segunda-feira, 30 de maio de 2016

O pavor do lobisomem


A invernia, na demasiada umidade, origina intensa cerração. O vapor d’água, nas baixadas e vales, mantém cerradas as paisagens e visões. Os carvoeiros, na queima acirrada das lenhas (em fornos), instigam moléstias e temores. A fumaça, na mescla do prodígio humano e natural, cria cheiroso e tenebroso ar e negrume. O lobisomem, nas ambulações das retiradas linhas (Germana Fundos/Teutônia/RS e Linha Brasil/Paverama/RS), “entra no parafuso” e sufoco. A respiração, na imprudência, institui mal estar n’alma. O fator animal, na discreta e retraída criatura, altera psique. A atmosfera, nos devassados rumos (na contraída fuligem), induz na moléstia. A indisposição, na paragem, demuda gênios e impulsos. Os cães, na analogia canina, dobram-se no desenhado do pseudo-homem. Os alertas, nas incursões, conferem cochilo. O alvo, na carne e sangue, incide nos contratempos. A ficção, na anomalia da conduta, instituiu conto e mito. As pessoas, no sobrenatural, aferem bisbilhotice e receio.

Guido Lang
“História das Colônias”

Crédito da imagem: http://ultradownloads.com.br/papel-de-parede/Neblina-Tomando-a-Paisagem/

sábado, 28 de maio de 2016

A invasão dos brutos

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O lavrador, nas andanças do domínio, reparou anomalia e milagre. As bergamotas e laranjas, no alastrado do bosque, assistiram-se roídas na ímpar agilidade e fartura. Os ares ternos, no exagero, perpassavam na arte. Os caminhos, no espesso das trilhas, eram tomados de rejeitadas cascas e pomos. A raridade, na proeza, adveio na apuração da autoria. A surpresa, na invasão de farto bando, calhou em desaforados símios. Os macacos, em mico leões, haviam sido extintos na conquista. Os estragos, nos plantios, induziram ao artifício. O reflorestamento, na abdicação de extensões agrícolas (em encostas e minifúndios), seduziu no chamarisco. A convivência, entre brutos e lógicos, retoma original dificuldade. Os grupos, no imaturo, arruínam e danificam quaisquer itens. Os animais, na dor da fome, invadem gama de espaços. A prudência, no afastar, calha em largar foguetes e rojões. A natureza, na dimensão das condições, repõem aparentes extintos e recursos.

Guido Lang
“Histórias das Colônias”

Crédito da imagem: http://www.micoleao.org.br/

A rígida direção


As ascendências, em filhos das colônias, advinham na dezena de rebentos. As amplas estirpes, na propriedade minifundiária de subsistência, caíam na disposição de descendência e mão de obra. O sustento, em modestos recursos, ocorria no aipim, arroz, carne, feijão, salada... Os irmãos, na extensão do incremento, auferiam ativa e rigorosa direção. O princípio, na destreza e reafirmação contínua, defendia dos “maiores cuidarem dos menores”. A conduta, na convivência, atestava guarida e segurança. O padrão, em agilidades, advinha em excursões em eventos e linhas, incursões em matos e brejos, tarefas com ferramentas e veículos... Os progenitores, na extensão da ausência, incumbiam direção e ocupação. O encargo, em ambíguos, recaía na cobrança. O exercício, no treino, acentuou afeições e confianças. A bandidagem, na catequização, mostrou-se esparsa. As dificuldades, no método, afinavam instinto da sobrevivência. O adágio descreve: “Dê pequeno que se torce o pepino”.

Guido Lang
“Histórias das Colônias”

Crédito da imagem: http://www.mundoboaforma.com.br/

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Os fluidos da terra


A anciã, no cuidado e manejo da horta, estabeleceu ciência e sorte. As plantações, na faina diária de constituída hora, acodem na farta e saudável produção. Os consumos, nos artigos frescos, conduzem no bem-estar e economia familiar. O pormenor, na transplantação e semeadura, acompanha horário do entardecer. O plantio, no crepúsculo, segue as energias e fluidos da terra. A umidade, na absorção noturna, ocorre na devida e fácil proporção. O alento, noutro dia, transcorre no incremento e rejuvenescimento. O ressecamento, na carência solar, sobrevém na ínfima magnitude. Os cultivos, na luminosidade lunar, adotam critério das fases. Os frutos, no abaixo do solo, advém na ausência do brilho e, acima, na presença do fulgor. Os azarentos, na pressa, amanham em quaisquer jeitos. Os exitosos, no artifício, labutam na efervescência das torrentes. A aparente insignificância, na minúcia inicial, transcreve exacerbada diferença no desfecho das tarefas.

Guido Lang
“Histórias das Colônias”

Crédito da imagem: http://dadivasdaespiritualidade.blogspot.com.br/

A antecipação das provisões


O lavrador, no interior da propriedade, ergueu casa nova. A localização, na beira da estrada geral, incidia na transferência das instalações. O filho das colônias, na instrução dos antigos, antecipou-se nas provisões e tarefas. A produção, em gêneros alimentares, viu-se farta ao consumo. Os auxiliares e pedreiros, na hospedagem familiar, requeriam fartos e fortes sustentos. Os afazeres, em massa, pedra e terra, absorvem alento e alma. Os cultivos, no básico, recaíram no aipim, arroz, banana, batata, feijão... As criações, no principal, sucederam nas carnes de aves, bovinos e suínos. A parceira, no cerne da horta, caprichou nos condimentos e saladas. O manobro, no fogão de lenha, incidiu no capricho e empenho. O custo, na acastelada reserva, reduziu compras no comércio. A residência, na primeira a última pedra, transcorreu nas mãos do patrão. O empreendimento, no exclusivo outono-inverno, assumiu vulto no cenário. A precaução, no efetivo exercício, constitui ciência e economia.

Guido Lang
“Histórias das Colônias”

Crédito da imagem: http://ruralcentro.uol.com.br/

terça-feira, 17 de maio de 2016

A evolução comunitária


A comunidade distrital, na onda da facilidade das emancipações, decidiu pela autonomia política-administrativa. Lideranças comunitárias uniram-se no comum propósito!
O plebiscito, entre o sim e não, acentuou divisões. Os moradores, nos seios familiares, apoiaram ou combatiam a emancipação. O sim venceu na folgada margem!
As consequências advieram na massiva urbanização. O lugarejo acabou invadido pelos forasteiros. As construções, na variedade de prédios, espalharam-se nos cantos e recantos!
A valorização imobiliária assumiu “ares de insanidade”. As famílias, sitiadas no distrito, conheceram a valorização das terras. Os filhos e netos enriqueceram nos leilões dos espaços!
Os loteamentos, em antigas propriedades coloniais, pipocaram aos quadrantes. Os lucros, em esbeltas mansões e suntuosos veículos, foram investidos nas satisfações!
Os avanços, nos serviços públicos, acentuaram-se nas sucessivas administrações. O progresso trouxe a desfiguração nos padrões e valores locais!
O destino, na vida, precisa ajudar no sucesso financeiro. A evolução, nas disposições comunitárias, costuma guiar as resoluções!

Guido Lang
“Crônicas das Colônias”

Crédito da imagem: http://www.circuitomt.com.br/

terça-feira, 10 de maio de 2016

Os plantadores de floresta


Pacatos colonos, extraviados entre encostas, morros e vales das inúmeras localidades, realizavam um trabalho insano. Estes, a partir de 1970, levam um novo colorido ao cenário colonial, quando as áreas agrícolas, outrora roxas no período de plantio, ganharam um verde definitivo.
Um trabalho silencioso, praticado no cotidiano dos dias semanais, encheu de árvores as antigas lavouras. A acácia e o eucalipto, numa floresta reflorestada e rejuvenescida, cobre o cenário das roças, que, numa labuta braçal, foi duro conquistar pelos pioneiros. O antigo chamado dos bois, no empenho da aração ou transporte de carroça, deu espaço ao ronco de motosserras, que extraem dividendos do plantio de mato. As fumaças, nos cantos e recantos, vêem-se subir no interior das propriedades, quando utilizam a matéria-prima à fabricação do carvão vegetal. Caminhões, volta e meia, cortam as estradas coloniais ou comunitárias, no que vêem-se carregados de madeira.
O tamanho da odisseia aprecia-se a partir de alguma encosta, quando um verde de árvores estende-se por quilômetros. Um quadro real da mudança de ciclo econômico, no que o minifúndio ganhou novos ares. As culturas anuais, praticadas por décadas, caíram no desleixo diante da inovação e mecanização agrícola, quando as encostas de morros e pequenas propriedades não puderam competir com os latifúndios do Brasil Central. Uma visão indescritível há décadas para aqueles que tiveram o privilégio de conhecer a pujança agrícola do passado. Os novos tempos acompanham o rejuvenescimento da fauna, que, com abundância de matas, ganham novo alento e refúgio.
Os plantadores, através de intensiva procura nos viveiros, não finalizaram sua façanha, quando novas áreas, a cada safra, conhecem o cultivo arbóreo. O comércio da madeira promete ser um negócio bilionário, quando os asiáticos precisam de matéria-prima, a sociedade de papel e o mundo de ar. O Vale do Taquari faz sua parte na recomposição da natureza.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03
01 de outubro de 2005

Crédito da imagem: http://agrobrasiltv.com.br/

domingo, 8 de maio de 2016

O ardil desportista


O esporte amador, no espaço dos anos de 1950 a 1990, ganhou expressão e paixão nas colônias. As agremiações esportivas, nos organizados das variáveis linhas, compunham intercâmbio das quadras e quadros.  Os moradores, no alterado público, aglomeravam-se nas cercanias das arenas de várzeas. O assinalado atleta, no escasso tempo, exteriorizou comentários e simpatias. A galera, no reservado do mulheril jovem, acorria no abano e alegria. O ardil, na vibração, incidia na falta do uso de cueca. O largo calção, na intencional alevantada das pernas, expunha de “forma saliente utensílio íntimo”. O público, no acobertado artifício e palhaçada (no clima social conservador), torcia na disputa e exposição da volúpia. Os comentos, na ousadia, “corriam falas e orelhas”. O atleta, no “fecho do caixão”, avultou alusão e riso do transcorrido. As pessoas, no feitio latino e variável, contraem auréola e registram história. Os procedimentos, no alegórico, declinam em gargalhadas e memórias.

Guido Lang
“Histórias das Colônias”

Crédito da imagem: http://tudo-em-futebol.blogspot.com.br/

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Um clarão de luz


A memória colonial ostenta uma explicação com relação à origem do nome de Estrela. A municipalidade, de 1876-1983, foi município mãe de Teutônia e Westfália, quando era muito conhecida pelo espírito de trabalho e índices de alfabetização. Inúmeros teutonienses, com relação à naturalidade, nasceram nesta próspera comunidade, quando, no período escolar e seio familiar, escutavam o relato.
Os europeus, na sua empreitada de europeizar o continente americano e extrair riquezas, foram incursionando interior adentro. Estes, de maneira geral, valiam-se dos nativos catequizados ou civilizados com razão de orientá-los nos campos e florestas. Os rios eram os caminhos naturais, que levavam e traziam os desbravadores e caçadores (de índios e metais).
A tradição oral narra-nos que um punhado de europeus, num belo dia, lançou-se aos rios da bacia do Jacuí. Estes, por dias ou semanas, defrontaram-se com os rigores das chuvas de inverno, quando a carência de sol e excesso de umidade importunavam as pacatas almas. Estes pioneiros, na subida do curso do Taquari, defrontaram-se com céu nublado, quando um barqueiro, numa altura próxima a atual localização de Estrela (margem direita), visualizou um clarão de luz. Este, no instinto de alegria e satisfação, teria gritado: “– Olha lá! Uma Estrela.” Os companheiros advieram para presenciar o fato, quando decorreu a denominação. A curiosidade persiste do feixe de luz ter sido o reflexo do espelho da água do Taquari, ou mesmo, ser um astro de luz própria.
O município, com o afluxo posterior dos imigrantes, tornou-se um orgulho de progresso e trabalho, quando virou referência de colonização em terras americanas. Possui uma denominação sui generis, quando comparado aos nomes de origem indígena ou religiosa; uma luz que irá brilhar por muitos séculos para muitas gerações.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03
17 de setembro de 2005

Crédito da imagem: http://vanezacomz.blogspot.com.br/

terça-feira, 3 de maio de 2016

As marcas do passado


Umas gerações de pioneiros plantaram áreas por décadas como minifúndio diversificado. Estes, com as necessidades de suas épocas, precisaram criar e inovar com obras, que, de forma artesanal e braçal, foram introduzidas nos morros e vales.
Adveio a modernização tecnológica e urbanização progressiva, no que as elevações viram-se abandonadas do trabalho rural. As descendências, em boa parte, migravam às cidades e a mata rejuvenescida veio a reocupar o espaço. A Floresta Subtropical Pluvial cresceu, porém manteve “os rastros de civilização de outrora”. Os vestígios, em meio às árvores e cipós, fazem-se presentes nas áreas das antigas roças.
Observam-se as pegadas no trajeto das estradas coloniais; nos passos (passagens) dos arroios aterrados com pedra; nos poços cavados ou surgidos nas encostas; nos reservatórios de água escavados (para oferecer líquido aos bois); nas curvas de nível reforçadas com rocha; nos escoadouros de água das chuvas (nas periferias das plantações); na introdução de plantas exóticas nos lugares devastados; na criação de mini-pomares de citrus (bergamoteira, laranjeira, lima, limão) nas periferias dos caminhos; nas divisas de propriedades entre vizinhos; nas pedreiras abandonadas de extração de pedras-grês; nos desvios, quedas da água ou represas improvisadas nos arroios; nas marcas de edificações abandonadas... Os observadores podem lançar ideia de grandiosos feitos desta pacata gente, que dedicou anos ou a vida para concretizar tarefas insanas. Muitos procuraram realizar tarefas que pudessem beneficiar gerações. A mudança de hábitos e valores de vida levou ao abandono desses legados, que, no entanto, revelam conhecimento e grandeza de espírito dos ancestrais.
As gerações deixam rastros da sua odisseia terrena; precisamos “ostentar conhecimentos e olhos” para apreciar os feitos. A natureza, em muitos casos, reconquista seu espaço, porém deixa intactas marcas da passagem humana.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03, edição 35
19 de agosto de 2005

Crédito da imagem: http://novaexpedicao.blogspot.com.br/2011/09/o-dia-em.html