Um ancião, com a vida dedicada a agricultura de subsistência, mantinha um profundo amor a terra. A propriedade, num capricho e dedicação ímpar, fornecia os ganhos e o sustento familiar. Este, desde o momento de conceber-se como gente, assimilou o amor ao lugar e a tradição do trabalho. O gosto e a vocação nunca permitiu desvencilhar-se do manejo da terra.
A propriedade, localizada numa encosta de morro, dificultava a locomoção e mecanização. O trabalho maior era a base da tração animal e braçal. O solo, de maneira geral, viam-se ocupado com uma diversidade de culturas. O agricultor, de várias plantas domesticadas, procurou cultivar um pouco (com vistas ao auto-sustento). Exemplos, entre as várias culturas, foram o aipim, amendoim, arroz, feijão, frutífera, fumo, hortaliça, milho, verdura... As criações principais envolviam aves, gado (tambo), porcos...
Os anos e décadas transcorreram em meio as judiadas e penosas jornadas. A idade trouxe o peso dos anos/velhice. O trabalho braçal, nas encostas das elevações, tornou-se impróprio e inviável. Algum rebento, sem maior interesse e vocação, precisou assumir a propriedade. A solução, em função do descaso, foi comercializar parte do lote e outra reservar a silvicultura. O ancião, na proporção dos anos, obrigou-se a morar na cidade. Algum filho assumiu a incumbência de ampará-lo (nos dias finais e penosos). A labuta tornou-se uma completa inviabilidade e sobraram lembranças dos tempos do vigor físico.
O cidadão, no desfecho da existência, efetuou um último pedido (num dia desses). Este, numa certa oportunidade, queria refazer a visita a velha propriedade. O desejo ardente de rever a antiga moradia e terras. O ancião, na proporção da presença, apreciou as lavouras de cereais, olhou as diversas frutíferas, reparou matos (nativos e reflorestados), viu as colmeias encaixotadas... O desfecho, num último olhar, consistiu numa visão panorâmica sobre o lugarejo. A localidade, na amplidão e formosura, entendia como dádiva divina. Deus, Todo Poderoso, tinha-lhe sido generoso pela oportunidade de passar anos tão bons neste esplêndido lugar foi seu comentário.
Um filho, num domingo ensolarado, tinha-lhe feito a gentileza do passeio colonial. O senhor comentou e narrou algumas reminiscências. Inúmeras experiências e histórias pitorescas do passado rural ainda foram narrados e relatados. Os familiares e moradores, em diversas momentos das conversas informais, tinham ouvido falar de acontecimentos e fatos. Uns poucos dias transcorreram da visita. O filho das colônias baixou a sepultura para o seu repouso derradeiro. Este, sem antes rever sua antiga paragem (numa última ocasião), não pôde fechar os olhos e o livro da existência. O apego a terrinha, apesar das dificuldades de toda ordem foi necessária (com razão do descanso sereno e a paz de espírito).
O colono, em função das criações e plantações, mostra-se um cidadão aficionado e apegado a terra. A propriedade, no item qualidade de solo e presença de fontes, revela seu maior patrimônio. Uns coloniais, no seio dos solares, tiveram o privilégio de nascer, crescer, viver e perecer no torrão familiar (na idêntica casa, pátio e propriedade). O cenário de moradia ostenta-se um reflexo do espírito dos seus ocupantes. A dignidade e qualidade de vida consiste em conciliar os confortos da cidade com a natureza das colônias.
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem: parasalvarvidas.blogspot.com
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