quarta-feira, 29 de abril de 2020

A PEDAGOGIA RURAL


Guido Lang

O ancião, no tarimbado do massivo trabalho braçal, repassou o assimilado dos ancestrais. Este, no desfecho da vida produtiva, reuniu filhos e “enxertos” (genros e noras). A razão, no modelo dos antigos, foi ensinar as manhas da manutenção da propriedade. As arrumações, nos diversos afazeres, foram repassadas nas aulas práticas. As podas foram ensinadas nos detalhes do outono. A horta no cuidado da extração de chás e verdes. O jardim realimentado na diversidade de plantas. O apiário sobreveio no extermínio das formigas... A instrução, no empírico, visou criar o apego ao ambiente. Cada membro, na dimensão da habilidade e gosto, ganhou sensata incumbência. A velhice, no anterior a derradeira partida, obrigou a repassar tarefas. A pessoa, nalgum momento, obriga-se a “pendurar as chuteiras”. A escola, no exercício de mestre, instrui através do modelo e treinamento prático. Os rurais, nos filhos em ajudantes e serventes dos pais, criam e despertam o gosto pelas atividades primárias.

* Livro: Ciência dos Antigos

* Postagem: Júlio César Lang


* Crédito da imagem: http://southeastagnet.com/

quinta-feira, 23 de abril de 2020

O APELO AOS SUBTERFÚGIOS

Cebola: Maravilha ao Alcance de Todos!

Guido Lang

A pandemia, no coronavírus, trouxe pavor e precauções. As pessoas, em determinação estatal sanitária, ficaram obrigadas a enclausurarem-se em suas moradas. Algumas, nos disseminados cortiços, enjaularam-se nos cubículos. Os externados, nas mídias sociais, eram de massivo avanço da peste humana. As maneiras, no combate ou inibição a praga, acorreram em velhos subterfúgios. O consumo, em alho, cebola, limão, entre outros artigos, acorreu na utilidade expressiva. O bálsamo alemão, em gostas, sobrevinha no jejum. O mel, no preparado das caipiras, sobrevinha como fortificante para os beberrões... A novidade, em cantos e recantos das moradas, sucedia na cebola. As rodelas, em especial nos quartos, diziam “puxar as doenças”. A gripe, no aroma impróprio, sobreviria afugentada do ambiente. O segredo, no sistema imunológico são, reside na resistência aos agentes do vírus. Os idosos, no especial, apelam à sabedoria dos antigos. A morte, em “batendo na porta”, conduz em instituir ações, porque a vida calha no dom mais precioso. A sorte convém reforçar na adversidade. As pessoas, no desespero, apelam ao imaginável e ao inimaginável.

* Livro: Ciências dos Antigos

* Postagem: Júlio César Lang

* Crédito da imagem: https://belezaesaude.com/cebola/

quarta-feira, 22 de abril de 2020

A GRANDE SURPRESA


Guido Lang

O moço colonial, em “pé rapado”, enamorou-se da elegante moça da cidade. Ela, em boa morada e cotejada a centenas, ganhou inesperada visita na frente do portão. O rapaz, na modesta bicicleta, externou proposta de galanteio. O intento, em namoro, viu-se no pedido. A resposta, na imediata irreflexão, foi o categórico “não”. O jovem, com o “rabo no meio das pernas”, tomou seu rumo ao trabalho. O propósito, na adversidade do amor, foi dedicar-se ao estudo e labor. A obsessão, em melhorar status, absorveu energias e tomou o tempo. Este, em sensata ocasião, inscreveu-se em afamado concurso e foi aprovado em destaque. Os auferidos, no serviço público, permitiram ganhar capital e instituir sólida empresa. Os assalariados, no variado, candidataram-se às vagas ao emprego. A moça, agora senhora, inscreveu-se para um posto. A escolha, em empregada, fez conhecer seu dono. A surpresa foi de fazer cair o queixo. Os contratados, em conversa informal, tiveram acesso ao proprietário. O antigo pretendente era agora seu patrão. O dono, no instante, reconheceu a beltrana e fingiu desconhecer transcorrido. A vida, em reviravolta, pregara uma esdrúxula peça. Procure, nunca dizer, “desta água eu não bebo”: eu posso pretender não beber. Avalie os semelhantes pelo caráter/qualidades e não pelas aparências e belezas. 

*Livro: Histórias Coloniais

* Edição: Júlio César Lang

* Crédito da imagem: https://amenteemaravilhosa.com.br/9-conselhos-superar-crise-no-relacionamento/

segunda-feira, 13 de abril de 2020

A CRENÇA DA CANTORIA

Ouviu o galo cantar mas não sabe onde - O Livre
Guido Lang

Os antigos, na vasta ciência das vivências, alimentavam a crença da cantoria. Os galos, nos contextos dos acentuados alaridos do “cocoricó”, advinham pelo pátio colonial. A conduta, na boa energia e imagem, parecia querer entrar portas adentro das moradias. Os coloniais, em tarimbados no convívio dos desígnios da natureza, estabeleciam sua sutil leitura. O comportamento, no instinto das aves, sinalizava o agouro de visitas. A família, em proveniente de distante paragem, receberia inesperada visita. Os galos, no acirrado dos ânimos, pareciam os pôsteres. Os moradores rurais, em finais de semana, reparavam comportamento e organizavam-se ao eventual imprevisto e surpresa. A natureza, no estudo das entrelinhas dos desenrolares dos sucedidos, esconde valiosos enigmas. O perito, no observar atento, vislumbra os desígnios do clima. A sabedoria, no acumulado de gerações e séculos, confirma a ciência: “A mão do Todo Poderoso perpassa no contínuo da avaliação da Sua Obra”.

* Livro: Ciência dos Antigos

* Edição: Júlio César Lang

* Crédito da imagem: https://olivre.com.br/ouviu-o-galo-cantar-mas-nao-sabe-onde

sexta-feira, 3 de abril de 2020

O MANUSCRITO PARAGUAIO


Guido Lang

Um morador rural recebeu uma correspondência do Paraguai. Este manuscrito encontrava-se redigido num espanhol que era de difícil leitura. O colono e familiares, por um bom tempo, debruçaram-se sobre os significados daqueles escritos, que pareciam indecifráveis para leitores de formação escolar primária. Procurou-se levar a carta à professora da localidade, que também incompreendia aqueles registros literários.
Alguém, depois de dias de reflexão e tentativas de elucidar o enigma, lembrou- se do farmacêutico. Este tinha muita prática de decifrar manuscritos, pois as receitas médicas vinham redigidas de uma forma extremamente penosa. O profissional, depois de uma breve olhada, parecia continuamente elucidar os maiores garranchos, quando receitava remédios aos pacientes. O Johann, farmacêutico tradicional do vilarejo e “pau para muita obra”, foi procurado para dar uma olhada naquela mensagem. Este, como de práxis e movido pela sua costumeira curiosidade, não se negou a fazê-lo.
O profissional autodidata, depois de alguns minutos, voltou às estantes da farmácia e começou a pegar remédios. Ele achou que se tratava de algum receituário médico, que era costumeiramente recomendado aos pacatos moradores coloniais. O colono, diante da postura, ficou atônito, porque nem estava interessado em adquirir qualquer medicação.
O sucedido veio a elucidar a aparente suspeita que esporadicamente era comentada nas comunidades circunvizinhas ao lugarejo. O farmacêutico, em diversas oportunidades, comercializava remédios impróprios, que nem tinham recebido recomendação. O vendedor, desta forma, re- solvia seu problema de produtos encalhados, que careciam de compradores. A história do Johann cedo correu as comunidades, que riram da sua infelicidade e malandragem.
Somos, em diversas circunstâncias e momentos da existência, ludibriados em função de artifícios e de ignorância. A confiança excessiva, em situações, acaba aproveitada para tirar vantagem, mas a verdade, cedo ou tarde, revela-se através dos fatos.

* Texto extraído de "CONTOS DO COTIDIANO COLONIAL" (2000), página 32, de GUIDO LANG.

* Edição: Júlio César Lang

O CAVALO CORREDOR


Guido Lang

O lazer colonial, até os anos de 1960, era bastante escasso no contexto das colônias, onde carecia-se das facilidades de comunicação e locomoção para os diversos eventos comunitários.
Os colonos, de maneira geral, divertiam-se nos bailes anuais das entidades, nas carreiras de cavalos, nos festejos familiares, kerbs, partidas de futebol...
Um esporte bastante apreciado eram as tradicionais corridas de animais, que se sucediam nos potreiros das colônias..
A multidão, nos eventos previamente divulgados, afluía maciçamente às competições, nas quais faziam-se vultuosas apostas nos animais. Um baralho (carteado), sobre um pelego estendido no chão, ganhava importância, nos intervalos da diversão, pois nem sempre havia cadeiras e mesas para as partidas improvisadas.
Os moradores submetiam-se à realidade de carências, porque desconheciam maiores confortos e vantagens naquele pacato e rústico modelo de vida.
Um apostador e o dono de um cavalo corredor fizeram um negócio para alimentar e investir no aprimoramento do excepcional bicho. O dono entraria com a mão-de-obra, com a finalidade de tratar o animal e com os rotineiros treinos de corrida. O fanático apostador entraria com o trato (alimento) no qual não poderia faltar a abundância do milho.
O colaborador caprichou no investimento, pois sentia paixão pela corrida de cavalos, e apostava suas economias no corredor de sua preferência. O dono, numa falcatrua, desviava o cereal para o trato suíno, enquanto o colaborador nem desconfiava do roubo. O cavalo, numa aparente combinação, ganhava somente as corridas de menor número de apostas e perdia aquelas de maiores quantias.
O colaborador perdeu muito dinheiro com a história e praticamente faliu no seu negócio particular até descobrir a veracidade do engano e roubo. A malandragem sempre existiu nas mais diversas e modestas organizações sociais, pois enganar e roubar parece fazer parte do gênero humano.

* Texto extraído de "CONTOS DO COTIDIANO COLONIAL" (2000), página 84, de GUIDO LANG.

* Edição: Júlio César Lang

quarta-feira, 1 de abril de 2020

O SUICIDA MASOQUISTA


Guido Lang

A vida depara-nos com inúmeras personalidades, nas quais incluem- se aquelas que sentem prazer com o sofrimento. Estes parecem adorar a auto-flagelação, assim como ocasionar incômodos alheios. As colônias também possuem este tipo de indivíduos que, momentaneamente, extrapolam a convivência comunitária.
Um colono resolveu tomar-se a vida, e fez referência aos propósitos. Amigos, familiares e vizinhos nem mais davam importância às “colocações furadas”. Alguns chegavam a interrogar sobre as razões daquele propósito, que estaria ligado a monotonia da existência. As dificuldades econômicas, carência de afeto familiar, trabalho excessivo eram causas, assim como doenças em função da chuva, ao frio, ao sol e ao vento na labuta rural.
A saúde, na juventude, parecia-lhe eterna, mas agora encontrava-se na velhice, sentindo os reflexos da imprudência. O rural, num belo dia, resolveu botar em prática seu palavreado. Pensou e refletiu muito em qual a maneira mais eficaz de ceifar-se a existência. Lembrou-se do poço fundo, que se localizava próximo à propriedade e do curso fluvial regional. O local, no verão, era aproveitado como balneário, onde alguns descuidosos pagaram a ousadia com a vida (em função de avançar excessivamente naquele poço).
O suicida, com o objetivo de confundir aqueles que viriam procurar o seu corpo, deixou seus chinelos nas pedras circunvizinhas ao poço fundo. Os colonos, depois do sumiço do morador, passaram a procurar o cidadão ou seu cadáver pela localidade, quando depararam-se com os artefatos de couro numa margem do rio. O suicídio naquelas águas parecia óbvio, que foram cuidadosamente vasculhadas. Homens-rã foram requisitados, mas nada de localizar o cadáver.
O curso fluvial, por quilômetros, foi percorrido em vão. Os abutres, dias depois, sobrevoaram a área e sinalizaram determinada putrefação. O cidadão tinha-se tomado a vida bem longe das pistas sinalizadas. Este valeu-se duma artimanha com a finalidade de confundir seus conhecidos.
O ser humano é capaz de empregar estratagemas esdrúxulos, quando almeja apagar pistas e confundir provas.

* Texto extraído de "CONTOS DO COTIDIANO COLONIAL" (2000), página 48, de GUIDO LANG.

* Edição: Júlio César Lang

* Crédito da imagem: https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g1927726-d7777798-i295971917-Tunel_da_Mantiqueira-Passa_Quatro_State_of_Minas_Gerais.html