da Secessão (1860-1865) e chegou ao posto de oficial; transferiu-se por volta de1868 ao Brasil; instalou-se inicialmente em Lomba Grande/Colônia Alemã de São Leopoldo. Casou em 11/11/1872 com Catharina Dickel. Migrou em 1870 para Colônia Teutônia; iniciou em 12/08/1873 no pastorado com o batizado do próprio filho Adolf Gustav. Faleceu em 28/09/1908 em Teutônia/Estrela/RS e foi sepultado no Cemitério da Picada Neuhaus/Teutônia Várzea e depois transferido ao cemitério da Picada Welp.
Heinrich Beckmann, conforme os livros de batismos, casamentos e óbitos das Comunidades Evangélicas Bethânia/Boa Vista e Sião/Frank, iniciou no pastorado no batismo de Heinrich Friedrich Wessel. Exercia primeiramente o ofício de agricultor, professor e regente (coro). A deficiência de pastores formados, na demasia de afazeres de Kleingünther e Häuser, levou a substituí-los. Beckmann trabalhou nos locais: Colônia Teutônia, Santos Pinto, Santa Manuela, São Pedro de Maratá, Poço das Antas e sedes de Estrela e Taquari. O profissional, entre 1884 e 1911, atingiu um total de 402 enterros, 422 casamentos e 3.074 batizados. As citações biográficas narram nascimento em 12/12/1852 em Gaste/Osnabrück/Hannover (Alemanha), filho de Kaspar Heinrich Beckmann e Dorothea Juliane Johanne Surkamp. Imigrou em 1871 no Brasil com a família; casou em 10/02/1880 com Catharina Wilhelmine Wiebusch; instalou-se como povoador na Boa Vista e tornou-se professor da Escola Comunitária da Boa Vista (atual Escola Municipal Bento Gonçalves) e regente do Coral Frohsinn (Boa Vista). Faleceu em 04/07/1911 e descansa (sem maiores menções ao serviço) no Cemitério Evangélico da Boa Vista. Beckmann, como curiosidade histórica, tornou-se avô de Ernesto Geisel (Presidente da República); a filha Lydia casou-se com Augusto Geisel (pai do mandatário).
Os pastores Grafen e Beckmann careceram de achar barreiras geográficas no Vale do Taquari; deslocaram-se, em lombo de cavalo e em meio aos atoleiros das estradas/trilhas de mato (picadas), na razão de objetivar atendimento, consolo espiritual e satisfazer bradado do Senhor. O trabalho pastoral tornou-se auxílio imprescindível aos precursores. Os pioneiros viviam isolados na selva; confrontaram-se com achaques, feras, insetos, répteis... Os ministros foram ferramentas da “Palavra do Senhor”, lançando os alicerces, a partir da Colônia Teutônia, de diversas comunidades livres (no exemplo da Boa Vista, Franck, Arroio da Seca, Novo Paraíso, Estrela, Brochier, Maratá...). As respectivas ligaram-se ao Sínodo Riograndense e, na união dos quatro sínodos, tornaram-se partes da IECLB. Grafen e Beckmann, como pacatos colonos-professores, foram avultadas lideranças, por meio do Espírito Santo, como guias e portadores divinos. Eles souberam cumprir com zelo a árdua tarefa de difundir a mensagem cristã e difundir os germes de várias entidades evangélico-luteranas.

(Guido Lang, Anuário Evangélico - Ano 1995, pág.119 a 121).

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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Tecklenburgueses vem para Teutônia/RS


Teckelenburgueses vem para Teutônia. Pastor Kleingünther escreve de Porto Alegre no dia 2 de agosto de 1868, para o Pastor Hunsche, Linha Nova, o seguinte: 'Na sexta-feira, há 14 dias, vieram aqui os tão longamente esperados agricultores. São 41 pessoas juntamente com o professor Behne ao lado de sua esposa e seus dois filhos. O quão intensamente eu me alegrara ao poder receber e oferecer a minha mão de irmão a estas pessoas tão queridas, da inesquecível Tecklenburg, certamente nem saberia descrever-lhe aqui. Mas, por outro lado, maior ainda foi a alegria deles ao ver a minha presença. Em meio ao maior júbilo eles me estendiam a mão, e um bom tempo passou até que todos novamente se acalmaram de toda esta euforia. E, o perguntar, os cumprimentos e a admiração não cessaram. Somente com a chegada da noite toda esta confusão teve o seu fim. Na manhã seguinte, pude observar as mesmas cenas do dia anterior, tive que permanecer entre eles o dia todo. Foi, no entanto, na manhã de domingo que tive a grande alegria; pude ver a todos nos bancos da igreja e, à tarde, os homens vieram ter comigo na sala de minha casa. Também realizei o casamento de dois pares de noivos que em Hamburgo não encontraram tempo para isto. Na terça de manhã eles navegaram para Taquari e de lá foram para a colônia particular de Teutônia. Eu não possuo cartas de lá, mas sei que foram felizes em sua chegada e foram bem recebidos. Espero que, apesar das dificuldades e amargores encontrados no início desta jornada, estas queridas pessoas possam ter sido felizes e também espero que possam ter tido um futuro sem problemas'.
Numa outra carta do dia 8 de dezembro de 1868, dizia: 'Nossos agricultores de Teutônia estão bem. Há três semanas eu fui visitá-los. Espero que estas queridas pessoas continuem, no futuro, a gostar da mesma maneira do Brasil, caso contrário, jamais poderei retornar a Tecklenburg, pois os agricultores de lá estão sentidos comigo por lhes ter tirado estas pessoas. Mas, isto não me interessa muito, o que importa mesmo é pensar no bem-estar deles'.
Carta do dia 2 de fevereiro de 1869: 'Dos agricultores de Teutônia eu recebo somente notícias boas. Eles estão se sentindo bem aqui no Brasil. Isto me alegra, uma vez que na Alemanha dizem que eu os forcei a virem para o Brasil. Mas esta não é a verdade. Somente narrei e mostrei-lhes as relações de amizade que existem e deixei-os livres para escolherem. Tenho hoje ainda a surpresa em saber que estes agricultores estão melhor aqui do que em sua velha Pátria. Disso também falam – o Professor Behne assim o diz. Apesar das dificuldades aqui encontradas, estas pessoas reconhecem que suas vidas aqui são mais fáceis. Um deles escreve para a Alemanha: 'Vocês dizem que nós aqui entramos na escravidão, no entanto, eu saí da escravidão ao deixar a Alemanha, pois o Senhor Heuermann é um, verdadeiro escravo. Aqui sou dono de minha vida'. Assim podemos ler em cartas. Tudo isto faz com que o meu relacionamento com os tecklenburger e perante os pastores seja mais ameno'.
Numa carta do mesmo ano, 1869, escreve: 'Após longa mas bem sucedida viagem, vieram 35 tecklenburger ao Brasil. Eu os recebi e, à tarde, convidei-os para virem na minha casa para que pudessem contar as novidades da Pátria. Foi uma conversa muito, muito longa. Os agricultores me deram trabalho, mas também proporcionaram-me grandes alegrias. No domingo, todos vieram à igreja. Tanto a mim como a eles fez bem poder ouvir a Palavra de Deus frente a tantos amigos e conhecidos. Por este motivo fico triste em saber que na Teutônia eles ainda não têm igreja e ainda terão que esperar tanto tempo por seus cultos'.
Na carta do dia 11 de outubro de 1869: 'Ontem, há 8 dias, mais 27 tecklenburger vieram para Teutônia. Mais 97 estão a caminho e serão por nós esperados ainda neste mês. Dessa maneira a Teutônia já está uma verdadeira colônia. Os westfalianos já são elogiados aqui na cidade. Para um tecklenburger como eu, é uma grande satisfação poder ouvir: 'Os seus agricultores são os melhores e mais trabalhadores que aqui já recebermos''.
Dia 9 de dezembro de 1870, ele escreve: 'Estou voltando de uma viagem do Taquari e recebi informações de que os tecklenbuger estão todos bem. Os últimos imigrantes vieram tarde demais, de maneiras que não puderam mais fazer o plantio. Por isso, passaram por grandes dificuldades. O que é irritante é que entre estes últimos imigrantes há que trazem para o professor muitas dificuldades. São preguiçosos e falam mal do Brasil. Umas pessoas assim não progridem, é facilmente entendível'.

(Extraído da Folha Dominical n° 34 de 25.08.1957)

(Livro/Fonte: Guido Lang. Colônia Teutônia – História e Crônica: 1858-1908, São Leopoldo, Sinodal, págs. 50 e 51).


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A importância dos registros pastorais


Os religiosos, padres e pastores, precisam fazer apontamentos das suas atividades pastorais. Estes registram para as comunidades, os batismos, casamentos e óbitos, que, num primeiro momento, assemelham-se a um amontoado de datas e nomes. Os estudos criteriosos, num segundo passo, revelam preciosos subsídios históricos, que são primordiais para conhecer a evolução comunitária, resgatar elementos da identidade histórico – cultural e reaver elementos da genealogia.
A população colonial não possuía o hábito de registrar sua história, que, no máximo, incorria nos perigos dos equívocos da tradição oral. Os moradores rurais mantiveram-se preocupadíssimos com as atividades agropecuárias, que lhes asseguravam e ofereciam dignidade e sobrevivência. Outras atividades produtivas, junto às criações e plantações, constituíam-se nalgum trabalho da indústria artesanal, que pudesse exprimir nalguma especialização e vocação artesanal assim como complementar os rendimentos. A prática da leitura e atividades literárias esporadicamente ganharam algum espaço, quando lia-se (almanaques, anuários e jornais) e escrevia-se alguma correspondência. Os esporádicos registros, com a passagem dos anos e gerações, acabaram extraviados e perdidos. Muitas comunidades interioranas praticamente não possuem registros da evolução histórica, porque apontamentos e atas das entidades culturais - recreativas e famílias, igualmente acabaram desaparecendo e perecendo em meio à mentalidade progressista e renovadora.
As recentes pesquisas históricas, dentro da abordagem da História das Mentalidades, ganham destaque e expressam o estudo dos grupos minoritários que, por exemplo, podem ser colonos, presidiários, prostitutas, sindicalistas, etc. Os micro-historiadores, estudiosos de assuntos aparentemente insignificantes da história, englobam-se nesta linha de pesquisa, quando ampliam e aprofundam os conhecimentos e informações de comunidades (religiosas e rurais) e grupos minoritários. Estes, juntamente com os genealogistas, recorrem à correspondência, diários, entrevistas, escrituras, registros pastorais, relatos, para encontrarem fontes e subsídios históricos, que possam elucidar e enriquecer as pesquisas. Os registros pastorais, devido à escassez de fontes primárias, ganham importância, pois as anotações de batismos, casamentos e óbitos acabam sendo estudadas minuciosamente.
Os livros de registros comunitários encontram-se geralmente nas comunidades religiosas, aos quais os genealogistas e micro-historiadores recorrem. Os estudiosos e pesquisadores passam a ler e anotar os dados que relacionam-se as datas dos ofícios, locais dos eventos, nome e paternidade dos envolvidos, testemunhas dos acontecimentos, observações diversas (como exemplo: data de imigração, números de filhos, nome da esposa, participação na vida comunitária), etc. Os dados e informações, analisados e listados, no seu conjunto, oferecem valiosos subsídios, que acabam espelhando a realidade comunitária e familiar. Os estudiosos listam as diversas anotações, que facilitam enormemente a análise e compreensão dos acontecimentos. A preciosidade dos registros amplia-se à medida que os religiosos forem criteriosos nos seus apontamentos. Estes indivíduos, veículos da palavra divina, deveriam receber algumas orientações dos estudiosos, nas quais aprofundassem a clareza e o teor dos seus registros. Apontamentos estes, no futuro ‘’tão valiosos como o ouro e a prata’’, pois complementam e postergam o auxílio pastoral prestado aos membros.
A importância dos registros pastorais, na atualidade, ganha tamanha envergadura e espaço, que passa a existir a preocupação de reuni-los em disquetes e livros. A finalidade é facilitar o acesso dos estudiosos e resguardá-los do extravio. Sínteses e resumos dos dados são elaborados em artigos, que acabam publicados em jornais e revistas, a fim de ampliar os estudos da genealogia e história regional.
Os registros comunitários - pastorais, portanto, são relíquias histórico-comunitárias, guardam e preservam as escassas informações de numerosas comunidades, famílias e grupos sociais. Estes ‘’tesouros escondidos’’ precisam receber a máxima atenção e resguardo, pois não podem ser consumidos pela ação do descuido e do tempo. Os registros precisam ser preenchidos com conhecimentos e zelo, pois amanhã, completarão as informações de documentos e jornais. O conjunto de escritos formam os subsídios históricos que guardarão os nossos momentos históricos e a vida do esquecimento e insignificância. As pesquisas bibliográficas, nestas preciosas fontes, ganham atenção e espaço à medida que as atuais gerações interrogam-se do seu passado e questionam-se do real sentido da vida. Esta trajetória terrena não pode restringir-se ao ‘’consumismo barato’’. Os valores do conhecimento e espírito demostram nossa grandeza espiritual, que supera a mera dimensão terrena e aproxima-nos, através da fé, da grandeza e sabedoria divinas.

(Fonte: Guido Lang, Anuário Evangélico, Ano 1996, pág. 137 e 139)


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A História da Comunidade Evangélica Bethânia


Pesquisar a trajetória desta Comunidade Evangélica de Confissão Luterana não é tarefa fácil (devido à escassez de fontes históricas). Os colonos não tiveram a praxe de registrar sua história. Os livros de atas, dos primórdios da Comunidade, acabaram extraviados no período do Estado Novo (1937-1945). Os governantes consideravam o material escrito em língua alemã como suspeito de propaganda nazi-fascista.
A história da Comunidade, localizada no atual município de Teutônia /RS, inicia com a migração de membros evangélicos, em 1862, à Colônia Teutônia. Esta foi uma colonização particular efetuada por prósperos comerciantes de Porto Alegre. Eles tinham o objetivo da especulação imobiliária. Organizaram a “Empresa Colonizadora Carlos Schilling, Lothar de La Rue, Jacob Rech, Guilherme Kopp & Companhia”, que se encarregou de abrir picadas (estradas) na mata, medir as terras em lotes, comercializar os prazos coloniais... 
Abriram um total de vinte localidades (na época denominadas picadas) e dividiram as terras em seiscentos prazos coloniais (lotes). A colônia, na época, incluía as Picadas de Boa Vista (“Boa Sorte”) e Catarina (homenagem a Katharina Dockhorn Lang); as terras das atuais localidades da Capivara, Boa Vista, Boa Vista do Meio e Boa Vista Fundos. Esta área foi ocupada a partir de 1868; afluíram colonos teuto-brasileiros provenientes da região da Colônia Alemã de São Leopoldo (de descendência, na sua maioria, de imigrantes da região do Hunsrück/Reno).
Destacaram-se nesta ocupação, conforme o Livro Colônia Teutônia da sociedade colonizadora, os patriarcas: Joseph Hagemann, Johannes Born, August Wessel, Wilhelm Hachmann, Wilhelm Schonhorst, Julius Baumgarten, Franz Staggemeier, Leonhard Fucks, Abraham Bohnenberger, Rudolph Wehmeier, Peter Schneider, Adam Fensterseifer, Adolph Eggers, Friedrich Kussler, Jacob Lang, Jacob Dockhorn, Peter Hatje, Heinrich Dammann, Nicolaus Nielsen, Claus Dammann, Heinrich Hatje, Wilhelm Jung...
Os membros começaram a mobilizar-se, por volta de 1873, para constituir uma comunidade religiosa. Gottfried Borchardt e Heinrich Sommer, em 01 de março de 1874, adquiriram da companhia colonizadora um terreno de cinco mil braças quadradas. Este localizado no lote número dezenove para à Comunidade Evangélica da Boa Vista, com a finalidade de construir escola e igreja protestante. O espaço do atual Cemitério Evangélico da Boa Vista, que servira à formação do cemitério e, a partir de 1875, acrescia escola comunitária. O prédio foi utilizado à ministração dos primeiros cultos e deu origem à posterior escola comunitária (atual Escola Municipal Bento Gonçalves).
Os membros inicialmente foram atendidos pelo pastor westfaliano Friedrich Kleingünther. Este, de 1865 a 1873, vinha de Porto Alegre (duas vezes por ano) para atender os evangélicos luteranos da Colônia Teutônia. Outros religiosos foram Ferdinand Häuser atendeu de 1873 a 1888; assumiu, em seguida, o médico, professor, regente e pseudo-pastor Henrique Beckmann (1888-1911 – avô materno de Ernesto Geisel/Presidente da República). Seguiram-se Karl Sick (1911-1914), Gustav Schreiner (1914-1916), Ferdinand Mater (1916-1926), Jonathan Stribel (1926-1931), Hugo Erich Wilhelm Ziebarth (1931-1965), Arno Wartschow (1965-1980), Martin Backhouse (l981-1983), Nelson Wahlbrinck (1983-1985) e Yedo Brandenburg. Pastores substitutos foram Kasten (de fevereio a setembro de 1930), Hahn (maio/1937) e Walter Schäffer (outubro/1958 e maior/1964).
O constante afluxo de colonos, com o avanço da colonização, tornou a Comunidade vigorosa e com o desejo de obter a autonomia. Os colonos membros, em decorrência, fundaram em 16 de janeiro de 1892 a Comunidade Bethânia, que, no mesmo ano, construiu o atual templo num terreno adquirido do casal Leonard e Carlotta Fucks. A torre foi edificada em 1938, quando também se procedeu à inauguração do sino. A denominação de Bethânia refere-se à Vila Bethânia, perto de Jerusalém, onde moravam Marta, Maria e Lázaro, como também lembra uma vila do lado oriental do Jordão, onde João Batista batizara.
Comunidade inicialmente contratara os seus pastores, pois não estivera ligada ao Sínodos Rio-grandense, isto é, constituía-se numa comunidade livre. O pastor Ziebarth encaminhou os membros no sentido para que se filiassem ao Sínodo. A Comunidade a partir daí passou a pertencer à Paróquia Teutônia Sul, com sede em Canabarro. Em 1985, foi criado o segundo pastorado na Paróquia Evangélica Teutônia Sul, quando foi construída uma casa pastoral em Languiru, este pároco atende também a Comunidade Bethânia.
Estão ligadas a Comunidade as Ordens Auxiliadoras das Senhoras Evangélicas da Boa Vista, Boa Vista Fundos e Capivara. A OASE de Boa Vista foi fundada em 1946, quando também criou-se o coro. A OASE de Boa Vista Fundos foi fundada em 1981, e, de Capivara em 1989. Os encontros das senhoras são realizados mensalmente e em datas festivas; visa-se cultivar o canto e a integração dos membros. A OASE de Boa Vista possui o seu Lar Evangélico, construído em 1960, que se constitui no local das reuniões e festas. Os jovens possuem Juventude Evangélica, fundada em 1981, na Boa Vista Fundos. Tenta-se, pelo pastor Yedo, criar outro grupo na Capivara. Bethânia possui seu centro comunitário, que, inaugurado em 14 de janeiro de 1990, serve como ginásio esportivo, galpão de festas, local de bailes, ensaio dos corais e reuniões.
A Comunidade possui 175 cotas, que dá um total aproximados de 200 famílias e envolve umas 800 pessoas. A diretoria atual é Guiomar Dickel, Silácio Brust e Egon Bayer. Há dificuldades relacionadas com os problemas financeiros, a manutenção e administração e o êxodo rural (leva membros a migrarem aos centros urbanos com o consequente desligamento). Os membros que se empenham na Comunidade sentem-se gratificados. São membros fiéis e dedicados a sua Comunidade e Igreja, pois identificam-se com a IECLB e a têm como um legado dos seus antepassados.


(Fonte: Guido Lang, Anuário Evangélico, Ano 1992, pág. 118-119).

terça-feira, 13 de outubro de 2015

O Pastorado de Ferdinand Häuser


A Colônia Teutônia teve pastores, que marcaram época na história regional. Destacaram-se pela liderança e influência no meio colonial. Constituíam-se em consultas obrigatórias na proporção de haver problemas familiares e desavenças comunitárias. Cita-se, ao lado de Johann Friedrich Wilhelm Kleingüther, Gustav Adolf von Grafen, Heinrich Beckmann e Wilhelm Hasenack, a figura de Ferdinand Häuser.
Häuser era natural de Herborn/Nassau/Prússia, casou-se com Auguste Nasblech (natural de Bermen/Reno); teve, em Teutônia, os filhos: Lydia (nascida em 21.06.1877), Carl Peter Immanuel (nascido em 01.03.1879), Finalheus (nascido em 18.08.1880), Julius Wille Carl (nascido em 10.06.1882) e Frida Johanna (nascida em 19.05.1884).
A atuação pastoral ostentou-se vasta. Ele, em 08.05.1873, foi destacado pelo pré-sínodo para atuar na Colônia Teutônia. Iniciou, em 11.05.1873, o pastorado em Teutônia.  Batizou, no seu primeiro culto, Heinrich Phillipp Carl Sommer (nascido em 08.01.1873 como filho do colono Ernst Heinrich Wilhelm Sommer e Maria Frederika Elisabetha Hachmann – naturais de Lengerich/Westfália).
Efetuou, conforme Livro de Batismos e Casamentos da Comunidade Evangélica Paz de Teutônia, um total de 2522 batizados e 378 casamentos, que estendiam-se pela região do Vale do Taquari.  Atuou, entre outras principiantes comunidades, em Conventos Vermelho (atual Roca Sales), Santa Clara, Forqueta, Santa Emília, Nova Berlim, Azevedo Castro, São Caetano, Colônia Conde D’Eu, Santo Amaro, Arroio da Seca, Brochier, Maratá, Costa da Serra, Ano Bom, Estrela e Teutônia. Possuía, conforme estatística de Klaus Becker em “A fundação e os primeiros 30 anos de Teutônia”, um total, em 1888, de 285 famílias e aproximados 1900 almas (membros em suas comunidades).
O mérito do pastorado está no fato de ser, como sucessor de Johann Wilhelm Kleingüther, o primeiro pastor formado (instalado na Colônia Teutônia). Atribui-se a ele a fundação, em 01.05.1873, da Comunidade Evangélica de Estrela (atendeu-a até o ano de 1888). Realizou inicialmente os ofícios religiosos em casas de família e escolas comunitárias. O templo da Comunidade Evangélica Paz (Teutônia), em 08.04.1888, foi concluído. Lançou-se a pedra fundamental em 1885.
Häuser, conforme Carlos Hunsche no livro “Pastor Heinrich Wilhelm Hunsche e os Começos da Igreja Evangélica no Sul do Brasil” – pág. 189 -190, foi, em 19 e 20 de maio de 1886, um dos fundadores. Este, junto com o idealizador Pastor Wilhelm Rotermund (1843-1925), do 2° Sínodo Rio-grandense (na reunião sinodal ou pré-sínodo). Ele, juntamente com o presbítero N. Hünther, teriam representado a Comunidade Evangélica Paz. Ela, com as comunidades evangélicas de Santa Maria da Boca do Monte, Santa Cruz, São Sebastião do Caí, Mundo Novo (atual Taquara) e São Leopoldo, foi uma das fundadoras, em São Leopoldo, do novo Sínodo Rio-grandense. Esta entidade reuniria as comunidades de confissão evangélica luterana.
Ferdinand adoeceu e em 01.06.1890, foi sucedido pelo pastor Wilhelm Hasenack. Realizou, em 22.02.1890, sua última atividade pastoral na Costa da Serra/Taquari (matrimônio de Miguel Nunes da Silva e Clorinda Benta da Silva). Retornou à Alemanha (desconhece-se outras informações sobre sua trajetória pastoral na Europa).
Häuser deixou semeadas as “Palavras do Senhor”. Elas encontraram campo fértil e levaram a formação de várias comunidades. Reuniu, junto com Rotermund, forças para criar o Sínodo Rio-grandense, que, com a fusão de outros três sínodos, levou a criação da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Constituiu a Comunidade Evangélica de Estrela, que continua desempenhando a função de difundir a mensagem do Evangelho. Admira, na atualidade, a disposição e energia de Häuser. Este atuou em comunidades tão distantes, quando vivia numa época de precárias estradas e transportes. Constituiu-se em mais uma das fiéis “ovelhas do Senhor”, que desafiaram obstáculos e a própria vida para levar aos distantes rincões de Taquari, as “sementes do Evangelho”. Ferdinand, portanto, mereceria o reconhecimento, pois foi um heroi anônimo (algum nome de rua seria boa lembrança da sua epopeia pastoral).


Fonte: Guido Lang, O Informativo de Teutônia, n° 146, dia 10.06.1992, pág.02.


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O histórico fora


O esporte amador, nos idos de 1950 a 1980, contraía evidência e paixão. As folgas, na distração, alastraram prática. As agremiações, em ressalvas, caíam no conjugado das linhas. Apontadas famílias, na ampla cifra de filhos, poderiam instituir equipes. Os moços, na alta natalidade, sobravam nos times. A memória oral, nas distintas narrações, abriga caso das iniciais transmissões. O Zeno, no bem-conceituado arqueiro (Grêmio Catarinense e Boa Vista), rejeitou fraca bola. O frango, na casualidade, incidiu no acanhado arremesso. O locutor, na rádio (Alto Taquari/Estrela/RS), anunciou: “A bola de couro, no chute fraco, advém na goleira. Agarra Zeno!”. O Zeno, na extraordinária curiosidade, ousara escutar a narração. A lisa bola, na bobeada e escorregada, atravessou goleira. O narrador, no baque, refez urro: “Oba! A bolota decorreu entre pernas do Zeno! Gooool!”. O estrondoso disparate, no histórico fora, transpôs em relatos. A expressão, no “agarra Zeno”, imortalizou-se no desporto colonial. A vida, no ente, consagra artifícios e surpresas.

Guido Lang
“Fragmentos de Sabedoria”

Crédito da imagem: http://bolasdefuteboll.blogspot.com.br/

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

As entranhas dos morros


Imagem da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil Betânia, na Boa Vista,  em Teutônia/RS.
Vista a partir do Morro da Capivara.



A pacata Boa Vista Fundos/Teutônia/RS – Brasil, incrustada entre morros e vales, parece um torrão qualquer no contexto da sua abundante vegetação. A exuberância das plantas revela a fertilidade do solo, que, num compasso de tartaruga, foi conquistada à plantação e criação. As gerações de colonizadores, de cinco a sete, extraia o fruto da terra à sua subsistência (conforme as necessidades de época e morador).
O solo, com sua efetiva ocupação, revelou sua diversidade e uma riqueza ímpar. As encostas, das elevações da Linha Capivara, Catarina e Germana (ambas localizadas em Teutônia/RS), revelaram sua excepcionalidade de saibro. Este, na sua diversidade, aflora ao longo de estradas e lavouras, quando chega-se ao subsolo. Alguma aração ou campina, a todo instante, descobrem faces deste manancial, que, de forma esporádica ao longo de décadas, viu-se extraído para aterros de caminhos e pátios. A improvisada pavimentação facilitava caminhadas e tração animal no interior das propriedades minifundiárias. As saibreiras, em cantos e recantos de estradas, viram-se instaladas, que tornaram-se fornecedoras de matéria-prima.
As municipalidades, de Estrela/RS e de Teutônia/RS, cedo descobriram os potenciais de saibro, quando partiu-se à extração mecânica. Um batalhão de máquinas, num aparente depósito ou comboio em trabalho, movimentava cargas e mais cargas, quando o produto via-se elevado aos quatro quadrantes da circunvizinhança. Inúmeros aterros, de moradias e sociedades, possuem “fragmentos da localidade”, que ostentam “centelhas do sagrado solo”. Várias saibreiras, entre outras, surgiram em propriedades, no que, como exemplo podemos citar os de Annildo Birkheuer, Annilda Strate Lang, Délio Bayer, Elmo Schäefer, Erno Petry, Raimundo Bayer, Selvino Tiggemann...
Magníficas reservas escondem-se nas encostas em meio ao mato verde, quando, nalgum futuro, acabarão ceifadas. Inúmeras áreas erodidas, no desleixo e ganância, revelam o descaso do pós-extração, quando evitou-se a tarefa de cobrir o cenário, com alguma argila ou húmus, com vistas de regenerar o lugar. A mãe natureza, numa “paciência de Jô”, vem levando décadas para reintegrar o ambiente, quando unicamente ficam esparsos sinais e reminiscências desse tesouro natural.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p.03, edição 42
05 de outubro de 2005

Crédito da imagem:
http://olhares.uol.com.br/morros-de-teutonia-foto2560152.html