domingo, 27 de dezembro de 2015

O enigma das benzeduras


A mão invisível, nas leis naturais do Criador, perpassa a imensidão do universo. A fé, nos desígnios divinos, transcorre em assombros e milagres. As benzeduras, na população colonial, incluem-se no rol das obras e mistérios. Os incuráveis, na analogia de milagres, lavraram incompressíveis alívios e saras.
As pessoas, na extensão da confiança, trazem mediação da astúcia. Os mistérios, no parto humano, evadem da compreensão do raciocínio.
As benzeduras, na imigração, acorreram e difundiram-se entre pioneiros e sucessão. As causas, entre múltiplos, ligam-se as amplas distâncias, carência de médicos, falta de recursos financeiros, ineficiência da medicina... As promessas, apesar dos avanços da globalização e tecnologia, induzem na sobrevivência da prática. O sobrenatural, no entendimento de múltiplos, acha-se alheio as avaliações e comprovações da ciência.
As origens, na benzedura, remontam aos povos bárbaros. A conversão, no cristianismo, introduziu seguramente aprendizado. O processo, no provável, ocorreu na Idade Média (476-1453). O método, no meio rural, foi introduzido pelos imigrantes. As estirpes, no interior das linhas, continuam no aderir e requerer préstimos. A evolução, na difusão dos postos de saúde, motiva redução. Os novos, no cunho da ciência e técnica, renegam místicos.
A bênção, na instituição igreja, costuma ser abarcada como iniquidade. Numerosos clérigos, no banal, aferem apatia e ignorância. Os médicos divisam concurso em lucros. Outros, no combate das mazelas da essência, chegam indicar fórmula sobrenatural. Os curandeiros, na discrição, processam apelo às instâncias divinas. Os receios vinculam-se as confusões com instituídas autoridades. A literatura, no diário do exercício, desconhece descrições e estudos.
A benzedura, no exercício dos laicos, consiste em apelar às instâncias da Santíssima Trindade. O Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, no socorro, verificam-se chamados na função de agirem na doença. A prece, na inabalável fé, complementa atuação e decorrência. As alusões, no alento e origem do exercício, ligam-se ao próprio Jesus cristo. Deus Homem, na situação dos milagres, externava na síntese: “A tua fé te curou” (do acharque no Deus Pai).
Os médico-feiticeiros, na execução do ofício, precisam alimentar uma psique clara e forte. A força, na confiança e exemplo, precisa sobrepor-se ao impetrante. O resignado, no fruto, precisa alimentar igual fé (na cura). A descrença, no provável, conduz na ineficiência e perda de tempo. O conveniente, no intervalo de semanas, consiste em fazer três consecutivas apelações/invocações. O fato, na gravidade do mal, liga-se na dezena de procedimentos.
A minudência, na educação, liga-se a prática ou técnica. A tradição oral, no seio das famílias benzedoras, versa na instrução aos sexos opostos. O exemplo dar-se-ia do sexo masculino informar ao feminino e vice-versa. O ensino, entre análogos, brotaria na ineficiência das apelações. A ciência empírica, no conjugado do método, teria abonado tal acepção. O atraente, na manha da ciência, liga-se na transferência de mãe para filho ou pai para filha.
A fama, no curandeiro, difunde-se na paisagem. As linhas, no peculiar da confissão protestante, alimentam afamadas e assentadas benzedores (ras). A conversa informal, no velado, costuma divulgar ações e assombros. A afluência, na dimensão dos efeitos, diminui ou multiplica público. Umas esporádicas ocorrências, na medicina oficial, incorreram nos enigma da cura. O apelo final, no paliativo ou reforço (em final feliz), sucedeu na bênção.
O instituído, na cátedra do dom divino (profissionais leigos), incide na abstinência de requisição de despesas. Os afazeres, no médico-feiticeiro, sobrevêm no serviço voluntário. O dinheiro, no entrelaçado, acertaria na ineficiência das faculdades sobrenaturais. A dádiva divina, no amor ao próximo, perece na cotação financeira. O sarado, na magnitude dos derivados, dispende mimos. O desígnio, no bom grado, repara dispendida energia e tempo.
A população, no interior das linhas, avulta algum dotado. O habitual, no tempo, falece no ofício. Outro ente, no exercício, aparece estabelecido no cargo. A carência, no amparo médico, gradua busca e socorro. Os doentes, na agonia, apelam às alternadas saídas. Os sobrenaturais, na assistência, incluem-se no todo. As finanças, no ônus de dilatados curas, colaboram na cata. Os apelos, no elementar, subsistem em recorrer aos recursos próximos. 
As patologias, no tratado habitual, recaem em asmas, erisipelas, verrugas... As indisposições d´alma e maus olhares somam-se na precisão da ativa e boa bênção. O apropriado, na ativa ação, consiste em conciliar com chás e ervas.
As opiniões, na abstinência ou requisição, divergem sobre emprego dos serviços. A fé, no seio das famílias e pessoas, determina procedimento. Os resultados efetivos, no banal, respaldam-se no ente supremo.
A benzedura, dentro da medicina caseira, afronta negócios milionários. Os agentes da saúde, em instituído do sistema econômico, castram farmácias, fiscos, laboratórios, profissionais... Os entendidos, nas mazelas humanas, apontam interferência do sobrenatural. Os laicos, no enigma, vislumbram ação e mão divina. A natureza, no cerne da criação, abriga faculdades e forças alheias ao julgamento e razão humana.

Guido Lang, Fragmentos da História Colonial, Jornais NH e VS.
(Novo Hamburgo e São Leopoldo, dia 14 e 15/07/1990, texto reescrito, dez/2015).

Crédito da imagem: http://www.astrologosastrologia.com.pt/

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O Recanto dos Mucker


A extensão, na atual Boa vista Fundos/Teutônia/RS, correspondia a partes das Picadas Catarina e Boa Vista (na então Colônia Teutônia). A linha, no afluxo de povoadores da Colônia Alemã de São Leopoldo, recebeu peculiar vulgo. O Recanto dos Mucker, nas conversas informais, ligava-se aos boatos e linhagem dos desbravadores.
Os pioneiros, nas pessoas de Jacob Lang, Friedrich Kussler, Adolph Eggers, Jacob Dockhorn, cultivaram amizade e granjeada influência. O pastor leigo João Jorge Klein, na atuação na Picada Café e Picada Quarenta e Oito/Colônia Alemã de São Leopoldo, tornou-se posterior “mentor intelectual” do movimento da Jacobina Mentz e João Jorge Maurer (líderes).
O religioso, na condição de ativo e bom pregador, intrigava membros e residentes. As famílias, no vislumbre da iminente tragédia no Episódio ou Movimento dos Mucker (1874), trataram de comerciar lotes e procurar novas paragens. Os morros, no elevado e excessivo (Picada Café), formaram outro ensejo do abandono e transferência aos novos ares.
A Boa Vista Fundos, em 1872, mostrou-se a terra prometida. O solo fértil, no baixo aclive e preto, fora chamado e encanto. A cobertura, em exuberante mata, conferiu-se sinal da ardente fecundidade. As belas referências, na possessão particular, externaram chamarisco e negócio. A Colônia Teutônia, numa década de ocupação, viu-se uma pérola da conquista.
As encanecidas discórdias, na essência das migrações, foram trazidas as novas paragens. A história, no estilo das moradias, tratava de ausentar porta frontal. As casas, nos solares, advinham na saída lateral. O jeito, na versão das más línguas, externava passados obscuros. O duelo, na aceitação ou rejeição (Mucker), exaltava discursões e dividia opiniões.
Os coloniais, na ascendência e artifício do Hunsrück/Renânia, nutriam distinção. As famílias adorariam serem donas do oportuno bem e nariz. A morada, no cercado da aturada vegetação, mantinha-se idolatria e sinal. A paisagem, no pátio e propriedade, assinala abundância de mato. A apreensão e ofício, na essência, residem na comunidade e existência.
Os residentes, na herança, realimentam conversas e divergências entre clãs. As intrigas, no habitual, ligam-se as contendas de águas, caminhos, cobiças, concursos, criações, divisas, espólios... As mazelas, no incrustado do humano, delineiam-se nas artes e convivências. Muitos rurais, no anseio e fortuna, emanam como se fossem viver na imortalidade.

(Guido Lang, Fragmentos da História Colonial, dez/2015).

Crédito da imagem: http://gilneiandrade2.blogspot.com.br/

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A instituição dos diretores


A sociedade colonizadora “Empresa Colonizadora Carlos Schilling, Lothar de la Rue, Jacob Rech, Guilherme Kopp & Companhia”, em Teutônia/RS, fazia-se representar pelos diretores ou intermediários. Os nomeados, no cargo honorário, podiam movimentar o negócio.
Os diretores, nas procurações, podiam assinar escrituras, fazer vendas de lotes, receber valores, dar posse e equitação aos compradores. Os poderes, em síntese, eram defender os interesses da sociedade. Teutônia contemplou os agentes: Lothar de la Rue  (1862-1968), Carlos Arnt (1868-1872), Oscar von Boronki (1872-1876), Jacob Kilpp (1876-1878), Roberto Júlio Paulsen (1878-1889) e Walter Wienandt (1889-1902).
Os diretores, no ambiente comunitário, advinham nas direções. As assistências, no interior das linhas, sobrevinham na condução aos prazos, concepção do contrato, instituição da infraestrutura... Os atuantes, na linha Glück-auf (atual Canabarro/Teutônia/RS), exerciam delegação e mando. A sede, na administração, funcionava na residência. Os sujeitos, no ofício, veneravam comércio (Carlos Arnt e Walter Wienandt).
As pesquisas, no Arquivo Público do Rio grande do Sul, admitem a localização de registro de nomeação. Segue, na íntegra, modelo: “Procuração bastante que fazem a Sociedade Carlos Schilling, Lothar de la Rue, Jacob Rech, Guilherme Kopp & Companhia: Saibam quantos este público instrumento de procuração virem, que sendo no ano do nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos setenta e dois nesta vila, digo, nesta sala no livro – cidade de Porto Alegre aos oito dias do mês de maio no meu cartório compareceram presentes Guilherme Joaquim Ach, gerente da Sociedade Carlos Schilling, Lothar de la Rue, Jacob Rech, Guilherme Kopp & Companhia reconhecido pelo próprio de mim tabelião e das testemunhas no fim assinadas perante as quais fazia seu bastante procurador a Oscar de Boronski a quem concedem os poderes especiais, para ele outorgante como se apresenta esse, possa administrar e gerir todos os negócios subtivamente a sociedade assinar referida, fazer venda de prazos coloniais, passar e assinar os referidos títulos, receber a importância das vendas, dar quitação e passar ao comprador e fazer tudo quanto interessar, digo, quanto entender em benefício dos interesses da mesma sociedade. Enfim, me pedirem lhes fizesse este instrumento que lhe li, aceitou e assina com testemunhas, reconhecidas por mim Antônio, por fim assinados pelo procurador mesmo... Barreto José de Freitas, Tabelião que subscreveu referida em público. Em testemunho os escrevi. Oscar von Boronski, Carlos Arnt, Constâncio Antônio Meirelles e João Frederico Renner”.


(Guido Lang, Fragmentos da História Colonial, O Informativo de Teutônia n° 66, dia: 03/11/1990, pág. 02). 

Crédito da imagem: https://www.versarehoteis.com.br/site/detalhe-cidade.asp?t=hoteis-em-teutonia-rs&idCidade=27

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

As companhias colonizadoras


A Colônia Teutônia, na história da privativa companhia colonizadora, conhece a compra das terras (em quatro e meia léguas quadradas). A obra atribuiu-se a “Empresa Colonizadora Carlos Schilling, Lothar de la Rue, Jacob Rech, Guilherme Kopp & Companhia”.
Os apontamentos, nos livros de notas, surpreendem em outras duas iniciativas no comércio imobiliário. As três empresas, na época de grande sucesso dos assentamentos, foram instituídas na capital da província. Os lucros, aos espertos sócios, foram razão das compras, medições e revendas dos sítios.
A ação elementar foi a “Empresa Colonizadora Carlos Schilling, Lothar de la Rue, Jacob Rech, Guilherme Kopp & Companhia”. A firma, em 1861, foi idealizada pelo negociante Carlos Schilling. O empreendimento adquiriu a maioria do território teutoniense. O sucesso, em bons lucros, ocorreu em 600 prazos coloniais e 20 linhas.
A “Sociedade Carlos Arnt e sua mulher Filippina Arnt, Henrique Bier e sua mulher Joaquina Rita Bier e Luiz Bier”, na acessória, foi responsável pela conquista da picada Neu Osterreich (Picada Áustria – atual Linha Brasil/Paverama/RS) e restrita área da Picada Brust/Herrmann (atual Germana Fundos/Teutônia/RS). Arnt, no convite, instalou colonos advindos da Boêmia (época Império Austro-húngaro/atual Rep. Tcheca).
Os pioneiros, na essência, foram Wenzel Reckziegel, Wilhelm Schauring, José Jantsch, Sigismundo Reckziegel, Estevão Jantsch, Stefano Keil e Josef Tischer. A sociedade foi constituída em 19/11/1881, tendo como procurador Carlos Arnt (Livro de Notas 03, pág. 31 do 1° Tabelionato de Estrela). O sucesso, no revendo de terras, incitou seguramente a organização da agência.
A “Sociedade Huch & Companhia” incumbiu-se de distribuir as terras da extinta Picada Huch (integrada na Picada Krupp/atual Linha Paissandu/Westfália/RS).
A “Firma Social Huch & Companhia” encarregou-se mormente da colonização da Picada Arroio Alegre (ignoro localização atual). O nome Huch seria citação de distinto negociante na capital. Roberto Paulsen constituiu-se como procurador. Os pioneiros, nas figuras de Nicolau Auth, Wendelino e João Henemann, foram clientes de prazos.
A colonização, portanto, careceu de ser obra exclusiva. Os aguçados lucros, no negócio imobiliário, levaram no provável a constituir as iniciativas. Empresários, na inércia do estado e inseridos no comércio, contribuíram na devastação da selva e europeização de linhas (com estirpes teutônicas).

(Guido Lang, Fragmentos da História Colonial, O Informativo de Teutônia, n° 64, 19/09/1990, pág. 02, texto reescrito).

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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A conquista da Linha Nova Áustria (Paverama/RS)


Nova Áustria, designação original da Linha Brasil/Paverama/RS, aconteceu a partir de 1873. As quatro famílias, na laia de pioneiras, advieram da Boêmia/Império Austro-húngaro. As bases, no instituído da colonização, permeiam organização e vivência comunitária.
As estirpes, graças ao comerciante e industrial Carlos Arnt, afluíram à região. O arrojado, no caminho por Porto Alegre, encontrou os imigrantes austríacos. As conversas, no convite, advinham da fértil terra e tensa selva. O diretor Arnt, na “Sociedade Carlos Arnt, sua mulher Filippina Arnt, Henrique Bier e sua mulher Joaquina Rita Bier e Luiz Bier”, versou em comercializar os prazos.
Os primórdios, na primeira leva, iniciaram com Wenzel Reckziegel, José Tischer Sênior, José Tischer Filho e Guilherme Schaurich. A colonização, na instalação, iniciou na Germana (Fundos) da Colônia Teutônia. O núcleo colonial, na proporção do afluxo de novas linhagens, transferiu-se ao centro da linha/picada. A capela “Sagrado Coração de Jesus”, em anexo ao cemitério (católico), complementou-se com escola comunitária. As plataneiras, na intersecção de estradas, instituem-se na insígnia da conquista.
Os pioneiros, na legalização das terras (conforme 1° Tabelionato de Estrela), foram os pioneiros José Jantsch e Wenzel Reckziegel. Registra-se: “... José Arnt e Filippina Arnt... foi-me dito que vendem de hoje para sempre ao sobredito José Jantsch um pedaço de terra nesta Colônia da Picada Áustria com cem braças de frente e quinhentos mais ou menos de fundos, estreitando-se para o fundo onde tem 64,5 mais ou menos de largura e se divide pela frente com terras da Colônia Santa Manuela, pelos fundos e ao oeste com esta Colônia de Teutônia, e pelo leste com terras dos mesmos vendedores, que vendem pelo preço de 800.000 réis... em 01/11/1882, na Colônia Teutônia, Termo de Estrela, onde eu tabelião foi vindo, ali em presença das testemunhas” (Notas 3, pág. 30-31).
Escritura de venda de meia colônia que fazem Carlos Arnt, sua mulher e outros à Wenzel Reckziegel como se declara: ...em 01/11/1882... a Sociedade Carlos Arnt, sua mulher, Filippina Arnt, Henrique Bier e sua mulher Joaquina Rita Bier e Luiz Bier... meia colônia na Picada Áustria com 100 braças quadradas de frente e 500 de fundos, se divide pela frente com terras da Santa Manuela, pelos fundos com a Picada Catharina e terras do comprador e ambos os lados com terras da vendedora, por um conto” (Notas 3, pág. 31).
Outros compradores foram: Sigismundo Reckziegel, em 22/06/1886, área de 75 braças de terras de frente e 500 de fundos e localizando-se 25 braças de frente da Colônia n° 1 e 50 braças de frente da colônia n° 8, confina pela frente com a dita Picada Áustria, pelos fundos ao norte com terras de Wenzel Reckziegel e pelo leste e oeste com terras dos vendedores (Notas 13, pág. 31 do Cartório Estrela – Languiru Vila).
Estevão Jantsch, em 22/06/1886, área de 75 braças de terras de frente à Picada Áustria e 500 fundos, sendo 50 braças de frente da colônia n° 8, e 25 braças de frente da colônia n° 9, e confina pela frente com a dita picada, pelo fundo ao norte com terras de Wenzel Reckziegel, pelo leste com terras dos vendedores, e pelo oeste com terras de Sigismundo Reckziegel (Notas 13, pág. 31-32 do Cartório Estrela – Languiru Vila).
Wenzel Jantsch, em 07/11/1891, área de 50.000 braças quadradas, confronta-se a norte com terras do comprador, sul com Francisco Keil, leste com a Colônia nº 01 da Santa Manuela e oeste com terras de Wenzel Tonneney (Notas 04, pág. 68 do Cartório Estrela – Languiru Vila).
A legalização das terras, portanto, ocorreu a partir de 1882. Os colonos boêmios, apesar da intensa seca (1874), tinham alcançado prosperidade. A colonização, em 1873, iniciou com Wenzel Reckziegel, José Tischer (Pai) e José Tischer Filho, Guilherme Schaurich (famílias originárias de Johannesberg). Outras famílias, em 1876, afluíram para concluir o processo de ocupação.

(Guido Lang, Fragmentos da História Colonial, novembro/2015).

Crédito da imagem: http://novafriburgo.rj.gov.br/

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Os primeiros clientes dos prazos coloniais (Colônia Teutônia/RS)


Os Livros de Notas, no Cartório de Taquari (conservados no Arquivo Público do Rio Grande do Sul), lista os primeiros fregueses dos lotes rurais. Os pioneiros, na Colônia Teutônia, custeavam os encargos na proporção do progresso das produções e poupanças familiares.
A relação, no comparativo do Livro Caixa da Empresa Colonizadora, identifica afluxo e instalação dos precursores. O historiador, na pesquisa, precisa ter em mente os empecilhos da época. As estirpes, na primeira ocasião, tiveram todo tipo impedimentos no assentamento.
A firma, na “Empresa Colonizadora Carlos Schilling, Lothar de la Rue, Jacob Rech, Guilherme Kopp & Companhia”, alargou prazos de custeio. As famílias, no geral, devastaram domínios e saldavam na extensão da produção. A faina, na força do braço, fazia-se no sol a sol.
A legalização, em custeios de cartório e empresa imobiliária, absorvia as parcas economias.  O diretor, no procurador, constituiu-se no emissário oficial. O funcionário, na sede em Glück-auf (Canabarro), arrecadava e repassava os valores aos donos da sociedade particular.
O registro, na subsequência, transcorreu:
Ano de 1863: Cristiano Schwinger.
Ano de 1864: Conrado Schwinger.
Ano de 1866: Almândio Dickel.
Ano de 1868: Francisco Antônio Machado.
Ano de 1869: Pedro Michel, Nicolau Streher, Ernesto Güntzel, Bernardo Roberto Greuner, Alberto Schüler, Nicolau Röhrig, Jacob Franck, Daniel Franck, Guilherme Brust, Abrão Heinrich, Frederico Genehr e Ernesto Hachmann.  
Ano de 1870: Henrique Jung, Guilherme Greve, Frederico Schneider, Adão Zimmermann, Cristiano Zimmermann, Jacó Arnt, Ernesto Hunsche, Guilherme Schonhorst, Frederico Etgeton, Frederico Markus, Julião Baungarde, Jacob Scheiermann, Guilherme Hachmann, Carolina Hauenstein, Gotlieb Borgardt e Miguel Schwingel.
Ano de 1871: Frederico Lautert e Henrique Lautert.
Ano de 1872: Guilherme Prass, Conrado Flech, Cristiano Schneider, Carlos Fries, Jacob Gulach, Jacob Dockhorn, Jacob Lang, Frederico Bohmberger, Conrado Loose, Frederico Kussler, Adolfo Eggers, Carlos Arnt, Carlos Frederico Voges, Manoel Lautert, Frederico Lautert, João Henrique Böhm, Frederico Landmeier, Jacó Schüler, Frederico Hunsche, Adão Fernsterseifer, Henrique Gödtel, Cristiano Schmitt e Frederico Becker.
Ano de 1873: Frederico Kich.
Ano de 1874: Carlos Surkamp, Henrique Zimmermann, Guilherme Dickel, Pedro Schneider, Luiz Diedirich e Abrão Bohnerberger.
Ano 1875: Jacob Elicker, Guilherme Kilpp, Pedro Kilpp, Germano Cord, Augusto Böhm, Jacob Röhrig, Francisco Gok, Francisco Götzen, João Hüther, Henrique Britcki, Guilherme Brune, Jorge Trieweiler, Rudolfo Dahmer e Margarida Ludwig.
Ano de 1876: Jacob Born e João Schröer.
Ano de 1877: Henrique Ritter, Jacob Feldens e Carlos Krieger.
Ano de 1878: Júlio May, Nicolau Heller, Pedro Michel e Plilippina Schneider...
Os estudiosos, na genealogia e história familiar, poderão encontrar a relação dos antepassados e patriarcas. Os bravos, na andança das paisagens, iniciaram no sangue e suor a conquista. Os nomes, nos alicerces familiares, perpassam seguramente na amnésia.


(Guido Lang, Fragmentos da História Colonial, novembro/2015).

Crédito da imagem: https://www.youtube.com/watch?v=6ajBprPpPS8&noredirect=1

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

História da Escola Municipal Andrade Neves


O educandário, no situado do núcleo colonial do encontro da estrada geral da Boa Vista Fundos/Teutônia/RS – acesso às linhas Catarina, Germana (Fundos) e Boa Vista (Meio), integra biografia de centenas de evadidos e residentes. O ensino-aprendizagem, no decurso das décadas, exteriorizou arrojo e ciência dos habitantes. O registro, na classe de ex-aluno (1966-1972), visa eternizar memória comunitária.
A história, nas ocorrências relevantes, minuta passagens. O preceito de mutirão, na crônica das Memórias de Jacob Lang Filho, edificou módica sala. A paragem, na época Picada Catharina (na conexão dos fundos da Picada Boa Vista), foi colonizada em 1872. Os pioneiros, na nota do Livro da Colonização, foram Jacob Lang, Friedrich Kussler, Adolph Eggers, Jacob Dockhorn, Adam Eckert, Peter Hatje, Heinrich Damann, Claus Damann, Nicolaus Nielsen, Heinrich Hatje, Wilhelm Jung, Mikael Behrs, Heinrich Week, August von Scheren/Schewen... A escolinha, no centro colonial, viu-se edificada no ano de 1874. O colono e morador August von Scheren, na laia de antigo capitão de navio e instruído na língua nata, foi instituído docente.
Os professores, na subsequência, foram August von Scheren (1874-....), Gustav von Grafen (....-....), Heinrich Friedrich Wilhelm Sommer (1909-1917), Heinrich Dreyer (1918-1927), August Krützmann (1928-1930), Reinhold Antoni (1931-1938), Raimundo Brackmann (1939-1940), Werno Dreyer (1941-1942), Helmuth Kilpp (1943-1949), Erno Driemeyer/professor auxiliar (1948-1949), Edgar Wiebusch (1949-1970), Rejane Maria da Silva (1971), Leunira e Renata Morchbacher (1972), Maria Noemi Dietrich Blömker (1973-1985), Maribel Bayer Althaus (1986-2015).
Outras referências, na história, alistam-se no primeiro prédio de madeira e no segundo que foram edificados em pedra de arenito. O construtor, na casta de morador, foi Jacob Kettermann. O educandário viu-se escola particular (1874-1965) e municipal (1966-2015). A administração Elton Klepker/Silvério Lüersen ampliou prédio e investiu em telefonia. A Internet, na onda globalização, adveio em 2005... O ensino, no idioma em português (em avaria do alemão), implantou-se em 1939 (período da nacionalização e perseguição do Estado Novo).
A designação original fora Escola Particular da Linha Catharina (razão de confusão na idêntica na Linha Catarina). A denominação, na nacionalização, mudou para o patrono Andrade Neves (referência ao brasileiro ilustre José Joaquim Andrade Neves – militar e herói da Guerra do Paraguai). A instituição mantenedora, por bons anos, via-se a Sociedade Escolar Evangélica Três de Julho. Os conteúdos, no período de 1874-1936, eram na base dos cálculos (práticos), leitura e escrita.
As disciplinas, em boletim/ano letivo de 1944, incidiam em comportamento, atenção, aplicação, ordem, contas, leitura, português, gramática, civismo, geografia, caligrafia, ortografia, desenho, canto, ginástico e redação. A avaliação, em boletim/1971, era comportamento, aplicação, ordem, linguagem, matemática, estudos sociais, ciências naturais, religião, educação moral e cívica. Os castigos corporais, na força da palmatória, reguada e sovo, foram abolidos na prática educativa na mestra Rejane Maria da Silva (1971).
A escola, no mérito, educou o conjunto dos membros das jovens gerações. Os alunos, nas iniciais décadas, abarrotavam a sala. A realidade, na queda da taxa de natalidade das famílias e migração campo-cidade, ostenta-se exclusiva dezena de colegiais. O evento anual, na máxima expressão, mantém-se no Pinheiro de Natal. Os educandos, na ocasião exclusiva, conseguem reunir o conjunto de residentes (em torna das apresentações teatrais). Segue, na odisseia da linha, gloriosa sina Escola Municipal Andrade Neves.

(Guido Lang, Fragmentos da História Colonial, novembro/2015).

Crédito da imagem: http://saiadopilotoautomatico.com.br/

terça-feira, 24 de novembro de 2015

A biografia de Lothário Lang


A História, no chegado das grandes abordagens docentes, ignora a trajetória das pacatas pessoas. As biografias, no comum, passam na deficiência ou indiferença de registro. Os acanhados, no visível anonimato, delineiam epopeia das aldeias. Os modestos, no chão das fábricas e lavouras, afeiçoam edificar cidades, semear campos, resguardar sabedorias...
O historiador, na inquietação da genealogia e memória, procurou refazer o registro da obra e vida de Lothário Lang. O objetivo, no momento, incide em conservar biografia e reminiscência. Os descendentes, no futuro, terão seguramente interesse na narração e procedência. Os registros, no elaborado dos escritos, perpassam épocas e gerações.
Lothário, em 19/04/1927, nasceu dos pais Frederico Carlos Lang (1896-1950) e Paulina Eggers (1896-1933). As manas foram Lídia, Elma, Erna, Herda e Selmira. A geração constituiu quarta prole dos pioneiros (afluídos em 1847). As dificuldades, na velha Prússia e promessa de melhor subsistência, foram causas da evasão da Europa.
Os antepassados, na laia de agricultores, eram imigrantes modestos e ousados. O entusiasmo, no ofício, foi afeição às criações e plantações. A acomodação, na primeira estação, ocorreu na Picada Café/Colônia Alemã de São Leopoldo (1847) e transferência posterior a Picada Catharina/Colônia Teutônia (1872). Ele foi mescla entre prole dos hunsrüche e westfalianos.
Lothário, na idade dos quatro anos, perdeu mãe Paulina. A comoção, diante da desventura, contornou-o a ser livre pensador. O lamento, na ausência qualquer figura/imagem da genitora (foto), estendeu-se pelo cerne das vivências. A Escola Comunitária Andrade Neves, no alemão (1935) e português (1936-1939), ganhou formação. Os professores, na arte de calcular, escrever e ler, foram Reinado Antoni e Raimundo Brackmann.
A aspiração era de cursar medicina. A morte atrapalhou plano. A falta, em chances, conduziu na afeição de agricultor. A área, em quinze hectares (locados na Boa Vista Fundos/Teutônia/RS), cresceu no minifúndio. As culturas, no feijão, forragens, hortaliças, mandioca e soja, foram capitais. As criações, nas aves, bovinos e suínos, foram “ganha pão’’. O domínio, na fixação da Linha Catarina/Teutônia/RS, careceu de empilhar riquezas.
Lothário, na Segunda Grande Guerra (1939-1945), serviu de reservista (na segunda categoria, classe de 1927, no Tiro de Guerra 648 na Vila Teutônia). A mobilização, em 1945, ocorreu na razão de embargar à Itália (desfecho das hostilidades, em maio, tornou dispensável). O Tiro de Guerra conheceu o instrutor e mestre Idílio Vasconcelos (admirado na ciência, finura e manha). A perseguição, na interdição do dialeto do Hunsrück/alemão, fazia-se aferrada aos descendentes teuto-brasileiros.
Lothário, em 09/07/1949, casou com Annilda Strate (filha de Frederico Strate e Erna Jasper). Este, em 21/07/1927, foi batizado pelo reverendo Jonathan Stribel e casado pelo pastor Erich Wilhelm Ziebarth na Comunidade Evangélica Betânia da Boa Vista/Teutônia/RS. Os filhos foram Dario Frederico, Glaci e Guido Lang. O espírito prussiano, no rigor a faina, perpassou nas atividades e crenças.
As duas casas, no primeiro chalé de madeira (1949) e posterior alvenaria (1966), viram-se edificadas na força das economias e faina. Os princípios, no apego à ciência, dedicação, organização e persistência, constituíram guia da existência. A humildade e simplicidade, no cotidiano dos atos, foram modelo nos métodos.
A filiação, no associado, ligou-se as entidades: Cooperativa Regional de Eletrificação Teutônia (Certel), Cooperativa Regional Agropecuária Languiru, Comunidade Evangélica Betânia, Coro de Homens da Boa Vista, Sociedade de Coro Misto de Boa Vista Fundos, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Estrela/RS e Teutônia/RS, Associação Esportiva Avante... Lothário, na gestão da Cooperativa Mista Pontes Filho (1959-1963), fora tesoureiro da entidade.
Lothário, na doença (maio/1990), adquiriu Metástase de Câncer Brônquico. O vício, no cigarro, fora causa. O tratamento iniciou no Hospital Ouro Branco/Languiru/Teutônia/RS, Redentor/Canabarro/Teutônia/RS e Pavilhão Pereira Filho/Porto Alegre/RS. O óbito, por Insuficiência Ventilatória Aguda, ocorreu em 24/11/1990 no Hospital Redentor.
O velório, na Boa Vista Fundos/RS, ocorreu na residência. O afluxo, nas despedidas finais, foi do círculo de amigos e residentes. O enterro, no jazigo familiar no Cemitério Evangélico da Comunidade Betânia, ocorreu em 25/11/1990 (fora efetivado pelo ministro Yedo Brandenburg). Os relatos, nos arrojos e manhas, mantêm-se ativos na tradição oral.
O sereno ente, na paz do Senhor, descansa junto à esposa. O amor, na família, liberdade e trabalho, foram razão da existência. O acúmulo, no capital, advinha no plano secundário. As lições, na firmeza dos exemplos e ideias, norteiam os passos da descendência. A semente, no lançado ao solo fértil, produziu majestosos e ricos frutos.

(Guido Lang, Fragmentos da História Colonial, novembro/2015).

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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Os segredos das moradas


Os colonos, na convivência da natureza, desenvolveram uma extensa astúcia e ciência. A ocorrência, nas propriedades, liga-se aos muitos aspectos das vivências. O artifício e lida, na edificação das casas, incluía destreza e princípio. A acertada escolha, no momento, sobreviria no resultado dos afazeres e condição de vida. A admiração e comento viam entre vizinhanças.
As residências, nos clássicos solares, foram instaladas nas encostas dos baixos cerros. A abundância, em água e radiação, incidia no gosto e negócio. A apropriada e fresca água torrente, na ingestão, caía na precisão e saúde. O sucesso, nas criações e irrigações (ocasionais dos jardins e hortas), dependia da abastança do fluido límpido.
A insolação, na inibição dos microrganismos e patologias, compreendia-se no delirante antídoto. Os animais domésticos, na farta exposição ao sol, ostentavam fácil ardor e incremento. Os irracionais, na rotação terrestre, acham-se ajustados no ciclo existencial. Os humanos, no encravado no compasso da natureza, auferem iguais acrescimentos e fortunas.
A morada, no incrustado da elevação, oferecia vantagem de ajeitar extenso porão. Os armazenamentos, no exemplo das ferramentas, sementes e tubérculos, adoram os recintos arejados e frescos. A ventilação, em função das brisas, adviria na pureza e qualidade do ar. As geadas, na probabilidade do cultivo de culturas tropicais, incidiam na mínima queima e rigor.
As eventuais moléstias, no despejo dos aguaceiros, poderiam facilmente ser evacuadas e lavadas. Os terrenos encharcados, no meio das criações e plantações, sobrevêm no impróprio dos cheiros e putrefações. Os animais e humanos, na época das precipitações, poderiam circular com facilidade pelas encostas e pátios escorridos.
A visão panorâmica, na observância da circulação, advinha no ingrediente das curiosidades e satisfações. Um fácil e rápido acesso, no trajeto da estrada geral e caminho da roça, mantinham-se igualmente outra figura e inquietação. Os arvoredos, no adereço do povoado, incidiam no habitual descampado e potreiro. Os olhares estendiam-se pelos dias.
Os coloniais, dentro das condições de escolha, avaliavam maior consideração de benefícios. As famílias, no usual, edificavam uma exclusiva e única residência. Os acertos deveriam incidir na maior cômputo. O agradável e belo ambiente, na magnitude e orgulho rural, sobrevinha em sinônimo de bem estar, felicidade existencial e sucesso profissional.
A calmaria e qualidade, na pacata existência, cultivam enigmas e manhas. As conversas informais, nos espaços das convivências, tratavam de ensinar e postergar ciências. Certas obras, nos vestígios dos materiais, subsistem aos tempos. As habitações, no implícito das ponderações, espelham apreços e aspirações dos habitantes.


(Guido Lang, Fragmentos da História Colonial, Ano de 2015).

Crédito da imagem: http://marusasaki.blogspot.com.br//2011/01/conheca-joinville-regiao-de-estrada.html

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O escambo dos ancestrais


Os pioneiros, nos primórdios da instalação, advinham no problema do acesso aos mercados. O árduo trabalho, na devastação da selva, constituiu-se na instalação da agricultura minifundiária de subsistência. O fértil solo, na sucessão das safras, formou as farturas. As famílias, nas criações das relações sociais, advieram no ativo escambo. A amostra, em síntese, agia nos conformes. O beltrano, no bom solo, auferia na abastança da batata. O fulano, na banana, colhia usuais safras. O sicrano, nas criações, extraía fartas banhas... As partes, no entremeado das alianças e consanguíneos, trataram de improvisar trocas. As estirpes, na falta do poder de compra, supriam artigos básicos ao sustento. Um residente, nas sobras, tratava de dar ao outro e, as carências, angariar na permuta. A abastança, na base do aipim, arroz, batata, carnes, feijão e salada, insidia no unido das moradas. O paliativo, no problema dos transportes, caía na mercearia indireta. As precisões, na astúcia, cunham as invenções.

Guido Lang
“Fragmentos de Sabedoria”

Crédito da imagem: http://www.dominiquenutricionista.com.br/

terça-feira, 17 de novembro de 2015

O Vale da Promissão


O Vale dos Sinos, em 25 de julho de 1825, começou a tornar-se a terra anunciada para um conjugado de peregrinos. Os pioneiros, em meio ao embalo das águas do curso fluvial (na analogia do habitual Rio Reno), iam-se achegando as paragens. As canoas, caíques e lanchões, na elevação do Rio dos Sinos, foram introduzindo as famílias dos aventureiros.
A atividade, no dilema dos lotes, consistiu em abrir picadas, derrocar matas, disseminar lavouras... A exuberância, na floresta, chamou deveras admiração e preocupação. O risonho chão, na abundância dos férteis solos, ocultava as fortunas. Os persistentes afazeres, na falta da trégua no sol a sol, permitiram a obra da fartura de artigos.
O fecundo sucesso, em originais moldes, permitiu a geração de riquezas. A agricultura minifundiária de subsistência, nas competentes propriedades, viu-se inserida em terras meridionais. A labuta, no braçal e familiar, viu-se encarada na ação de decência e soberba. O Vale da Promissão, em escassos anos e sucessão dos séculos, tornou-se Vale da Abastança.
Os solos, no deitado dos séculos em berços esplêndidos, conheceram proveito e revolução. Os banhados, campos e encostas, cobertas do ativo cerrado, viram-se tomadas por lavouras, pomares, potreiros... As principiantes linhas, na associação colonial, pipocaram cemitérios, escolas, igreja, residências... A mão humana instituíra esplendor e prodígios.
As chaminés, de alteradas resoluções, insistiram em pipocar em cantos e recantos dos lugarejos. As atafonas, curtumes, ferrarias, moinhos, selarias, serrarias, na amostra, adentraram a dinamicidade econômica. As módicas iniciativas, no decurso das gerações, disseminaram os esteios do ativo e imponente parque industrial.
O marco, no preito ao trabalho, tornou-se alusão e narrativa. A gama de produtos, na fabricação industrial, difunde-se aos quadrantes. Novos vales, no modelo do Caí, Paranhana e Taquari/RS, foram desbravados nas proles ulteriores. As prestigiadas estirpes, na descendência dos desbravadores, nutrem obrigações da continuação da benzida obra.


(Guido Lang, Fragmentos da História Colonial, Ano de 2015).

Crédito da imagem: http://palavradoavivamento.blogspot.com.br/

terça-feira, 10 de novembro de 2015

O cemitério velho da Picada Capivara


A Picada Capivara/Colônia Teutônia/Estrela/RS, nos primórdios da colonização (1858-1908), teve instalado campo-santo. O idêntico, nas cercanias da escola comunitária, ocorreu na Picada Catharina (atual Linha Boa Vista Fundos/Teutônia/RS). O local, próximo à casa comercial de Ernst Hetzel (na estrada Linhas Boa Vista - Catarina), apareceu indicado a dedo.
A extensão, no presente, revela-se adotada pelo aturado cerrado. A floresta, na mata rejuvenescida pluvial subtropical, retomou lugar original. Os resquícios, em obeliscos e pedras, ostentam-se testemunha das vivências dos pioneiros. A desativação, na junção provável das Comunidades da Boa Vista, Capivara e Catarina (parcial), adveio na constituição da Comunidade Evangélica Bethânia (Boa Vista/Teutônia/RS). Os ministros leigos, na expressão de Gustav von Grafen e Heinrich Beckmann, atendiam estirpes abrigadas nas paragens.
A inspeção, no ocasionado pela curiosidade, inspirou a pesquisa. Os enterrados, na compressão particular, mereceriam registros nas genealogias. Os entes, em função da consideração comunitária, mereceriam uma referência na saga da colonização. O enigma, no parcial, viu-se resolvido na consulta aos registros de falecimentos. 
O Livro de Falecimentos da Comunidade Evangélica Bethânia, nos apontamentos de Heinrich Beckmann, consta: Número 12 – Johannes Rasche, nascido em 24/06/1896 e falecido em 27/07/1896 na Picada Capivara, testemunhas foram os pais (Jacob Rasche e Lina Hatje), enterro efetivado pelo pastor e professor Heinrich Beckmann em 29/07/1896, causa da morte foi dispepsia (má digestão ou doença provável dela). Número 18 – Hannibal da Silva, nascido em 05/07/1896 e falecido em 09/07/1896, na Picada Capivara, testemunhas foram os pais (Antônio Vasco da Silva e Karolina Maria da Silva), enterro realizado por Beckmann em 10/08/1896.  Número 64 – Heinrich Brugmann, profissão marceneiro, nascido em março de 1841 em Kiel, falecido em 30/10/1904 na Picada Capivara, testemunha do falecimento foi Claus Damann, carece de nome dos pais, enterro realizado pelo pastor Beckmann em 31/10/1904. Número 65 – Jacok Johann Rasche, profissão colono, nascido em 05/01/1865 em Feliz/RS, falecido em 30/10/1904, na Capivara, pais foram Theodor Rasche e Maria May, enterro concretizado em 31/10/1904 por Beckmann. Número 67 – Heinrich Hetzel, nascido em 11/08/1905 e falecido em 12/08/1905 na Picada Capivara, testemunhas do falecimento foram os pais (Ernst Hetzel e Petersine Heinrichsen), enterro realizado em 14/08/1905 por Beckmann. Número 84  – Alma Jasper, nascida em 03/10/1906 e falecida em 05/09/1907 na Picada Capivara, testemunhas foram os pais (Wilhelm Jasper e Auguste Brandenburg), enterro realizado por Beckmann em 07/09/1907. Número 86 – Klara von Grol, nascida em 20/04/1907 e falecido em 07/04/1908 na Capivara, testemunhas do falecimento foram os pais (Heinrich Friedrich von Grol e Lina Hatje), enterro realizado por Beckmann em 08/04/1908. Número 87- Amanda Baumgardt, nascida em 23/07/1902 e falecida em 15/08/1908 na Capivara, causa da morte: sarampo, testemunhas foram os pais (Karl Baumgardt e Karolina Dhein), enterro realizado por Beckmann em 16/08/1908...
A relação, no registro de Beckmann, conclui com o funeral de Amanda. O cemitério, no possível, vê-se desativado. A desativação, no admissível, tenha ocorrido na morte do pastor e professor Heinrich Beckmann. O ministro formado Karl Sick, na Comunidade Evangélica Bethânia, careceu de obrar na necrópole. Os parentes, na dimensão dos fenecidos, foram relegando cemitério. A vegetação, no vivo aumento, foi reocupando ambiente. Outros falecidos, na precisão de exame das crônicas comunitárias, primam pelas lembranças.

(Guido Lang, O Informativo de Teutônia n/ 129, dia 05/02/1992, pág. 02. Texto reescrito).

Crédito da imagem: http://www.unaflor.com.br/

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A saga do Arroio Vermelho

O riacho, no fluxo da linha da Boa Vista Fundos/Teutônia/RS, delineia andanças e narrações. O trajeto, em beirados seis quilômetros de extensão, inicia nas encostas dos Morros da Bela Vista e Catarina. A água, em baixadas e nascentes, brota confortante no meio das matas e roças. As propriedades, na direção leste - oeste, viram-se instituídas na ascensão das demarcações nos primórdios da conquista (1858 a 1872). A animália, na criação e fauna, acerta no acesso ao indispensável e precioso fluido. A mão humana, no parco tempo da instalação (lotes), instituíra modificações no panorama da selva pluvial subtropical.
Os cardumes, nas poças d’água, faziam contínua alegria e folia dos residentes. Os habitantes, em inventados banhistas e pescadores, visitavam beiras e canal. A gurizada, no sabor das folgas, esquadrinhava os filetes e reservatórios do regato. Os espaços aprofundados, em cacimbas, eram abundantes e variados em espécies. Os apreciadores, em exóticas carnes, trataram de contrair os graúdos entes. Os relatos, na mostra exagerada das mãos, caem de unidades de beirados de quilos. A história de quem conta um conto aumenta um ponto. Os balneários, em dias infernais de calor, faziam alacridades e brincadeiras das meninadas.
As espécies, em protótipos de cascudos, joaninhas, lambaris, jundiás e muçuns, advinham no exacerbado cômputo. O ambiente característico, em máximo volume, incidia na ponte da estrada geral. Os arranjados pescadores, nos lugares exclusivos, conheciam os espaços das coletas.  Alguns, em balaios e sacos, ensejavam parciais arrastões. A natureza, na amplitude dos nutrientes, tratava no escasso tempo de recompor populações. Os açudes, no alastrado das propriedades, trataram de introduzir carpas, prateadas e traíras. Os aguaceiros, na egressão das águas, faziam unidades safar-se das barragens e represas.
A modernidade, no advento da colocação de saibro (na estrada de chão batido) e uso desenfreado de agrotóxicos nas lavouras, minaram abastança e variedade. As antigas banais poças, no leito, acabaram aterradas e suprimidas. Os viveiros, nos difundidos aquários, advieram em pérolas. As águas, na descida dos cerros, incidem poluídas em tóxicos e urinas. Os parcos peixes, em especiais cascudos e lambaris, descrevem nostalgias dos tempos de antigamente. As tecnologias, na larga produção no ativo das diminutas áreas dos domínios, advêm na danificação. Os rejuvenescidos, nas beiradas, incidem em matagal e silvicultura.
O curso, no epílogo das trompas d’água dos aclives, descreve histórias de enchentes. O leito maior, em minutos, apresenta acentuados volumes e submergem margens. Os amontoados, em folhas, galhos e madeiras, tomam direção do Arroio Boa Vista (afluente do Rio Taquari). A fúria, na semelhança de decurso de rio, faz reocupar aterrado leito. O avermelhado, na coloração das águas, dá origem ao título. O curioso, no conjunto dos solos de massapê, flui na bizarra tonalidade. A fragrância, na massiva putrefação (dejetos vegetais), oferecia alcunha de Arroio Fedorento. A ocorrência, na baixa vazão, advém na seca de verão.
O patrimônio ambiental, no anexo do pacato lugarejo, seguirá alistando pitorescos contos. Arroio Vermelho, no decurso do tempo, segue famosa sina entre regatos. A consciência humana, no unido das gentes, redimensionará desventuras e reavaliará valor.

(Fonte: Guido Lang, novembro/2015, observação: residente nas cercanias).

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A cantoria satânica

A Boa Vista Fundos/Teutônia/RS-Brasil, como picadas circunvizinhas, eram habitadas por bandos de macacos, que, entre inúmeras outras espécies, eram moradores efetivos da milenar Mata Subtropical Pluvial. Estes, nas caladas dos dias, faziam um barulho infernal, quando os bugios avermelhados e pretos impunham medo pelos gritos. Os bichos faziam assobios e guinchos fortes, que salientavam-se nas épocas do prenúncio das chuvas. Os animais, ao longo das trilhas da picada ou roça, impunham temores aos humanos, invadindo e ocupando seu secular hábitat das altíssimas e centenárias árvores da gigante e milenar floresta. As paragens solitárias, com o horizonte a perder de vista, complementava-se com outras fobias, que advinham das “feras do mato”. Estas, entre outras, constituíam-se de aranhas, cobras, jaguatiricas, porcos-do-mato...
A cantoria dos macacos era mais intensa nos morros, quando os gritos ecoavam pelos quatro quadrantes do Vale do Arroio Vermelho. Algumas ressonâncias davam impressão de macabros concertos, quando a algazarra dos símios, em momentos crescia, formando um aparente coro satânico. Alguns moradores importunavam-se com a cantoria, enquanto outros achavam graça. Os humanos cedo constituíam uma sabedoria com este canto, que ocorrendo significava chuva em aproximados três dias. As culturas, sobretudo as bananeiras e mamões, viam-se visitados, no que faziam um consumo generalizado. Alguma surpresa dos bichos, num aparente descuido humano poderia suceder-se, no que os animais, estendidos nalgumas folhas de vegetal, atiravam excrementos. Eles adoravam o espaço dos altos galhos das volumosas árvores, que tornava difícil apanhá-los ou repreendê-los; procuravam colocar guarda na razão de proteger-se de forasteiros e predadores inconvenientes.
Os rurais desconhecem as causas do desaparecimento dos animais, que atribuiu-se a devastação da mata, migração na direção dos resquícios de floresta e sucessivas pestes. Os macacos, em épocas, apareciam mortos nas lavouras ou matos, enquanto os urubus davam-se o trabalho de digeri-los. O rejuvenescimento da floresta promete uma nova aurora à espécie, que promete sua presença em arroios, encostas, morros e vales teutonienses.
Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03
10 de setembro de 2005

terça-feira, 3 de novembro de 2015

A lenda do Lago Vulcânico


A tradição colonial fala-nos da existência de um lago vulcânico, que existiria no topo do Morro Staggemeier (Staggemeiersberg). Este, com os seus 360 metros de altitude, situa-se entre as localidades da Boa Vista Fundos, Capivara, Pontes Filho e Catarina. O depósito da água seria fruto de uma cratera, que teria se originado da chaminé de um extinto vulcão. O fenômeno teria ocorrido dum trabalho geológico de milhões de anos, quando nossa litosfera conheceu fúria da natureza. O espaço, na atualidade, seria uma fonte de abastecimento de animais e aves, que habitariam as proximidades.
O Morro dos Staggemeier é um recanto ímpar, porque, a distâncias, sinaliza as pacatas localidades circunvizinhas. A história, na prática, revela-se uma criação da imaginação. O tempo, através de séculos, de intempéries, preencheu o buraco da antiga chaminé. Um discreto plano, próprio para acampar e vislumbrar as maravilhas dos vales do Arroio Boa Vista e Vermelho, viu-se tomado pela vegetação arbórea. Alguém inclusive deu-se o trabalho de transplantar um eucalipto, que, em função do sufocamento, não vingou; outros cravaram crateras na ânsia de procurar metais preciosos; um e outro efetuou sinais nas árvores com razão de assinar sua passagem pelo lugar...
A elevação, na sua magnífica imponência, esconde o passado da história geológico da terra, quando, nos tempos da Revolução Federalista (1892 – 1894), serviu também de refúgio a perseguidos políticos (entre maragatos e pica-paus). O silencioso morro mostra-se adormecido, quando, outrora, “cuspiu fogo” pelas cercanias. Este, na atualidade, parece apreciar o trabalho colonial, quando, mãos calejadas, fazem o torrão prosperar. As belas lavouras, de cereais, forragens e matas reflorestadas, somam-se a formosura do cenário colonial, que mescla facetas da maravilha da criação divina e humana.
Morro Staggemeier! Ostente tua formosura e onipotência; enaltece tua beleza e fascínio, desperte a curiosidade e paizão pela esplêndida visão dos vales rurais.
                                                                                                 
Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03
30 de julho de 2005

Crédito da imagem: http://www.alunosonline.com.br/geografia/vulcoes.html