Guido Lang
A costura de roupas, até os anos de 1970, era muito expressiva no meio colonial, pois era comum a confecção de tecidos. As vendas, costumeiramente, comercializavam os tecidos, que eram comprados pelos rurais e levados, na primeira oportunidade, até os profissionais de costura. Essas atuavam nas residências e uma boa moça de família tinha a obrigação de assimilar o conhecimento de costurar e remendar.
Um cidadão “pão-duro”, característica comum entre os teuto-brasileiros, resolveu aproveitar uma oferta de tecido, que era muito propícia à confecção de calças. Ele adquiriu a quantidade para a confecção de quatro peças, que foram costuradas por uma profissional de circunvizinhanças. As calças, de imediato, passaram a ser usadas nos diversos eventos comunitários, assim como nos afazeres domésticos.
Algumas moradoras, aos poucos, começaram a comentar o fato do colono usar sempre a mesmíssima calça. Pois ele comparecia, a todo lugar com a mesma vestimenta, por isso começou a cair nos comentários e gargalhadas comunitárias. Algumas quiseram saber do procedimento de lavagem da peça, que parecia jamais ser tirada do corpo. Ela certamente seria lavada à noite e, em seguida, secada no fogão; noutro dia retomava sua finalidade original.
Uma senhora, “boca grande” e mexerica nos afazeres alheios, resolveu interrogar o morador, com o intento de inteirar-se do mistério da calça. O senhor daí contou a história da confecção das calças idênticas. A curiosidade popular, desta forma, acabou desfeita e o tormento das fofoqueiras viu-se sanado.
O indivíduo não deve optar pelas mesmas cores com a finalidade de mudar o visual. A riqueza das coisas reside na diversidade e não na unanimidade dos artigos e opiniões.
(Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página 34, de Guido Lang).
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