Guido Lang
O povo brasileiro tem muitas crendices e superstições, que refletem o quadro da miscelânea cultural. Inúmeras histórias são narradas de boca em boca, mas dificilmente ganham uma redação. O povo humilde dificilmente se dá o tempo e o trabalho de elaborar escritos, que descrevem a sua rica vivência.
Uma modesta família colonial tinha um pedacinho de terra próxima a um riacho, onde havia uma árvore centenária. A mulher, com frequência, ia ao córrego com o objetivo de lavar roupas, porque não existia encanamento de água na residência. Inúmeras idas e vindas faziam-se ao longo dum ano de penosa labuta.
A mulher, numa tarde, ouviu uma voz, que saía do fundo daquela terra, próxima do centenário vegetal. Esta, num primeiro instante, pensou tratar-se de alguém conhecido, mas olhou pelas redondezas e nada viu. Procurou prestar mais atenção em relação à procedência daquele chamado, que, vindo do solo, assustou-a tremendamente.
Esta, em meio aos temores, atendeu ao chamado, que dizia tratar-se de um indígena.
Um velho pajé, com a função de feiticeiro, profeta e sacerdote, tinha sido enterrado há décadas naquele espaço, mas sua alma ainda perambulava pelas redondezas daquele cemitério nativo.
A mulher achou tratar-se de um comunicado sobre a existência de tesouros.
As escavações, em poucos dias, iniciaram, mas não encontraram nada de valioso.
A família, por causa do trabalho, mudou-se para a cidade e os moradores do local acharam que esta tinha encontrado a ambicionada fortuna.
A coincidência de mudança tinha criado mais um conto colonial, no qual mesclam-se fatos concretos e imaginários.
Os seres humanos possuem mente fértil quando se trata de riquezas, pois histórias não faltam nas conversas informais sobre enriquecimentos.
Os próximos parecem ganhar sempre mais fácil o dinheiro do que a gente.
(Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página 19, de Guido Lang).
Crédito da imagem: http://caminhos-labirintos.blogspot.com
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