Guido Lang
Um trabalho audacioso e sublime foi praticado pelas parteiras coloniais, que assumiram a tarefa de auxiliar a "dar a luz" as mulheres gestantes. Estas parecem esquecidas na literatura e nas reminiscências comunitárias, pois, com a modernização e popularização dos recursos médicos e hospitalares, desapareceram do meio rural. Elas, no entanto, durante décadas, prestaram um imenso serviço social, auxiliando na perpetuação do gênero humano. Inúmeras vidas foram salvas graças aos seus conhecimentos higiênicos e medicinais, entretanto, na maioria dos casos, labutaram em meio a uma precariedade de recursos. Elas não mediam distâncias e esforços, mesmo, na calada da noite ou nas adversidades do tempo, tratavam em dar curso a algum nascimento emergencial.
As parteiras, costumeiramente, moravam esparsadamente no meio rural, sendo que uma prestava serviço para diversas localidades num raio de quilômetros. Elas, em diversas situações, ficavam de sobreaviso, quando havia alguma mulher em final de gestação; noutros momentos eram chamadas com emergência. Algum pai ou vizinho da parturiente tratava de apanhá-la às pressas e encaminhá-la à casa da gestante. Ela, neste contexto, precisava percorrer enormes distâncias à cavalo, deixando de lado afazeres particulares e horários. O importante consistia em dar vazão à vida.
As “profissionais” não tinham maior especialização teórica, que inexistia naquela época e situação. Os conhecimentos advinham da prática e eram assimilados a partir da convivência com uma antecessora. As parteiras idosas, com dezenas ou centenas de serviços prestados e décadas de atuação, tratavam de ensinar uma sucessora à medida em que suas forças se esvaíam. A escolha podia recair nalguma moça da família, quando havia interesse e vocação pela penosa tarefa; noutros momentos, diante do desinteresse familiar, podia cair nalguma parente ou vizinha. Esta, durante a aprendizagem, era destacada como auxiliar, e progressivamente ia assimilando e dominando os diversos segredos. Vivenciar um parto tornava plenamente possível a atuação, e, na medida da eficiência e dos resultados positivos, sua fama “corria o mundo circunvizinho”. Algumas famílias, neste ramo, adquiriram fama e reconhecimento comunitário e o trabalho passava de herança de avó, mãe, filha e neta.
As parteiras, em algumas ocasiões, precisavam passar dois a três dias nalguma casa familiar devido a partos transcorridos com dificuldades. Elas tratavam de atender o recém-nascido e a mãe, quando havia riscos de vida. Os cuidados com a limpeza interna da genitora e do umbigo do recém-nascido eram imensos devido às possibilidades de infecção e sangramento. As massagens e tratamentos faziam-se necessários. Ela só partia depois da plena recuperação da mãe e do nenê. Alguma familiar ou vizinha tratava de auxiliar a família, ajudando a parteira nos trabalhos complementares ao parto, ocupando-se com a limpeza da residência, procurando cozinhar, etc... Esta pessoa permanecia por mais tempo na moradia, podendo ficar semanas ou meses (conforme o restabelecimento da mãe e da saúde do recém-nascido).
As crianças e maridos não podiam presenciar os trabalhos de parto: a presença feminina assumia completamente o quarto. As crianças, costumeiramente, eram deixadas nalguma família, a permanência podia ser por horas ou dias. Elas, com alguma antecedência, eram avisadas da chegada da “cegonha do banhado”, que traria um novo membro para a família. As explicações, no entanto, nunca entravam em detalhes, eram “guardadas a sete chaves”. Os maridos nem tomavam conhecimento dos serviços das parteiras, que se sucediam unicamente no meio feminino. A ética social da época inviabilizava maiores curiosidades ou interrogações sobre o majestoso trabalho.
As parteiras coloniais, portanto, prestaram um importante e sublime serviço social em meio ao contexto de carências médicas e de recursos financeiros. Os seus conhecimentos suplementaram os instintos maternos e a vazão natural da vida. Estas ostentavam uma vocação à existência humana, sendo que não poupavam distâncias e energias para auxiliá-la a multiplicar-se.
* Fonte: Disponível no livro "OS COLONIZADORES DA COLÔNIA TEUTÔNIA: COLETÂNEA DE TEXTOS", de Guido Lang.
* Postagem: Júlio César Lang.
* PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998).
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