Guido Lang
O meio colonial, até os anos setenta, tinha uma intensa atuação de profissionais da costura, que espalhavam-se no contexto das localidades. O quadro era integrado por moças e senhoras, que mantinham costumeiramente uma grande lista de clientes. A fama e glória das costureiras podia abranger picadas circunvizinhas, de onde afluía a clientela. Os conhecimentos na costura e o preço dos serviços eram ingredientes básicos para alcançar a acentuada procura dos préstimos, que tinham maior procura nas épocas próximas à eventos festivos especiais. Os festejos de Kerb eram o grande período da fartura financeira e as profissionais não davam conta dos pedidos. Algumas recusas, em situações, tornavam-se uma realidade, quando as encomendas chegavam muitíssimo em cima da hora ou quando o contratante era péssimo pagador.
Os rurais adquiriam os tecidos nalguma venda, que os comprava em rolo e os vendia em metragem. O cliente adquiria a quantidade necessária para alguma camisa, calça ou vestido, e o produto da compra, em seguida, era encaminhado à costureira. Esta costumeiramente tirava as medidas no ato e anotava-as nalgum caderninho. As partes, neste instante, aproveitavam o momento para descrever os detalhes do modelo da costura, quando podiam advir ideias e sugestões da própria pedinte ou da profissional. Os exemplos de alguma publicação, podiam somar-se ao contexto, quando podia introduzir-se uma nova moda. O uso da roupa, costumava gerar amplos comentários, e era motivo de cópia e de ostentação da vaidade feminina.
As profissionais tinham suas máquinas de costura adquiridas a duras economias. As famílias, sobretudo os pais, esforçavam-se para poderem comprar este bem, que era destinado à menina moça. Esta também recebia o curso, que era concretizado com alguma profissional. Ela, a partir daí, tinha o compromisso de costurar as roupas dos membros familiares e nada poderia cobrar. Cobravam somente dos estranhos, dos amigos, parentes e vizinhos. Os irmãos casados igualmente tinham a obrigação de custear as despesas quando requisitavam trabalhos.
Uma boa moça, um bom par para o matrimônio, devia saber costurar, podendo ocupar-se, pelo menos, com as necessidades mais proeminentes da família. Esta poderia costurar as principais roupas ou concretizar os remendos imprescindíveis. Uma família colonial com esparsos ganhos não podia dar-se ao luxo de periodicamente ostentar gastos nesta área. As moças, com dedicação à profissão, podiam obter bons ganhos monetários e, em vésperas de casamento, podiam custear o enxoval. Os bens familiares da futura casa familiar, costumeiramente, eram adquiridos com esses ganhos. As senhoras costureiras, em diversos exemplos, complementavam os orçamentos domésticos, prestando serviços de costura a terceiros. Algumas moradias, em certas circunstâncias, adquiriam aparência de confecção, quando diversas agulhas, linhas, máquinas e tecidos espalhavam-se pelos inúmeros espaços residenciais. As contínuas visitas igualmente sucediam-se no desenrolar dos dias, pessoas iam e vinham. Os diálogos, neste ínterim, tomavam forma e os diversos acontecimentos e assuntos comunitários eram debatidos e difundidos. Um chimarrão, com alguns doces caseiros, circulava no ambiente, entretanto, as visitantes costumeiramente não se esqueciam de dar uma olhadinha no modelo de tecido ou vestido das amigas e concorrentes. As costureiras costumavam até comentar as inovações que podiam advir de novas modas.
As profissionais, mesmo com os ganhos e o “permanente clima recreativo”, não atuavam muitos anos na atividade, porque esta cansava excessivamente. Sucediam-se períodos com massivo trabalho, quando a labuta gerava um excessivo cansaço. Estas, durante dias e noites inteiras, ficavam em cima das tarefas e acabavam enjoando da profissão. As costureiras dedicavam-se à produção agrícola, quando uma nova candidata abraçava os pedidos. Esta parecia reescrever a trajetória, até que, nalgum instante, também desistia.
A derrocada definitiva das profissionais adveio nas décadas de setenta e oitenta, devido a propagação das indústrias de confecção nacional, que ofereciam e vendiam as vestimentas prontas. Elas tornaram mais econômico o produto e as costureiras não puderam competir neste mercado. Ceifou-se, desta forma, mais uma intensa e tradicional atividade pré-industrial rural, que é razão de diversas saudades e reminiscências.
* Fonte: Disponível no livro "OS COLONIZADORES DA COLÔNIA TEUTÔNIA: COLETÂNEA DE TEXTOS", páginas 214 e 215, de Guido Lang.
* Postagem: Júlio César Lang.
* PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998).
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