Guido Lang
Um morador rural recebeu uma correspondência do Paraguai. Este manuscrito encontrava-se redigido num espanhol que era de difícil leitura. O colono e familiares, por um bom tempo, debruçaram-se sobre os significados daqueles escritos, que pareciam indecifráveis para leitores de formação escolar primária. Procurou-se levar a carta à professora da localidade, que também incompreendia aqueles registros literários.
Alguém, depois de dias de reflexão e tentativas de elucidar o enigma, lembrou- se do farmacêutico. Este tinha muita prática de decifrar manuscritos, pois as receitas médicas vinham redigidas de uma forma extremamente penosa. O profissional, depois de uma breve olhada, parecia continuamente elucidar os maiores garranchos, quando receitava remédios aos pacientes. O Johann, farmacêutico tradicional do vilarejo e “pau para muita obra”, foi procurado para dar uma olhada naquela mensagem. Este, como de práxis e movido pela sua costumeira curiosidade, não se negou a fazê-lo.
O profissional autodidata, depois de alguns minutos, voltou às estantes da farmácia e começou a pegar remédios. Ele achou que se tratava de algum receituário médico, que era costumeiramente recomendado aos pacatos moradores coloniais. O colono, diante da postura, ficou atônito, porque nem estava interessado em adquirir qualquer medicação.
O sucedido veio a elucidar a aparente suspeita que esporadicamente era comentada nas comunidades circunvizinhas ao lugarejo. O farmacêutico, em diversas oportunidades, comercializava remédios impróprios, que nem tinham recebido recomendação. O vendedor, desta forma, re- solvia seu problema de produtos encalhados, que careciam de compradores. A história do Johann cedo correu as comunidades, que riram da sua infelicidade e malandragem.
Somos, em diversas circunstâncias e momentos da existência, ludibriados em função de artifícios e de ignorância. A confiança excessiva, em situações, acaba aproveitada para tirar vantagem, mas a verdade, cedo ou tarde, revela-se através dos fatos.
* Texto extraído de "CONTOS DO COTIDIANO COLONIAL" (2000), página 32, de GUIDO LANG.
* Edição: Júlio César Lang
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