quinta-feira, 28 de abril de 2016

O Vale das Lágrimas


Os ancestrais, com a carência de recursos médicos e “perdidos na floresta subtropical”, conheceram dias ásperos e cruéis nas colônias teutonienses (localizadas no Estado do Rio Grande do Sul). A morte, através da diversidade de acidentes e moléstias, mantinha “um flagelo e sonho dantesco” nas famílias dos pioneiros. Pouquíssimos clãs safavam-se dos infortúnios, que diariamente “rondavam a lei da sobrevivência”. Os cemitérios, sobretudo na ala juvenil, são testemunho de uma época, quando encontra-se sobrenomes de todas os clãs.
A cólera, febre amarela, gripe espanhola, peste bubônica, pneumonia, tifo, varíola, como exemplos comuns, foram temidas epidemias, que alastravam-se nos cantos e recantos das picadas (linhas). Estas, como “flagelo demoníaco”, ceifavam valiosas vidas, quando desconhecia-se a ação dos microorganismos. Os micróbios atacavam de forma mortal diante da limitada eficiência de chás e ervas ou recursos dos remédios caseiros. As famílias careciam de dinheiro para custear médicos, que eram raros e residiam longe.
Algum morador ou viajante, da cidade à colônia, poderia introduzir germes de moléstias, que, com limitadas condições higiênicas e permanente convivência com criações conheceram a fácil proliferação. As epidemias e mortes causavam “pavores comunitários” quando famílias, com algum contágio dum membro, conviviam com o aparente abandono e isolamento. Alguma patologia, em horas, difundia aos quatro quadrantes, quando os temores viram-se divulgados e instalados no meio comunitário.
As localidades, entre 1862 e 1930, tornaram-se “um vale de prantos” quando o choro, lamentações, lágrimas... sucediam-se nas propriedades coloniais. A morte era um “fantasma permanente”, quando pais enterravam o mais valioso nas suas vidas – a própria carne através dos seus filhos. Os flagelos, em diversas almas amarguradas, trouxe desânimo e desesperança, que auxilia a explicar os suicídios. Os escritores de pastores, nos registros de óbitos, parca referencia fazem aos sucedidos cotidianos dos moradores, que expressam as dores do espírito...
A medicina moderna, com campanhas de saúde pública, dedetização, introdução de antibióticos e melhorias de condições higiênicas, reverteu o quadro de flagelo, mas histórias dos ancestrais permanecem vivas dos dias derradeiros da colonização. Queira Deus! Que outros “dias tenebrosos” jamais abatam-se sobre as esbeltas colônias e o vale das lágrimas fique como registro dum passado remoto.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03, edição 43
15 de outubro de 2005

Crédito da imagem: http://vivendoja.blogspot.com.br/

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