segunda-feira, 30 de março de 2020

A LOCALIZAÇÃO DE ESTRELA/RS

Pânico: sapo gigante e perigoso se esconde dentro de casa na ...

Guido Lang

A vida consiste de alegrias e decepções; valemos, na sociedade consumista, na proporção dos benefícios que trazemos e somos descartados no volume dos encargos que causamos.
A vida, em circunstâncias e momentos, faz-nos deparar com instantes de burrice e ingenuidade.
Um colono, incomodado com a contínua presença de um sapo, "resolveu mostrar a localização de Estrela ao anfíbio". O bichinho, numa oportunidade, tinha sido levado e jogado nas águas do arroio Boa Vista, mas resolveu retornar às instalações criatórias daquele morador. A abundância de alimentos, em função da fartura de insetos, motivou-o a habitar aquele meio. As moscas criavam-se abundantemente nas estrumeiras e era necessário que a procriação excessiva fosse controlada naturalmente. O morador rural, não gostando de sapos e temendo pela saúde das criações e rebentos, resolveu “acabar com a raça” daquele ousado anfíbio que, no entanto, entendia-se como amigo e parceiro no sucesso econômico. O colono, num dia de mau humor, apanhou um sarrafo (ao alcance da mão) para bater no infeliz sapo. Procurou, num primeiro instante, respirar fundo e, com toda força, bateu no alvo e num dos azares da existência,
errou a pontaria. O bichinho deu um pulo e se livrou da desgraça.
O cidadão, com a força da batida, quebrou a madeira em diversas partes e um pedaço voou em direção ao seu nariz. A batida, efetuada numa pedra, causou o infortúnio, que acirrou a raiva do autor. O camarada,  em meio a dor e sangue, deu gritos de fúria, assim como, refletiu sobre a burrice do seu ato. O rosto, nos minutos posteriores, começou a inchar e a aplicação de gelo parecia insuficiente para sanar as marcas do acidente. Os familiares precisaram ajudar na emergência e os vizinhos estranharam o “griteiro”. Os amigos, ao saberem do ocorrido, deram gargalhadas da esdrúxula situação.
A história de mostrar a exata localização de Estrela, conforme afirmativa explanada anteriormente ao sucedido, ficou registrada na memória comunitária.
Os seres vivos de escala evolutiva inferior à humana também merecem nossa consideração e respeito, pois não tem culpa de sua situação  e adoram, igualmente, viver. Deus, em certas situações, pode não matar, mas dá-se ao trabalho de castigar os atos impensados.

* Texto extraído de "CONTOS DO COTIDIANO COLONIAL" (2000), página 21, de GUIDO LANG.

* Edição: Júlio César Lang

* Crédito da imagem: https://br.sputniknews.com/

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