Guido Lang
Os livres pensadores eram uma espécie de intelectuais comuns no meio colonial. Eles eram os indivíduos mais esclarecidos e com forte influência assimilada pelo iluminismo e maçonaria. Adoravam criticar e questionar os princípios cristãos e combater as superstições.
Frederico, um forte colono teuto-brasileiro e estabelecido no interior de uma localidade, dizia-se livre pensador. Ele, do seu avô e seu pai, recebeu influência dos iluministas (Diderot, Montesquieu, Rousseau e Voltaire), que se valeram da razão com vistas a descobrir o mundo. Koseritz, a nível estadual, era a sua maior influência, pois afinava com suas ideias (de Deus estar presente na natureza). A leitura, em meio às tarefas rurais, era uma necessidade, e o Almanaque do Pensamento, Brasil Post e Neu Deutsche Zeitung eram intercambiadas entre parentes e vizinhos, que fechavam com as suas concepções ideológicas.
Os filhos semanalmente tinham a missão de levar e trazer os escritos, que circulavam em diversas residências. O debate sobre informações e temas sucedia-se nas rodadas de aperitivos ou jogos de cartas, assim como nas visitas específicas, sobretudo nos dias chuvosos, para aquela finalidade. Os retornos da venda colonial eram outro momento significativo para o diálogo e para reflexões, quando ficava-se conversando à beira da estrada (junto ao acesso de alguma propriedade rural). As concordâncias e discordâncias, num alto nível e impulsionadas pela dose alcoólica, faziam-se grandes polêmicas.
Frederico, pelo conhecimento assimilado e experiência vivenciada, tornou-se um formador da opinião pública comunitária. A colonada, diante dos “dilemas da burocracia estatal e problemas existenciais”, consultava-o com a finalidade de “ouvir saídas e sugestões frente às problemáticas”. Alguns moradores e o pastor, no entanto, conheciam suas concepções materialistas e panteístas, porque em situações, acreditava na matéria e noutras na presença de centelhas divinas no conjunto da natureza.
O camarada, no ambiente doméstico e familiar, mantinha inclinação a benzeduras e superstições. Ele em meio à incredulidade cristã, fazia o ato de benzer em “nome do Pai, Filho e Espírito Santo”. Mas, noutro exemplo, não deixava varrer após o pôr-do-sol, pois “temia varrer a sorte porta afora”. Frederico, portanto, ostentava um sincretismo, que mesclava crenças do período das “Luzes” com o das “Trevas”.
Todos nós, de alguma forma, confundimos concepções e filosofias, que mesclam conhecimentos científicos com empíricos.
(Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página 13, de Guido Lang).
Crédito da imagem: https://revistagalileu.globo.com
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