Guido Lang
Um construtor, colono nos raros momentos sem serviço, ostentava um imenso apego à entidade religiosa e à fé cristã. A família e a religião pareciam ser a sua razão existencial. O trabalho comunitário, na sua concepção particular de vida, devia ser prestado gratuitamente e o auxílio à igreja “contaria pontos para absolvição divina”.
A instituição religiosa, em função do aumento populacional e do estado precário do templo, viu a necessidade de edificar um novo prédio, afinado com as novas linhas arquitetônicas e situado numa colina de majestosa visão panorâmica. Uma comissão de construção, integrada basicamente pela elite econômica, fora constituída e nomeada, e saíra a arrecadar fundos.
Seu Heinrich, afamado e exímio construtor e com pedidos de obras nas diversas colônias (picadas) para a edificação de galpões e moradias, foi destacado como mestre-de-obras e pedreiro chefe. Este, com o maior orgulho e satisfação, aceitou a sublime tarefa e ainda colocou-se à disposição para labutar gratuitamente na empreitada. Ele vislumbrou a oportunidade de deixar uma obra para gerações, assim como seu nome eu ficaria registrado na memória daquela construção e localidade, dentro dos relatos comunitários. Os netos e bisnetos ficariam orgulhosos com os feitos do antepassado, que teria inscrito seu nome nos anais da comunidade e entidade.
O trabalho, depois de contínuas campanhas de arrecadação de doações e promoções, desenvolveu-se no decorrer de dias, semanas e meses. Os moradores, de maneira geral, acompanharam acirradamente as obras e o “Seu Heinrich’’ era admirado pelo conhecimento e dedicação. Este, há um bom tempo, labutava exclusivamente na construção do monumental empreendimento, que tornou-se um protótipo para a religião.
O templo, a duras custas, fora concluído. Chegou o dia da inauguração. As autoridades eclesiásticas e membros, presentes em massa, esperavam o momento culminante. A multidão admirou-se da magnitude do prédio, que seria oficialmente inaugurado com o badalar dos sinos. Heinrich, como construtor voluntário, esperava ter a honra e o privilégio de puxar o sino. A comissão e diretoria, diante do desconhecimento das pretensões, esqueceu de oferecer-lhe a devida consideração. O pedreiro magoou-se profundamente pela desfeita. Este, como represália, nunca mais colocou os pés naquele prédio, assim como jamais voltou a labutar gratuitamente.
“O burro que mereceu o pasto pelo seu trabalho geralmente nunca come deste”.
(Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página 11, de Guido Lang).
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