Karl ostenta-se o
patriarca da descendência no Brasil. A história pouco se ocupa com os heróis
anônimos. Procurou-se, como descendente, escrever sua singela biografia (com
vista de eternizar a história e resguardar o orgulho do sobrenome).
O patriarca teve
atormentada existência. Ele, conforme certidão de nascimento e casamento,
nasceu em 22 de maio de 1859, filho de Maria Elisa Staalkamp e de Karl Heinrich
Strate, natural de Atter, círculo de Osnabrück/Hannover/Prússia. A família
Stratemann, denominação original do sobrenome, tinha seis irmãos que foram
recrutados, durante quatro anos, para servir no exército prussiano. A Prússia
precisava de homens em função das guerras de unificação (alemã) de Bismarck
(contra Áustria em 1864; Dinamarca em 1866; França em 1870). Karl negara-se a servir o
exército, pois não concordava com as constantes guerras na Europa Central
(razão de tamanhas destruições, dificuldades econômicas e mortes). Este, em
decorrência, resolvera evadir-se do serviço militar e da Alemanha (para não ser
outra vítima do flagelo dos conflitos do imperialismo). Consta, pela tradição
oral, ter sido poupado pela família em função de preservar o sobrenome; seus
irmãos teriam tombado nos conflitos e ele o único sobrevivente dos filhos. Os
relatos fazem referências de suborno na alfândega para conseguir esconder-se
num navio (que o levaria à América). Os excedentes populacionais eram um
problema na Alemanha. Levas de alemães, através da Holanda e Bélgica (devido à
proibição da emigração), safaram-se do solo germânico com vistas de dirigir-se
ao Novo Mundo (uma questão de sobrevivência para milhões de teutos).
A escolha do Brasil
estivera ligada as notícias dos imigrantes westfalianos. Algumas levas, a
partir de 1868, tinham-se estabelecidos na Colônia Teutônia (fundada em 1858).
Inúmeros conterrâneos de Osnabrück, inclusive da aldeia de Atter, já moravam
nestas paragens. Eles, através de cartas, narravam notícias da fertilidade das
terras, das aparentes facilidades de compra de terras e a existência de riqueza
vegetal (abundância de caça e madeiras). Os pioneiros, acima de tudo, falaram
da liberdade, porque aqui eram “donos do seu próprio nariz e não agregados e
semiescravos como na Westfália”. Karl, de aproximadas nove semanas de travessia
do Oceano Atlântico, chegou em 1885 ao Brasil. Imigrou, a princípio, de forma
clandestina, pois não se encontrou documentação de entrada. Temeu, ao longo da
vida, a ideia de ser repatriado e servir no exército. Instalou-se, junto a
conhecidos, na Picada Schmidt (atual sede da Westfália/RS).
Ele, em 7 de junho de
1886, casou com Maria Lisete Schröer (1862-1944). Ela era filha de Maria
Chistina Kohnhorst e Germano Henrique Schröer (falecidos na Westfália/Prússia),
natural de Ladbergen na Westfália/Prússia e imigrou, com os parentes Schröer,
por volta de 1873. O casal teve os filhos: Frederico (1886-1964), Guilhermina
(1888-1878), Henrique (1891-1980), Carlos (1893-1971), Guilherme (1896-1964),
Reinoldo (1898-1933) e Francisco (1903-1971). A família tentava adquirir um
lote colonial na Picada Schmidt (referência ao primeiro morador Christiano
Schmidt). A Colônia Teutônia, entre 1865 a 1890, estivera em pleno
florescimento e a colonização westfaliana definitivamente implantada tinha
conseguido alcançar os primeiros frutos. O preço dos prazos já tinham
valorizado e o tamanho diminuído. O constante afluxo de novos imigrantes
inflacionou os preços dos lotes.
A família Strate batalhava
às estabilidade econômicas, no que o imprevisto abateu-se. Karl envolveu-se
numa querela de negócios (com outra família). Acabou assassinado em função duma
transação de cavalos e, na surdina, colocado ferido na cama (familiar).
Recebera uma cadeirada na cabeça e pereceu desse flagelo. Consta, conforme o
Livro de Falecimentos (1887-1978) da Comunidade Zion de Teutônia – página 42,
número 340, “Karl Heinrich Strate, enterro no dia 07/12/1905 – Picada Frank,
nasceu em 22/05/1859. Colono, origem Osnabrück, falecido em 06/12/1905”. O
pastor ignorou/omitiu a causa da morte (assassinato) nos registros. Foi
enterrado, num canto, no Cemitério Evangélico da Picada Frank (Cemitério
Velho/desativado - aterrado para ser estrada comunitária). Ele não recebeu
lápide (em função da extrema pobreza familiar). A história abafada no meio
comunitário, porém resguardada na tradição oral (narrada na “surdina” de ouvido
em ouvido nas conversas informais). A família ficou marcada e passou por
extrema miséria. Os Strate foram obrigados a renunciar ao lote colonial (não
puderam pagar a companhia colonizadora). Ela tratou de migrar à Picada Boa
Vista/Colônia Teutônia. Conseguiram outra propriedade, através de parentes,
para reiniciar sua odisseia. Os filhos cresceram, constituíram grandes famílias
e o sangue dos Strate, na atualidade, encontram-se disseminado por diversas
clãs. Alguns encontram-se espalhados por inúmeras plagas da América Meridional.
Karl, portanto, era um dos
pioneiros, que não chegaram a colher os louros da colonização. Encontrou-se a
conquistar a terra prometida, no que o imprevisto abateu-se como desgraça. Os
descendentes, porém escreveram excepcional epopeia nos inúmeros empreendimentos
(com razão de alcançar a dignidade e qualidade de vida). O sobrenome Strate, na
atualidade, mostra-se uma referência entre os gloriosos nomes da descendência
westfaliana (em terras americanas). Diversas entidades ostentam-no em suas
diretorias e membros. Propriedades minifundiárias de subsistência familiar
inscrevem-no pelo capricho, organização e trabalho. Profissionais liberais
colocam-no em consultórios e gabinetes. Karl soube semear suas sementes do
porvir com sua vasta descendência.
(Fonte: Guido Lang, O Informativo de
Teutônia, nº 23, dia 29/11/1989, pág. 02, texto reescrito).
Crédito da imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Teut%C3%B4nia
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