A Boa Vista
Fundos/Teutônia/RS-Brasil, como picadas circunvizinhas, eram habitadas por
bandos de macacos, que, entre inúmeras outras espécies, eram moradores efetivos
da milenar Mata Subtropical Pluvial. Estes, nas caladas dos dias, faziam um
barulho infernal, quando os bugios avermelhados e pretos impunham medo pelos
gritos. Os bichos faziam assobios e guinchos fortes, que salientavam-se nas
épocas do prenúncio das chuvas. Os animais, ao longo das trilhas da picada ou
roça, impunham temores aos humanos, invadindo e ocupando seu secular hábitat
das altíssimas e centenárias árvores da gigante e milenar floresta. As paragens
solitárias, com o horizonte a perder de vista, complementava-se com outras
fobias, que advinham das “feras do mato”. Estas, entre outras, constituíam-se
de aranhas, cobras, jaguatiricas, porcos-do-mato...
A cantoria dos
macacos era mais intensa nos morros, quando os gritos ecoavam pelos quatro
quadrantes do Vale do Arroio Vermelho. Algumas ressonâncias davam impressão de
macabros concertos, quando a algazarra dos símios, em momentos crescia,
formando um aparente coro satânico. Alguns moradores importunavam-se com a
cantoria, enquanto outros achavam graça. Os humanos cedo constituíam uma
sabedoria com este canto, que ocorrendo significava chuva em aproximados três
dias. As culturas, sobretudo as bananeiras e mamões, viam-se visitados, no que
faziam um consumo generalizado. Alguma surpresa dos bichos, num aparente
descuido humano poderia suceder-se, no que os animais, estendidos nalgumas folhas
de vegetal, atiravam excrementos. Eles adoravam o espaço dos altos galhos das
volumosas árvores, que tornava difícil apanhá-los ou repreendê-los; procuravam
colocar guarda na razão de proteger-se de forasteiros e predadores
inconvenientes.
Os rurais desconhecem
as causas do desaparecimento dos animais, que atribuiu-se a devastação da mata,
migração na direção dos resquícios de floresta e sucessivas pestes. Os macacos,
em épocas, apareciam mortos nas lavouras ou matos, enquanto os urubus davam-se
o trabalho de digeri-los. O rejuvenescimento da floresta promete uma nova
aurora à espécie, que promete sua presença em arroios, encostas, morros e vales
teutonienses.
Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03
10 de setembro de 2005
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