segunda-feira, 15 de julho de 2019

Artimanhas e Brincadeiras Coloniais

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Guido Lang

Os roubos eram fatos raros nas comunidades rurais, quando, num tom de astúcia, permitia-se roubar unicamente galinhas e melancias. O proprietário das aves, com razão de mostrar a esperteza e ousadia, era comumente convidado à ceia, quando noutro dia, unicamente notava a ausência das suas adoradas e preciosas poedeiras. Este, num primeiro instante, nem quisera acreditar nos fatos, quando “pregaram-lhe uma tremenda peça”.
A invasão da roça alheia, com a finalidade de obter algumas melancias, era uma brincadeira rotineira no meio colonial. A existência de uma abastada e bonita lavoura de frutos cedo espalhava-se aos "quatro ventos'', quando alguma turminha improvisava uma visitinha.
A invenção de histórias, aos fofoqueiros, consistia noutra artimanha, quando alguém, com vista de aplicar um bom trote ao “comentarista comunitário”, criava alguma mentira. Esta era narrada ao ouvinte, que, na primeira oportunidade, tratava de passar adiante a versão. Os fatos contados costumeiramente eram assuntos combinados com os atingidos, quando os comentários não passavam de uma “baita invenção”.
O baralho era um passatempo rotineiro nas colônias, quando, em meio ao jogo, alguém prestava-se a “fazer mutretas”. Este não sabia perder, quando tratava-se de valer-se de artifícios. Estes, como, dar-se maior número de cartas ou esconder outras, eram descobertos, quando o elemento desonesto era colocado em “banho-maria”. Ele era paulatinamente excluído das rodadas.
A existência de tesouros, nos remotos interiores, fascinou a imaginação de aventureiros e caçadores de riquezas. As conversas comunitárias costumeiramente criavam histórias e lendas, quando surgiam recantos misteriosos. Estes, nos cemitérios, grutas, igrejas, matas e moradias, eram procurados, quando forasteiros, nas caladas da noite e no transcorrer de domingos, davam-se tempo de vasculhar lugares e trabalho de cavoucar buracos. A inutilidade da procura era causa de gargalhadas e os esporádicos sinais de riqueza motivo de peripécias.

Guido Lang – Escritor, historiador e professor
Fonte: Revista Vitrini (Campo Bom/RS), número 35, outubro de 1997, página 16.

Crédito da imagem: https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g2572696-d9838838-i218692697-Nucleo_de_Casas_Enxaimel-Ivoti_State_of_Rio_Grande_do_Sul.html


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