Guido Lang
A proliferação de açudes tornou-se algo comum nas propriedades minifundiárias de subsistência, quando os órgãos de assistência rural incentivam a criação de peixes.
Inúmeras áreas improdutivas, em forma de banhados, ganharam uma excepcional importância, porque encontraram uma viabilidade econômica.
A piscicultura inclui-se na proposta de tornar viável a pequena propriedade familiar, que se depara com enormes dificuldades para competir com as grandes lavouras comerciais.
A diversificação produtiva pode ser um meio de sobrevivência de diversas famílias, que obtêm novas forma de rendimentos. O contínuo consumo de peixes torna-se uma realidade com a história dos açudes, assim como a comercialização de eventuais excedentes.
Diversos colonos, nos últimos anos, investiram na edificação de reservatórios de água, nos quais criam-se sobretudo a carpa capim e a húngara. Os peixes criados recebem diariamente alguma alimentação, o que acentua o seu rápido desenvolvimento.
A apreciação dos enormes peixes, em meio ao trato, tornou-se um espetáculo que atrai familiares e tratadores.
Os criadores, em diversos momentos, adorariam consumir algum peixe que, no entanto, não vai nos anzóis. Os pescadores clandestinos inclusive afastaram-se dos açudes alheios, porque conhecem a inutilidade das pescarias “nas lavouras alheias”.
O esvaziamento frequente da represa, para apanhar alguns quilos de carne, também é uma impossibilidade.
Um produtor, no entanto, aprendeu uma nova forma de apanhar os peixes. Ele, diariamente, tratava-os num determinado espaço, que o cardume acabou conhecendo.
O inteligente, quando do interesse, deixava-os passar fome, com razão de, em seguida, tratá-los com migalhas. Deste modo, os peixes afluíam em massa. Neste instante, abatia-os a tiros de espingarda, evitando o inconveniente de esvaziar o reservatório e a inutilidade das pescarias.
Alguns pescadores clandestinos descobriram a prática e num cochilo dos proprietários dos açudes seguiram o aprendizado.
A descoberta de novidades pode abrir precedentes para sua aplicação em objetivos escusos.
* Texto extraído de "CONTOS DO COTIDIANO COLONIAL" (2000), página 47, de GUIDO LANG.
* Edição: Júlio César Lang
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