Guido Lang
Wilhelm, como a maioria dos colonos, era um pacato cidadão, que dedicou a vida à família e à atividade rural. Ele, como quase todos os filhos de imigrantes alemães, não teve maiores chances de escolher uma profissão liberal e de serviços, pois careceu de maiores oportunidades para prosseguir nos estudos.
As dificuldades monetárias mostravam-se constantes na infância: os pais ostentavam posses, mas careciam de divisas financeiras. Os genitores vieram à América com uma “mão na frente e outra atrás”, praticamente não trouxeram bens. O clima, o solo e o sistema de culturas necessitavam ser assimilados e o trabalho estendia-se de segundas a sábados. As folgas, no máximo, ocorriam aos domingos e feriados excepcionais. O cidadão, naquele mundo, assimilava, desde tenra idade, a filosofia de poupador e trabalhador, pois a prosperidade e o sucesso econômico poderiam decorrer unicamente do suor da labuta e de muita economia.
O colono, na vida adulta, veio a constituir família e continuou as atividades assimiladas dos ancestrais. A prosperidade herdada dos pais e uma bela moradia foi edificada com os dividendos auferidos das criações e plantações. Os filhos cedo vieram e reforçaram, na medida do crescimento, a força braçal familiar. Estes, num primeiro momento, pareciam refazer a trajetória paterna que era de nascer, crescer, casar, multiplicar-se e morrer, naquela realidade existencial.
Wilhelm, com a passagem dos anos, procurou fazer uma economia particular, com vistas a proteger-se dos infortúnios da velhice. Ele, conhecendo o lastro ouro e prata da moeda nacional (no período monárquico e primórdios da República), procurou avolumar um punhado destes metais. As divisas metálicas, durante algumas décadas, foram cuidadosamente juntadas e guardadas no baú familiar. O numerário veio a somar diversos quilos, que seriam a garantia diante dos azares da existência.
O morador, num dia destes, veio a falecer repentinamente. Os herdeiros vieram conhecer seu espólio e depararam-se com suas economias. Uma filha e genro, logo se adonaram das reservas, quando iniciaram brigas, falatórios e intrigas, em função do patrimônio.
O cidadão, geralmente, não precisa daquilo que amontoa e guarda com tanto zelo durante anos.
(Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página 19, de Guido Lang).
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