quinta-feira, 21 de abril de 2016

Os guardiões dos pátios


Quaisquer casas coloniais, a semelhança das plantas ornamentais, ostenta alguma cachorrada. Esta, em três turnos, zela pela vigilância. Denuncia a presença de forasteiros. Os tradicionais latidos assinalam alguma anormalidade. A inquietação obriga averiguar o comportamento. Os  animais, em boa dose, revelam-se o espelho dos donos.
As histórias de cachorradas costumam ser inúmeras (nos contextos familiares e comunitários). Alguns animais, em função da convivência e proximidade com os humanos, “faltariam somente falar”. As narrações, de excepcionais aventuras e caçadas, revelam-se realidades comuns. O exemplo dum cachorrinho, exímio caçador, conseguiu matar duas raposas (de forma paralela). Mordia uma e, em seguida outra, para nenhuma fugir. Certas odisseias, não  fossem vistas, seriam causa de lorotas. Outros guaipecas, num domingo de tarde, denunciaram sinistro. Estes, de forma desesperada, latiam para alertar os donos. Algum mais, em meio a romaria por fêmea, adveio castrado (resultado: deixou de ser caçador e assumiu ares de dorminhoco).
A cachorrada, em síntese, costuma ser o retrato do adestramento. Estes, bem cuidados e tratados, transparecem o capricho. A consideração como se fossem membros da família. Outros, amarrados em cada canto do espaço e em meios as necessidades, retratam o desleixo e espírito possessivo. Famílias, com animais agressivos (nos pátios), costumam revelar a escassa consideração por visitação. Outros, muito amigáveis, a alegria de relacionar-se e receber a presença da vizinhança. Alguns, muito apegados a caça, foram treinados para dar essa função. Acompanham, como maior alegria e satisfação, as idas e vindas dos donos pelos espaços. Costumam devassar o terreno (atrás de descuidadas presas).
A curiosidade relaciona-se aos nomes. Cada animal, de um a cinco nos pátios, recebe uma alcunha/denominação. Uns ligam-se as figuras folclóricas da história. Exemplos: Bin Laden, Nero, Napoleão... Alguns mais afetivos: Boby, Lesse, Xuxa... Outros gerais: Chiquinha, Faísca, Piloto... Denominações, de preferência, de fácil pronúncia. Outra realidade liga-se ao número de membros: famílias abonadas – poucos bichos; humildes – um bicharedo (espalhado pelos quadrantes). Parecem temer pela segurança assim como ver surrupiado o pouco patrimônio (acumulado com tamanhas dificuldades). A cachorrada zela pelo espaço familiar. Os pátios, sem a tradicional presença de caninos, significam a fácil invasão e petulância alheia. O bicharedo, da fauna silvestre, cedo ostenta-se abusada e ousada (na porporção de não sentir cheiros de cachorrada).
Quem não sabe especiais histórias de animais? Cães que fizeram fama pela ousadia e petulância? A cachorrada, enquanto ainda não conhece o valor do dinheiro, mantém-se como os mais fiéis amigos e parceiros dos homens. Eles, na prática, repassam o espírito dos seus donos.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://casa.hsw.uol.com.br/5-melhores-caes-de-caca.htm

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