Fonte: Guido Lang, com base no relato de Elton Klepker (primeiro prefeito de Teutônia/RS)
1981 foi o ano que Elton Klepker liderou a emancipação dos distritos de Teutônia, Languiru e Canabarro, que já eram os distritos mais evoluídos do município de Estrela/RS, pois já tinham infraestrutura como luz, água, ruas pavimentadas, escolas, hospitais (Redentor de Canabarro, Teutônia Norte, do Dr. Ruschel, no Distrito de Teutônia, e Ouro Branco, de Languiru), telefonia e tantas outras que já lhe davam, a cada distrito, o aspecto de uma cidade. O único problema, quase insolúvel, era que a emancipação devia ser de três distritos (do mesmo município). Um fato que jamais tinha acontecido de acordo com os registros históricos e que dificilmente acontecerá novamente.
O movimento desta emancipação provinha de um outro anterior realizado em 1963, ou seja, dezoito anos antes. Já naquele momento surgiu a intenção dos moradores dos três distritos de Estrela (Teutônia, Languiru e Canabarro) de emancipar-se do município mãe. A iniciativa já fora liderada por Klepker. Foi então convocada uma reunião para todos os interessados na emancipação. O salão de Oscar Schwanbach, que se encontra hoje ainda no centro do Bairro Teutônia, e que é hoje propriedade da família Suhre, ficou superlotado. Foi uma verdadeira festa popular. Era unânime a vontade de verem os três distritos transformados em um município. Pela legislação da época, era necessário colher um terço das assinaturas dos eleitores que quisessem a emancipação. A coleta foi iniciada já no dia seguinte, com muito entusiasmo por parte de diversos encarregados. Surgiram então perguntas importantes por parte do povo: Em que condições ocorreria a emancipação? Onde ficaria a sede do novo município? Onde seria construída a prefeitura? Cada grupo encarregado da coleta de assinaturas respondia de acordo com seus próprios critérios, já que não havia sido acertado nada na reunião anterior. Estas divergências causaram mal entendidos entre os emancipacionistas dos três diferentes distritos, pois cada qual queria a sede, a prefeitura e outras vantagens para o seu distrito.
Uma das divergências culminou com uma agressão física cometida pelo eleitor Ewaldo Schonhorst, de Pontes Filho, do Distrito de Languiru, ao encarregado da coleta de assinaturas Ewaldo Ahlert, que era do Distrito de Teutônia. Schonhorst agrediu Ahlert, porque, quando Schonhorst afirmou que Languiru não ia acompanhar a emancipação se a sede do município ficasse no Distrito de Teutônia, Ahlert respondeu que “agora eles iriam no cabresto” – expressão usada para dizer que era obrigado a ir, pois o cabresto é uma peça que se enfiava no pescoço do cavalo e que o obrigava a atender ao manejo do cavaleiro. Ao usar essa expressão, Schonhorst, sentindo-se ofendido, deu uma bofetada em Ahlert que o deixou caído. Essa cena, apreciada por Klepker, deixou-o estupefato, e, por isso, resolveu encaminhar um pedido à Assembleia Legislativa do Estado para sustar o movimento emancipacionista. O advogado que requereu mandato de segurança a pedido de Klepker foi o eminente deputado estadual Antonino Fornari, que era natural de Arroio do Meio/RS, mas era considerado um grande amigo de Teutônia, porque sua esposa, a Senhora Ira Sommer, era natural da então Picada Schmidt (hoje Westfália/RS). Deferido o pedido de sustação da emancipação pela Assembleia Legislativa, a legislação, em seguida, mudou, tornando impossível fazer novo pedido. Somente em 1975 foi tomada a iniciativa para novo movimento.
Esse novo movimento, novamente liderado por Klepker, tomou como lição o fracasso de 1963 e, por isso, antes de fazer a reunião preparatória, foram feitas mais de vinte reuniões com as lideranças dos três distritos para se encontrar um denominador comum e para tentar agradar aos três distritos emancipacionistas. Essas reuniões geraram um termo de compromisso assinado por todas as lideranças reunidas. O termo estabeleceu todas as condições e fez parte do pedido de emancipação para o órgão competente, que era a Assembleia Legislativa. Foi preciso encontrar uma redação que definisse detalhadamente qual seria a sede do novo município, pois a sede de um novo município é a área urbana que forma a nova cidade. Quando é um distrito que se emancipa, esta tarefa é muito fácil, mas quando três distritos emancipam-se e cada um quer ser a sede do novo município, tudo fica mais difícil. Houve somente uma solução, que foi inserida no mencionado Termo de Compromisso, em que diz: “a sede do novo município serão as três áreas urbanas das três vilas de Estrela, ou seja, Teutônia, Languiru e Canabarro, mais a área rural necessária para a sua interligação e que deverão ser urbanizadas e, consequentemente, inseridas na área total que constitui a sede da nova cidade”.
O segundo problema a ser resolvido pelas lideranças para constar também no Termo de Compromisso era a microlocalização da prefeitura, pois cada distrito emancipado queria a prefeitura para seu bairro. Resumo: Canabarro queria lá; Languiru queria em Languiru e Teutônia, em Teutônia. Surgiram aí as mais diversas propostas, uma das quais foi apresentada pelo saudoso Bruno Hamester, que queria que fosse demarcado o meio entre os extremos das fechaduras das Igrejas Evangélicas de Confissão Luterana de Teutônia e Canabarro, para que, exatamente no meio, se localizasse “a fechadura da porta da nova prefeitura de Teutônia”. Mas se esse ponto caísse dentro do Arroio Boa Vista? Seguiu-se uma grande gargalhada por parte dos líderes presentes ao encontro em que Hamester apresentou sua sugestão. Finalmente, foi aceita uma proposta de Klepker com relação à construção da nova prefeitura, que, segundo ele, seria edificada pelo primeiro prefeito eleito em uma área que não se distanciasse mais de duzentos metros da divisa entre os distritos de Languiru e Canabarro. O nome do município foi aceito pacificadamente pelas lideranças reunidas em virtude da origem étnica dos habitantes emancipacionistas. Acertados os demais detalhes, foi lavrado e assinado o histórico Termo de Compromisso que fez parte do processo de emancipação.
O plesbicito foi realizado aos 24 dias do mês de maio de 1981. O “sim” obteve uma vitória de dois votos por um. Estava criado o Município de Teutônia. E, em 03 de outubro de 1982, aconteceu à primeira eleição para prefeito, vice-prefeito e nove vereadores. Os candidatos para prefeito e vice-prefeito foram Elton Klepker e Silvério Lüersen, que enfrentaram Silvio Brune e Júlio Ernani Sippel. Klepker e Lüersen venceram. Além deles, foram eleitos os seguintes vereadores: Egon Edio Hoerlle, Willy Ricardo Wolf, Ledi Schneider, Cláudio Wiebusch, Selby Wallauer (nomeado Secretário da Educação, foi substituído pelo primeiro suplente Airton Guilherme Grave), Ronald Orlando Goldmeier, Mário Wink, Alcido Lindemann e Dorival Bez Machado. Klepker, embora iniciando a administração do ponto zero, como acontece com todo novo município, enfrentou e superou todas as dificuldades. Cumpriu à risca o Termo de Compromisso, editado por ele, e que lhe impunha a tarefa de construir um Centro Administrativo.
O Centro Administrativo iniciou a história mais polêmica de Teutônia. Para construir o centro, foi preciso adquirir uma área de terras. Klepker procurou fazer um acordo com os proprietários de terras entre Languiru e Canabarro, onde deveria ser construída a obra (conforme o Termo de Compromisso). Achou por bem propor aos proprietários adquirir a área necessária, trocando cada hectare de que precisava por quatro terrenos com toda a infraestrutura. Havia em torno de quarenta proprietários rurais entre Languiru e Canabarro; aí começou uma “verdadeira guerra”. Mais ou menos a metade desses proprietários posicionou-se a favor da proposta de Klepker, enquanto a outra metade pronunciou-se contrária. Isso tudo era consequência da eleição municipal. Os integrantes da Arena (Aliança Renovadora Nacional), que tinham apoiado Klepker, continuavam a apoiá-lo na cessão de suas terras; a outra metade, ligada ao MDB (Movimento Democrático Brasileiro), era contrária e era “atiçada” pelas lideranças políticas, “ainda com cabeça quente”, em função da eleição perdida. Esta discordância obrigou Klepker a iniciar o processo de desapropriação contra os adversários, por quanto por parte dos apoiadores (concordantes) era lavrada uma escritura pública amigável. Os processos desapropriatórios tomaram vulto de descontentamento e foi preciso recorrer a todas as esferas judiciais, mas todas deram ganho de causa ao prefeito.
O caso até gerou a intromissão do clero, dado que, em uma reunião do Concílio Eclesiástico, os doze pastores das comunidades evangélico-luteranas (IECLB), credenciaram o pastor Edgar Hummes, da comunidade Paz, do Bairro Teutônia, a redigir um manifesto assinado por onze pastores, incriminando o prefeito Elton Klepker por ter tirado o pão da mesa dos filhos dos agricultores dos quais “tirara terras”.
O termo comprovou que Klepker estava certo. Hoje, tanto os que cederam amigavelmente suas terras e, principalmente, os que perderam a questão na Justiça – acusando Klepker de ter-lhes tirado ou extorquido suas terras – estão rindo “com a boca atrás das orelhas”, como se diz na gíria, porque se convenceram da vantagem do negócio, já que o lucro foi unicamente deles. Em média, foram desapropriados somente 18% das terras de cada proprietário, os restantes 82% valorizaram milhares de vezes ao ponto de um terreno hoje valer mais do que toda a área naquela época. Os pastores, que assinaram o documento, devem estar sabendo também da injusta acusação que fizeram e nem pediram perdão. Klepker, no entanto, como bom cristão, perdoou-os sem que tenham pedido perdão, já que Klepker norteou e ainda continua norteando toda a sua vida nos princípios cristãos que foram legados pelo seu inesquecível pastor Wilhelm Ziebarth, que o batizou, confirmou e casou.
*Texto extraído do livro “AS MEMÓRIAS E HISTÓRIAS DE ELTON KLEPKER: CRIADOR DO MUNICÍPIO DE TEUTÔNIA/RS” (2008), páginas 34 até 37, de GUIDO LANG.
* Edição: Júlio César Lang
* Crédito da imagem: https://www.teutonia.rs.gov.br/o-municipio/
Nenhum comentário:
Postar um comentário